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Como trabalha Vladimir Campos

8 de abril de 2017 by José Nunes

Vladimir Campos é economista, autor de Organizando a vida com o Evernote e Consultor Certificado Evernote (2014).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Começo sempre fazendo um café na minha AeroPress. Todo santo dia. Inclusive levo ela comigo nas viagens. Enquanto tomo o café, leio as notícias do Brasil e do mundo no celular via Twitter. Ao longo dos anos construí meu próprio jornal seguindo parte da mídia oficial em português, espanhol e inglês; alguns blogueiros; alguns youtubers, pessoas interessantes e outras divertidas. Depois vou trabalhar.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Acredito que hoje em dia todos estamos sempre envolvidos com muitos projetos, mas depois de ler vários estudos científicos a respeito, jamais trabalho em multi-tarefa. Tem que ser uma coisa de cada vez. E para que eu possa estar imerso em cada uma dessas atividades no seu devido tempo, separo tudo em Cadernos no Evernote. Assim, se estou fazendo algo, dou foco total.

Para o trabalho em si, uso a Técnica Pomodoro. Funciona muito bem, mas é preciso priorizar o que fazer e organizar o trabalho antes. Não adianta sair “matando tarefas”, é preciso ter um objetivo e um determinado caminho para chegar lá. Esse é um ensinamento que herdei do Scrum. Aliás muito da minha forma de trabalhar é inspirada no Scrum.

Para definir as tarefas prioritárias, utilizo uma regra simples que descrevo em mais detalhes no vídeo “Afinal, o melhor é começar pela tarefa mais difícil ou a mais fácil?”. Em resumo, o que tem mais valor para atingir objetivo, é feito primeiro.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

A Técnica Pomodoro sugere desligar todas as notificações e é isso que eu faço. Na verdade nem mesmo uso WhatsApp e tudo no meu celular está com notificações sonoras 100% desligadas. Me guio apenas pelos número que aparece nos ícones do iOS ou barra de notificações do Android.

Não tenho filhos pequenos ou outra situação na minha vida que possa gerar uma emergência e simplesmente desligo tudo, escolho o caderno do Evernote no qual estão as informações daquilo que pretendo trabalhar e mergulho nele usando o cronômetro do Pomodoro.

As ferramentas que uso são o pacote G Suite e o Evernote. Mas estou sempre experimentando ideias e métodos no Trello e Todoist porque para muitas pessoas e empresas é mais eficiente usar um aplicativo dedicado para gestão de tarefas. E estou sempre experimentando novidades. Como meu trabalho é de consultoria, preciso conhecer bem diversas ferramentas.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Meu tempo é dividido entre o home office e os escritórios dos meus clientes. No home office não preciso de silêncio total, mas dependendo do tipo de barulho, me atrapalha sim. Quando há muita função na casa vou para um café. Gosto do ruído dos cafés, mas no home office e no café sempre trabalho com fone de ouvido.

Nos meus clientes, é totalmente diferente. Ou estou em reunião com eles ou estamos trabalhando na implantação de alguma solução. Portanto é algo que naturalmente exige uma dinâmica de conversas e envolvimento de muita gente.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Ideias e criatividade só acontecem quando acumulamos conhecimentos. Preferencialmente variados. Viajo sempre que posso e sempre busco mergulhar na cultura local. Você nunca vai me ver em um ônibus turístico a caminho de um ponto turístico. É claro que visito esse pontos, mas fazem parte da minha imersão cultural. Vou pegar um ônibus comum, metrô ou caminhar até lá enquanto estou me perdendo pela cidade, conversando com pessoas e procurando absorver o máximo de cultura daquele local.

Também leio muito! Adoro meu Kindle. Assim como a AeroPress, ele viaja sempre comigo. Além disso, acompanho alguns sites e canais no YouTube que compartilham curiosidades e conhecimentos variados.

Além de tudo isso, procuro sempre entender em detalhes o trabalho dos meus clientes. Além de ser parte do meu trabalho, realmente gosto de compreender o máximo de coisas. Eu diria que meu conhecimento é muito variado e isso me ajuda demais.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Como diria um autor que adoro, Fernando Sabino, “o que não tem solução, solucionado está”. É mais ou menos isso. Não há muito o que fazer nesses casos. Penso que o perfeccionismo, o não-corresponder às expectativas e ansiedade podem ser parcialmente controlados com treinamento e venho fazendo isso ao longo dos anos.

Ainda tenho problemas com os três, mas não são mais fantasmas que me assombram. Eu diria que são receios que todos nós temos em algum grau. Não há muita opção. Todos vamos errar e o mais sensato a fazer é aprender com o erro e seguir adiante.

Sobre o bloqueio criativo, tento lidar usando algumas técnicas. Por exemplo, não adianta ficarmos em cima de um problema que não estamos conseguindo resolver. Nosso cérebro funciona melhor com intervalos ou alternância de projetos. O que faço nesses casos é descansar a cabeça mudando de projeto.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Você dificilmente vai encontrar algum conteúdo meu falando sobre procrastinação. Sinceramente, não existe mágica. É sentar na cadeira e trabalhar. Métodos e técnicas ajudam, mas se a pessoa não começa, nada disso adianta.

Mas posso te garantir uma coisa, quem coloca os projetos em ação está muito melhor do que aqueles que ficam enrolando e reclamando que nada dá certo. Errar é tão importante quanto acertar. Aliás, em alguns casos é até mais importante. E a gente só erra tentando.

Cada um de nós é resultado de nossa própria dedicação.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Gosto muito de biografias e prefiro as autobiografias porque me sinto conversando com o autor. Também gosto de entender as coisas e por isso prefiro os livros que explicam a história de algo.

Inclusive uma vez comprei um livro justamente por conta de um comentário negativo de apenas uma estrela na Amazon. A pessoa reclamava que o autor passou muito tempo explicando como surgiu o método em lugar de explicar o método. Comprei na hora. Penso que entender é algo fundamental.

Além de biografias, gosto dos livros que falam sobre algoritmos, comportamento humano, estatísticas etc. Não os cheios de números, mas os que são apenas textos descrevendo resultados. Considero esse conteúdo muito mais válido que métodos e técnicas. Saber como pensamos e agimos é mágico. Fica mais fácil fazer as coisas e ensinar as pessoas a serem mais eficientes e produtivas.

Muitos livros foram inspiradores, mas em termos de abrir minha mente para explorar esse mundo de comportamento humano o livro On Intelligence, escrito por Jeff Hawkins, um dos fundadores da Palm, é definitivamente um marco.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Não desista da web!

Desde que a Internet era algo raro eu já havia acessado alguns sites no computador de um tio que era professor universitário. Imediatamente ficou claro para mim que aquilo era o futuro. Mas estamos falando de um outro Brasil e de um contexto bem diferente do atual em que a rede é muito mais disseminada.

Em 2001, eu tinha 28 anos e já vinha investindo nesse espaço há alguns. Em outras palavras, já havia gasto muito tempo e dinheiro com a rede. Quando eu finalmente comecei a deslanchar, veio o estouro da bolha nos EUA e isso foi igualmente avassalador no Brasil.

Algumas pessoas que conheço daquela época continuaram insistindo e entraram embalados no mundo das redes sociais enquanto eu abria mão de tudo isso. Queria paz. Para que você tenha uma ideia, nem Orkut eu usei. Criei uma conta muito tempo depois do surgimento e nunca me envolvi com a rede.

Enfim, não resisti e, mesmo ignorando o Orkut, em 2005 já começava a engatinhar novamente com meu primeiro podcast, o VCP (Vladimir Campos Podcast). Mas foi um retorno tímido. Só por volta de 2008 a 2010 é que comecei a me dedicar com intensidade ao mundo online. Hoje, em retrospectiva, sinto que o trauma da bolha foi bem maior do que eu havia me dado conta na época.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Não costumo fazer listas de livros que quero ler. Vou lendo os que acho interessantes de recomendações vindas de entrevistados em podcasts ou personalidades que admiro. Projetos tenho alguns, mas o próximo da lista é um livro com todos esses elementos do meu sistema de trabalho. Ainda está no campo das ideias, mas gostaria de concluir esse ano.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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