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Como trabalha Victor Octaviano

10 de abril de 2017 by José Nunes

Victor Octaviano é um dos mais renomados tatuadores do estilo aquarelado.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Normalmente acordo por volta das 6:30, e só depois que entro debaixo do chuveiro é que desperto de verdade. Acordo a Celita, minha namorada, tomamos um café preto ou um chá e vamos passear com o nosso cachorro. Três vezes por semana pratico natação. Isso é o que faço todos dos dias antes de ir para o estúdio.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Depois de muito tempo aprendi que funciono melhor com uma rotina pré programada. Desde quando comecei a trabalhar como autônomo sempre me enrolava com compromissos e tarefas, hoje estabeleci um cronograma com dias de folga, de estudos e diminuí a quantidade de trabalho. Dessa forma aumentei a qualidade do atendimento como um todo.

Por isso sempre que surge alguma ideia ou proposta de projeto penso se aquilo vai me trazer algum aprendizado ou melhoria. Analiso se vou conseguir cumprir o prazo para realizar dentro do meu ritmo e sem prejudicar outros projetos em andamento. Além de sempre priorizar aquele que acredito ser o mais importante no momento.

Foi difícil no começo, mas precisei aprender a dizer não para muitas coisas. Uma frase que me ajudou muito a entender isso é “todo não esconde um sim, e todo sim esconde um não”, só não me lembro onde li ou ouvi.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Muito do que faço está ligado diretamente com a tecnologia, seja na pesquisa de referências, divulgação. Acredito que sem ela não faria o que faço, ou pelo menos não como faço.

Atualmente conto com a ajuda da Fernanda, minha amiga e assistente para responder meus e-mails. Então o que me toma mais tempo são as redes sociais, que uso para divulgação e para acompanhar artistas que admiro e tenho como referência.

Para ajudar a organizar meu dia uso aplicativos como google agenda, bloco de notas e programo postagens nas redes sociais.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Por muito tempo trabalhei dividindo o ambiente com outras pessoas e gosto disso pela interação. Mas cada vez mais sinto necessidade de um espaço silencioso para focar. Já para tatuar, por exemplo, gosto de conversar durante o processo e aprender coisas novas com os clientes, dar risada. Isso não me atrapalha porque considero o ato de tatuar algo operacional e automático. Já para conceber a ideia do que vou tatuar, para pintar, desenhar, ler, ouvir palestras, enfim, para qualquer processo criativo ou de estudo preciso ficar sozinho. Se alguém estiver perto, mesmo que não fale comigo, perco a concentração. Gosto de entrar completamente no que estou fazendo.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Acredito que as ideias estão em toda parte. Gosto de conhecer biografias, ver filmes, ouvir músicas, filosofar. Acho que as ideias surgem da mistura de tudo que observo, penso e que a curiosidade de aprender coisas novas é um do maiores componentes para a criatividade.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Quando estou em uma fase de bloqueio procuro não forçar, ficar em frente a um papel esperando a coisa acontecer. Vou fazer outra coisa, até encontrar algo que me inspire, seja ouvindo uma entrevista, lendo um livro, ou em uma conversa de bar.

Sobre o perfeccionismo não acredito na perfeição, na minha opinião ela pode ser um limite pra quem acredita nela, o que me esforço é para sempre aumentar minha média, e nunca fazer nada menos que a minha capacidade.

A ansiedade é um demônio difícil de dominar, por isso procuro ver as coisas como uma construção e não imaginar elas prontas. Dessa forma fico menos ansioso.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Não sei se posso chamar de técnica, acho que se encaixa melhor em amadurecimento. Tento fazer as coisas no meu tempo e não abraçar o mundo. Assim fica mais fácil de realizar as tarefas.

Antes me envolvia em dez projetos ao mesmo tempo, quase sempre realizava menos que a metade e de uma forma negligente. Agora prefiro me envolver em um ou dois, no máximo, e dar o meu melhor, para só depois partir para os próximos.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Na verdade um texto teve grande impacto na minha forma de viver foi um texto atribuído a Charles Chaplin que se chama “quando me amei de verdade”.

Biografias de pessoas que fizeram diferença em suas áreas, ou no mundo, me inspiram muito, sempre que me encanto com uma dessas pessoas procuro saber o máximo possível sobre elas.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Um conselho que gostaria de ter ouvido seria “faça o que acredita ser certo sem medo de errar”. Se eu estivesse começando hoje com o conhecimento que tenho, perderia menos tempo tentando agradar aos outros fazendo o que acham ser o correto.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Quero ouvir a história de vida da pessoa que vou tatuar, e a partir do que eu ouvir quero conceber um animal ou criatura para tatuar nela. Como uma espécie de guardião ou símbolo mesmo. Me imagino tatuando somente dessa forma em alguns anos.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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