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Como trabalha Sofia de Assunção

16 de maio de 2017 by José Nunes

Sofia de Assunção é coach PNL e facilitadora de processos de Des-Coberta.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Eu gostava muito de poder dizer que começo todos os dias com uma rotina matinal equilibrada e sã, mas não seria verdade. A verdade é que criar essa rotina tem sido um verdadeiro desafio para mim desde que iniciei a minha jornada de empreendedora e mais ainda desde que fui mãe. Dois dias da semana, eu dedico-me inteiramente ao meu filho. Nesses dias, as minhas rotinas giram em torno dele. Nos restantes três dias da semana, dedico-me exclusivamente ao trabalho. Nesses dias é mais fácil para mim respeitar uma rotina. O que faço é que procuro cuidar em primeiro lugar de mim e da minha higiene (desde que fui mãe, é fácil deixar-me para segundo plano então nesses dias tento contrariar isso). Depois tomo o café da manhã, arrumo a cozinha, faço a cama e quando já está tudo arrumado, sento-me para a minha rotina espiritual. O que faço é que escrevo no meu Diário da Gratidão, medito ou rezo (conforme o que sentir que faz sentido para mim naquele momento) e estudo um pouco do livro Um Curso Em Milagres. A partir daí, inicio o meu dia de trabalho.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Sim, eu tenho sempre vários projetos a acontecerem em simultâneo porque a diversidade é algo importante para a minha felicidade profissional. Porém, sei que tenho tendência em querer assumir mais projetos do que o tempo me permite e por isso tenho aprendido a “podar”, isto é, a eliminar projetos que tiram mais potência do que trazem. Tenho aprendido também a dizer “por agora, não posso assumir isso”. Assim, sinto que não estou a fechar portas a novas oportunidades, estou apenas a dizer “fica para mais tarde”.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

A minha relação com a tecnologia melhorou muito nos últimos anos. Eu acordava com o celular na mão e adormecia com ele na mesa de cabeceira. Hoje, se não for por motivos profissionais, esqueço-me facilmente dele. Esta minha relação de hoje com a tecnologia resulta de muitos anos em que a tecnologia foi a minha principal companhia. Isso saturou-me muito porque percebi que passei muito tempo da minha vida a observar a vida dos outros a acontecer e a sentir-me inspirada com isso ao mesmo tempo que me esquecia de viver a minha! Hoje percebo que a tecnologia era a minha principal companhia porque a minha vida estava vazia de si mesma. Hoje quero estar mais presente na vida e sinto que a constante presença nas redes sociais impede que isso aconteça.

Quanto ao e-mail, eu não deixo que ele interrompa a minha vida produtiva. Como não recebo toneladas de emails, decidi que apenas consulto as minhas caixas de correio duas vezes ao dia. Fora esses momentos, raramente volto a aceder a elas.

Para me manter organizada, eu gosto de ser minimalista. Utilizo uma agenda em papel (funciona melhor para mim do que a agenda digital) e escrevo tudo nela: objetivos anuais, mensais, semanais e diários, tarefas a cumprir durante a semana, atendimentos de clientes, projetos que estejam a acontecer… Tiro tudo da cabeça para o papel. Isso ajuda-me a ter mais clareza nas ideias e a sentir-me mais tranquila, sem receio de me esquecer de algo importante.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Eu trabalho maioritariamente a partir de casa, onde tenho um pequeno escritório e preciso de estar em silêncio para trabalhar. Por vezes, gosto de trabalhar em locais públicos, como a biblioteca municipal. Aí posso trabalhar com outros empreendedores como eu e sinto que isso é importante para mim, sobretudo no que respeita a projetos que partilho com outras pessoas, de forma a manter a motivação e uma visão comum dos mesmos.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

As minhas ideias vêm de todo lado: de uma conversa com uma amiga, de uma sessão com um cliente, de um vídeo no youtube, de um post no facebook, de um livro, de uma reflexão interna… Sinto que para fazer o que faço, eu preciso estar em constante processo de investigação interna e isso, por si só, cultiva a minha criatividade.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

O perfeccionismo deixou de ser um bloqueio para mim quando percebi que se estivesse à espera de ter um projeto profissional perfeito, ainda hoje não teria começado. Penso sempre que sei o que seria perfeito, mas que o importante agora é fazer o possível. Então foco-me em fazer o possível.

Quanto ao medo de não corresponder às expectativas, isso é algo mais difícil para mim porque passei grande parte da minha vida a procurar agradar aos outros. Ainda que as mudanças que fiz na minha vida e no meu trabalho nos últimos dois anos tenham contrariado essa minha tendência, a verdade é que dou muitas vezes por mim a fazer aquilo que eu penso que as outras pessoas vão gostar de ver. Nesses momentos relembro-me que a Verdade vem de dentro para fora e não ao contrário e procuro questionar-me sobre o que faz sentido para mim naquele momento. E tenho percebido que recebo muito mais amor e aceitação quando faço o processo nesse sentido, de dentro para fora.

Quanto a projetos longos, tenho imensa dificuldade em manter a motivação. Como gosto de ter vários projetos a acontecer ao mesmo tempo, quando a motivação baixa num determinado projeto a longo prazo, surgem-me logo muitas outras ideias para outros projetos interessantes e sabotadores. Uma das estratégias que tenho utilizado para lidar com essa minha dificuldade, é juntar-me com outros empreendedores em espaços de trabalho coletivos. O facto de ver outras pessoas a trabalharem de forma concentrada ajuda-me a manter o foco naquele projeto.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Sempre que me vejo a procrastinar, eu questiono-me sobre o sentido que aquele projeto tem para mim, sobre o que me mantém motivada nele, sobre o “para quê” de eu estar a fazer o que estou a fazer. Já me aconteceu perceber que eu estava afinal envolvida em algo que não fazia sentido para mim. Para além deste questionamento, que para mim é essencial, eu utilizo também a técnica do pomodoro, que me ajuda a manter-me focada numa mesma tarefa durante vinte e cinco minutos e que me libera outros cinco para eu me dedicar a uma tarefa mais curta e rápida que faz igual sentido para mim.

A palavra produtividade gera em mim alguma ansiedade. Induz em mim a ideia de que eu tenho que estar sempre a produzir, que nem uma máquina. Só que eu não sou uma máquina, eu sou um ser humano. Então o meu grande desafio tem sido perceber como posso produzir respeitando sempre a minha humanidade.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Não consigo dizer apenas um livro que tenha mudado a minha vida. Posso no entanto dizer que Eckhart Tolle e Louise Hay foram os primeiros autores que eu li e que vieram transformar a minha percepção da realidade. O livro Um Curso Em Milagres tem sido também um livro que me tem acompanhado nos últimos anos. Tenho estudado os seus complexos ensinamentos e sinto que estou apenas no início. Ainda assim sinto que me tem ensinado a questionar a mente que mente! Qualquer livro que toque o desenvolvimento pessoal e espiritual é apaixonante para mim. Há dez anos que eles são praticamente os únicos livros que leio.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Gostaria de ter ouvido “Não tenhas pressa de viver tudo já, de alcançar tudo já. O teu foco deve estar antes em preparares-te, em estares pronta para quando alcançares o que queres alcançar”. Sinto que sofri e sofro por querer que tudo aconteça já e o que tenho percebido é que sempre que alcancei rapidamente aquilo que ambicionava, raramente estava efetivamente preparada para tal, o que me trouxe muita dor. Tenho percebido que o tempo é uma ilusão do ego, que a idade é uma ilusão do ego. Que quem nos diz que temos que conseguir aquilo já é a nossa mente. Nenhuma árvore força os frutos a virem mais cedo e quando a mão do homem manipula isso, raramente o fruto sai bom ou é saudável. Treino-me a respeitar o tempo da Natureza, a respeitar o período de gestação de cada coisa, a confiar que tudo acontece no momento certo, quando todas as condições estiverem reunidas!

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

A questão para mim é mais que projeto você gostaria de fazer mas ainda não terminou. Começo tanta coisa ao mesmo tempo que depois fica difícil para mim finalizar alguma coisa. Então para mim, neste momento, trata-se mais de finalizar alguns projetos do que iniciar novos! Quanto ao livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe é o meu próprio livro, um livro que iniciei há dois anos atrás mas que tem evoluído tanto comigo que não consegui ainda fechar o projeto. Sinto que ele ainda está em gestação e que o momento do parto ainda não chegou!

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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