Serginho Rezende é produtor de áudio, fundador da Comando S.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho uma rotina matinal. Eu acordo normalmente às 6h30, tomo café e saio para fazer algum tipo de esporte (academia ou tênis), volto, tomo um banho… Como estou numa “fase francesa”, já que estou tendo aulas, ligo no canal francês da TV a cabo e assisto um pouco das notícias enquanto tomo café. Depois sigo para a Comando S. Chegando lá, aproveito esse primeiro momento do dia para pesquisar novas tecnologias e inspirações para compor ou criar algo diferente. Tento fazer algo mais diferente do que faço na minha rotina, que é de criar, dirigir e desenvolver trilhas para as campanhas. Na maioria das vezes é algo relacionado à música, mas sempre busco novas ideias de gestão. Como o mercado publicitário começa mais tarde, sempre depois das 10 horas, tento chegar à produtora entre 8h30 e 9h e fazer toda minha pesquisa e imersão artística.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu acho que é necessário ter vários projetos ao mesmo tempo. Normalmente os projetos são de longo prazo e nunca sabemos para onde as coisas vão caminhar. Na produtora temos vários clientes e coisas que acontecem ao mesmo tempo. Então, no meu dia a dia, eu transito do rock para o jazz, do pop ao reggae, e por aí vai… Diariamente lido com isso e, ao mesmo tempo, realizo outros projetos pessoais, mais artísticos.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?
Eu respondo o mínimo possível de e-mail. Porque uma vez que você responde, vem o dobro de volta. (risos) Eu olho porque não tem jeito, mas evito. Normalmente tento tirar um ou dois momentos do dia para olhar tudo e responder, e assim funciona bem. Quando não fico respondendo muitos e-mails e acessando redes sociais, acabo fazendo outras coisas.
O meu trabalho é estar com a guitarra na mão, na bateria, pensar em música, compor, mixar. É outra imersão. A minha tela está aberta no software de música, não no e-mail. Por isso tenho que parar um momento para mexer em e-mails e redes sociais. E o telefone é um negócio meio esquisito, não é legal tentar botar os e-mails em dia por telefone, whastapp, porque te tira a concentração.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Olha, eu já tive uma fase em que eu precisava ficar sozinho para compor uma música ou fazer um arranjo, e depois sim trazia os músicos, quando a ideia já estava formada. Depois isso mudou. Quando comecei a fazer mais direção artística e ter produtores e outros músicos comigo na produtora, inverteu-se a minha forma de trabalhar. Hoje, pra mim, é muito mais difícil quando tenho que compor sozinho. Me fechar na sala e ter um papel em branco e dele sair uma música é muito mais difícil. Meu processo aqui é estar junto com os produtores, pensar na música, e startar juntos o caminho musical. Ou seja, hoje em dia eu normalmente faço o trabalho coletivo. Tanto no estúdio quanto na parte de atendimento e business, sempre junto com a equipe.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
A parte mais difícil da criação quando você compõe uma música é saber o ponto que está bom. Tem até uma brincadeira que diz “disco não se termina, se abandona”. E isso acontece com trilha sonora, com jingle, mas eu uso muito meu feeling. Às vezes tenho que fazer uma campanha de cerveja para o verão, mas normalmente você cria a campanha no inverno. E aí, como faz com a criatividade? Acho que a carreira de produtor também é um pouco a de ator. Você mergulha a fundo, pula no estúdio, grita, dá risada e entra no estado de espírito do verão, da festa, da balada, para poder criar alguma coisa legal. Tem que entrar no personagem, não dá pra fingir, tem que ser assim.
Eu tive muita sorte em transitar entre várias atmosferas… Sair do interior da Bahia, ir para Salvador e depois vir para São Paulo, e viajar bastante para fora. Então consigo entender um pouco como é o gosto de uma pessoa do interior do Nordeste, e de uma pessoa de Londres ou NY. O que quero dizer é que uso o meu feeling para tudo e isso me mantém criativo.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A experiência, o tempo de estrada e as horas de voo dão a você uma bela acalmada no coração. Porque a pressão e a tensão vêm quando você tem um receio de não entregar tudo. E a gente na publicidade tem um desafio gigante, pois muitas vezes temos que produzir e compor algo que não tem nada a ver com o seu estilo ou gosto musical. É como eu disse anteriormente, você tem que entrar no personagem e gostar daquilo. Não adianta fazer sem gostar, vai ficar falso. Então, depois de muitos anos – são mais de vinte anos fazendo o que faço -, depois de ter passado por tantos desafios, o coração está calmo e eu sei que no final vai dar certo, eu vou chegar num resultado. E isso minimiza todas as pressões e incertezas.
Há momentos de dúvidas, claro. A folha em branco é sempre difícil, mas sempre tenho a tranquilidade que vou chegar a algum lugar. E recorrer ao coletivo também ajuda, principalmente quando se tem uma boa equipe.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Procrastinação é uma das coisas mais difíceis de lidar. É algo que ainda busco. (risos) Eu melhorei bastante, mas não eliminei por completo. Principalmente em relação aos e-mails. Você vai deixando para responder depois e não dá tempo, e aquilo acaba se resolvendo automaticamente. Não tenho nenhuma técnica, inclusive já li muito a respeito. Acho que é um desafio diário lidar com isso.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Tem vários livros que já me cutucaram bastante. Mas teve um que me mudou muito, o “Criatividade”, do Domenico de Masi. Na verdade ele é um tratado sobre a criatividade do ser humano. Ele fala sobre a história da criatividade desde a pré-história até os momentos atuais. É muito interessante a maneira como ele vai te conduzindo, e me mostrou num dado momento que a gente não cria nada sozinho. E isso pra mim foi importante, porque na época era produtor e trabalhava para uma produtora, o livro acabou me fortalecendo para criar um grupo que hoje é a Comando S. De ter uma equipe, de ter um grupo criativo, e isso mudou minha vida, de produtor independente a diretor de uma empresa e líder de um grupo. Acho um livro interessantíssimo para quem lida com criatividade. O livro te mostra pela história que os grandes sempre tiveram alguém ao seu lado. Isso é bem libertador para quem é de criação.
Dos outros assuntos que eu leio…. Eu gosto de ler sobre o comportamento humano, livros como O Poder do Hábito, Código do Talento, eu gosto dessas coisas mais informativas, não sou muito de romances e tal. Gosto também de livros de gestão e administração, música, biografias.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
O conselho… Acho que “Vai morar um ano fora”. Era algo que gostaria de ter feito e acredito que todo mundo deveria ter essa experiência. Como eu disse anteriormente, sair do interior da Bahia, ir morar em Salvador e depois vir morar em São Paulo, foram mudanças que romperam com todo meu ciclo de hábitos, dos positivos aos negativos. Eu tive que aprender muitas coisas e me libertar de pequenos vícios tipo horários para assistir TV todos os dias, a estação de rádio, horário de acordar e de dormir, tudo isso mudou. Eu frequentava o mesmo bar em Salvador com amigos, e quando vim para São Paulo não tinha mais bar com esses amigos para bater papo, foi aí que passei a estudar e fazer outras coisas. São mudanças que acabam abrindo um novo leque de hábitos e rompem com tantos outros. Certamente se tivesse ido para fora do Brasil, seriam novas experiências e desafios, que também seriam enriquecedores.
E sobre se eu começasse do zero, acho que não faria nada diferente. Tá tudo certo. Eu continuo com a teoria que minha vida tá muito boa, e eu ralo pra caramba para que ela seja melhor ainda no futuro. Então todas as minhas fases eu considero que foram extremamente bem vividas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Que projeto eu gostaria de começar… Na verdade, o meu show. Eu já comecei, mas ele é está meio lento. Quero fazer o meu show ao vivo, do meu disco, no palco.
Agora o livro que eu gostaria de ler e ainda não existe… Acho que o meu livro. Eu ficaria muito feliz no futuro se eu escrevesse um livro. É verdade, eu sempre admirei muito as pessoas que escrevem um livro. Eu pego no pé da minha esposa para ela escrever um. (risos) Eu acho um máximo! Eu tenho uma visão que escritor é um ser iluminado.