Rafaela Cappai é atriz, bailarina, comunicadora e empreendedora criativa à frente da Espaçonave.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nem sempre eu tenho a mesma rotina, mas têm algumas coisas que eu gosto de fazer na manhã e que me energizam e me colocam no track certo para o meu dia de trabalho. Eu acordo, medito, às vezes tomo café preto com óleo de coco e alguma gordura saudável, sento no computador, trabalho um pouco. E agora estou experimentando fazer isso bem cedo, às 6 horas da manhã. Trabalho em algo bem criativo, muitas vezes escrevendo, coisas que eu gosto de fazer com mais solidão e então por volta de 8h30 da manhã eu vou para o CrossFit malhar. E assim trabalhar meu corpo e minha mente. Depois eu volto pra casa e quando tenho fome tomo café como alguma refeição. E quando não tenho fome eu só vou comer próximo à hora do almoço. Essas são as coisas que eu gosto de fazer pela manhã: meditar, tomar um café com óleo de coco, fazer algum trabalho criativo e minha atividade física, que atualmente é o CrossFit.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu sigo cada vez experimentando com jeitos diferentes de gerenciar o meu tempo. Com certeza vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, mas dentro da minha própria cabeça não podem ser muitos não. Eu já vi que quando são muitos eu perco o controle, perco o foco. No máximo dois ou, estourando, três. Mas eu tenho uma equipe atualmente que me ajuda, então eu não tenho que fazer tudo sozinha. Eu gerencio meu tempo me dedicando a tarefas em que eu preciso estar mais focada, mais presente e mais sozinha, especialmente na parte da manhã. E meu time sabe disso e normalmente eles não me recrutam nesse horário da manhã. E aí à tarde, depois do almoço, eu gosto de fazer tarefas mais coletivas, colaborativas, então eu marco reuniões à tarde, converso com o time, abro nossos aplicativos em que a gente tem nossas conversas. Assim eu fico disponível para o time e também cobro deles demandas específicas. E também eu tento incluir um horário pra coisas que são não de trabalho, mas do dia a dia, vida pessoal, brincar com a minha cachorra, assistir alguma coisa no Netflix, um documentário, ler algo, assistir filme, são coisas que eu gosto de fazer também.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
Minha relação é bastante produtiva com a tecnologia, eu me dou muito bem. Uso prioritariamente o Slack pra conversar com meu time. Uso bastante o WhatsApp pra adiantar coisas, que é mais fácil de mandar um áudio. O meu e-mail fica fechado, só abro duas ou três vezes ao dia. Eu tenho um aplicativo específico em que eu faço isso. Eu abro o aplicativo, respondo todos os e-mails, fecho e não volto ali. Uso uma agenda como gestor de tarefas também, o TeamWork, que eu uso com meu time. E uso bastante Evernote, como se fosse uma segunda memória, uma biblioteca fora do meu corpo, onde eu armazeno todas as informações para futuras referências, pesquisas, coisas desse tipo. E uso o Dropbox, onde ficam armazenados todos os arquivos que eu e meu time usamos.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Meu local de trabalho é bem quieto, tranquilo. Trabalho numa sala com meu marido, sendo um de costas para o outro, porque eu preciso de coisas diferentes. No momento em que eu estou escrevendo, criando, fazendo tarefas criativas, eu realmente preciso de bastante silêncio e tranquilidade. Mas também gosto de trabalhar em conjunto, posso ir para um café de vez em quando. Não tenho tanto problema de ter outras pessoas no ambiente comigo. Depende muito do tipo de tarefa que eu tou fazendo. Tarefas mais criativas, que precisam de mais foco, de fato eu preciso de mais silêncio e tranquilidade. Uma outra coisa curiosa é que esse espaço de trabalho precisa estar muito organizado, porque se ele está minimamente bagunçado com papéis e coisas fora de lugar eu não consigo focar e trabalhar. Só consigo trabalhar quando meu ambiente de trabalho está organizado, porque senão meu cérebro fica escapando e eu não consigo pensar no que tenho que pensar. E só fico pensando que tenho que arrumar as coisas. Coisas de virginiana.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm da conexão entre coisas. Assisto um documentário aqui, leio um livro ali e da junção dessas ideias nasce uma terceira ideia minha, única. Minhas ideias vêm das coisas que eu assisto, dos livros que eu leio, das conversas que eu tenho, de coisas que eu vejo na internet, de perceber o mundo e ver necessidades e demandas específicas. De tentar encontrar um padrão nas coisas. O sistema que eu uso pra de alguma forma coletar isso tudo é o Evernote. Eu tenho cadernos específicos pras coisas que eu quero fazer no futuro, frases e ideias, pra receptáculos de coisas legais que eu gostaria de aplicar no meu trabalho. E de vez em quando eu volto lá e vejo o que tem e me inspiro novamente. Eu tenho, como todo mundo, milhares de ideias a todo momento, mas algumas grudam em mim e é quase como se eu precisasse dar vida a elas para seguir adiante. Eu tenho ideias e ideias que grudam. Essas que grudam são as que eu acabo realizando.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu lido com bloqueios criativos tentando lidar com eles no momento em que eles surgem. Semana passada mesmo eu estava escrevendo um texto e não estava saindo. Daí pensei, vai ser uma frase por vez, um momento por vez, porque nada que estava vindo eu tava gostando, tava insatisfeita e às vezes eu paro e medito e isso me ajuda. Ou paro e vou fazer uma tarefa aleatória. Vou fazer um bolo, brincar com a minha cachorra, assistir um filme, até que uma hora eu consigo retomar a tarefa.
Eu sou bastante perfeccionista e sofro muito com isso, mas eu sei que hoje em dia eu estou funcionando muito melhor porque as coisas estão acontecendo, e isso pra mim é um bom termômetro. Mesmo que eu sofra ainda com a qualidade das coisas – e eu sofro mesmo, não me orgulho disso. Eu tenho uma frustração grande entre aquilo que eu imagino e aquilo que vai pro mundo. Aquilo que vai pro mundo nunca é exatamente como eu imagino e isso me gera frustração, mas eu tenho seguido. Hoje em dia eu brinco que eu sou uma perfeccionista em processo de cura, porque eu estou colocando muito mais coisas no mundo, estou experimentando mais, coisas que há dez anos atrás eu não tinha tranquilidade pra fazer, eu só me preocupava com o que não estava tão bom ainda. Hoje em dia eu já consigo evoluir com o processo. Pra mim o processo tem funcionado mais do que necessariamente só colocar alguma coisa no mundo. Eu tenho curtido mais o processo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Tenho várias, essas que eu mencionei acima são algumas. Eu paro e vou fazer alguma outra tarefa criativa. Eu desconecto completamente da tarefa. Eu medito e tento me conectar comigo mesma no presente. São coisas que eu vou experimentando no momento da procrastinação. E às vezes eu pratico procrastinação estruturada, que é assumir que eu estou procrastinando, mas ir fazer alguma outra coisa que seja legal. Eu estou procrastinando aquela tarefa, mas tou arrumando a minha gaveta, assistindo um documentário muito legal. Então essa é uma outra estratégia que eu uso.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Não sei se é o livro que mais mudou a minha vida, talvez o que mais mudou tenha sido o meu, porque deu trabalho pra escrever. Mas um livro que realmente mudou bastante a minha vida e que eu lembro do momento em que eu estava lendo e de como ele me modificou foi A Guerra da Arte, do Steven Pressfield. Ele fala exatamente sobre esses temas, sobre resistência, procrastinação, perfeccionismo, profissionalismo artístico. Pra mim foi muito importante ler naquele momento. Quando eu li eu percebi que dali pra frente eu seria uma pessoa diferente e, de fato, ali foi o meu ponto de partida.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Um conselho que eu teria me dado? Relaxe mais, experimente mais, brinque mais, crie mais. No final das contas, vai fazer sentido. No geral, diria pra eu relaxar mais e tentar curtir mais a vida e o processo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto que eu gostaria de fazer mas não comecei ainda é a próxima ideia que tá grudando em mim e que eu não estou conseguindo abrir mão dela. É um projeto de viagem. Quero ficar um ano viajando e conhecendo outros lugares, pesquisando sobre economia criativa e empreendedorismo criativo, novas economias nessas cidades ao redor do mundo. É uma coisa que eu ainda não consegui colocar em prática, mas essa é a ideia que tem grudado mais recentemente. Não tem um livro que eu queira ler e que não existe ainda. Tem vários na minha prateleira, mas em algum momento eu vou ler com certeza.