Nany Semicek é fundadora da Casa Poppins, um espaço de brincar e acolhimento materno em Curitiba.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu só funciono se tenho uma rotina organizada. Pela manhã eu checo todos os meios de comunicação (e-mail, facebook, instagram, whatsapp, recados, anotações do dia anterior) e produzo uma listagem de itens a serem resolvidos no dia. Para esta listagem, eu gosto de categorizar os assuntos por trabalho e vida pessoal. Dentro destas duas listas amplas, eu subdivido os itens para equilibrar os esforços em todas as frentes: marketing, operacional, comercial, financeiro e projetos futuros. Com a lista feita, eu elenco o que é urgente e o que é importante para aquele momento.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu sou uma fazedora multitarefas, é da minha natureza construir coisas em paralelo. Mas como empreendedora de uma empresa que ainda está muito bebê e não tem tantos recursos humanos na execução das tarefas, é necessário que eu divida meu tempo em muitas frentes. Procuro dedicar as manhãs para assuntos que requerem mais concentração e silêncio, então faço uma pausa longa de almoço para me alimentar junto dos meus filhos, caminharmos para a digestão ou brincarmos juntos. Quando eles já estão encaminhados para escola ou cochilo da tarde, eu retomo as minhas atividades procurando demandas mais físicas como visitar um cliente, ir ao banco etc – para evitar que aquela leseira pós-refeição atrapalhe o meu rendimento. Já no fim de tarde, eu consigo executar questões práticas. Eu costumo brincar que a vida pessoal nos dá mais trabalho que o trabalho em si. Portanto é importante eu dedicar horários na agenda semanal para resolver questões pessoais também.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
Minha relação é mais por obrigação do que por empatia a essas ferramentas. Sou uma usuária bem mediana, até! Ao longo do dia sou bombardeada de contatos advindos de diversos meios de comunicação, e se não me vigio a organização do meu tempo fica a mercê do “plim plim” do celular. No meu caso, o e-mail não é o mais problemático, e sim o whatsapp. Então, procuro manter uma rotina de não abrir o aplicativo quando estou em alguma atividade que requer concentração ou na presença dos filhos. Deixo “acumular” as conversas para em determinada hora do dia focar em responder a todas. Muitas vezes eu devo passar a sensação de falta de consideração, pois visualizo mensagens e não respondo automaticamente, mas é o preço para conseguir organizar meu dia – e o julgamento eu trato em terapia depois (risos).
A principal ferramenta que utilizo na criação e gestão das minhas listas é o Wunderlist. Ele é simples de usar e me ajuda muito a planejar os projetos sem esquecer ou atrasar prazos.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Eu trabalho dentro de um espaço de brincar infantil, portanto, tenho interferências externas praticamente o tempo todo, principalmente dos meus filhos. A estratégia que uso quando preciso me concentrar é colocar o fone de ouvido com música clássica ou indiana, pois isso me ajuda a criar uma bolha maior de foco. Consigo focar com barulho, mas não consigo trabalhar na bagunça. Acredito que quando organizamos o espaço físico também organizamos os pensamentos. Então sempre que estou precisando me organizar mentalmente saio fazendo arrumações pelo escritório e tem funcionado bem para fluir a intuição. Meus colegas já aprenderam a identificar os dias que estou mais incomodada e até me chacotam: “sai da frente da Nany hoje senão ela também te joga no lixo!”
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minha principal fonte de inspiração são as pessoas. Eu sou uma pessoa muito comunicativa, logo eu me alimento muito do que troco com as pessoas. Quando eu estou em uma rotina mais solitária ou muito entocada, minha criatividade diminui consideravelmente. Mas atualmente meu maior exercício para criar projetos ou solucionar questões emocionais tem sido deixar o “ar entrar”, habilidade que tenho aprendido praticando yoga kundalini e terapia corporal. Quando tenho algo para decidir, jogo de maneira clara para o universo a pergunta e então tento não racionalizar demais o assunto. Assim, eu fico observando como meu corpo reage, qual parte do corpo se manifesta, que tipo de situações acontecem ao meu redor para então tomar as decisões necessárias. É preciso dar o tempo das idéias assentarem, não temos controle sobre isso. Às vezes um cachorro que passa na sua frente te ensina mais sobre o que você está passando no momento do que horas de cabeça quente pensando no problema. O tempo todo a resposta está ao seu redor, mas não deixamos o “ar entrar” para enxergar o que precisamos.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sofro muito com a exigência e isso ainda é um aprendizado para mim. Meu desafio atual é aceitar os dias em que minha mente ou corpo estão cansados e relaxar, dar uma pausa. Meu lema atual é tentar bloquear a ansiedade sempre me perguntando: você está vivendo no futuro, no presente ou no passado? É preciso estar atento e se manter no presente, se não a ansiedade nos consome. Mas tenho muito a aprender sobre isso ainda.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Eu sempre me cobrava muito sobre as coisas acontecerem do meu jeito ou no tempo que eu determinei para elas. Acreditar que todos os dias teremos a mesma habilidade ou eficácia em tarefas distintas é um dos conselhos que não funcionam pra mim. Tem dias que estou uma vendedora nata, noutros mal consigo informar os preços da tabela para um cliente. É preciso auto-observação contínua para escolher as demandas do dia de acordo com seu estado de espírito. Pois se eu tiver que escrever um texto mais detalhado em um dia que estou mais extrovertida, não vai funcionar e vou procrastinar. Por isso que procuro sempre ter prazos confortáveis nas demandas, para poder adiar coisas que não estou a fim de fazer naquele momento, compenso amanhã.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Dois livros me transformaram profundamente e sempre que posso volto a relê-los. Um deles é “Mulheres que correm com lobos” da Clarisse Pinkola Éstes, que mostra como a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo dos tempos. E através de mitos e lendas ela nos conduz a transparecer a coragem da loba que vive em cada mulher. O outro é “Um Novo Mundo – o Despertar de uma Nova Consciência” de Eckhart Tolle. Ele nos mostra que o salto para uma nova realidade depende de uma mudança interna radical em cada um de nós. Precisamos nos livrar do controle do ego, pois essa é a fonte de todo o sofrimento humano. De forma inspiradora e surpreendente, ele nos ajuda a descobrir o nosso verdadeiro eu, a essência humana genuína que nos permitirá construir o novo mundo e viver em harmonia com tudo o que existe.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Não acredito muito em conselho. Nós efetivamente só criamos amadurecimento e experiência a partir do que vivenciamos e aprendemos de forma orgânica. Os caminhos são tão múltiplos que ninguém possui a fórmula exata para o sucesso. Aliás, o que é sucesso, não é? Mas se o conselho fosse para mim mesma eu me diria para levar as coisas menos a sério e acreditar no mistério da vida. Quantas e quantas vezes eu quis reescrever um episódio da minha vida sem imaginar que, no fim das contas, aquilo deveria ser exatamente como foi. Gratidão e silêncio são as maiores pérolas que aprendi na minha trajetória.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Construir minha própria horta em casa é um projeto que vem me sondando, mas ainda não encontrou seu espaço de concretização. No tempo certo ela surgirá! Sobre o livro, morro de curiosidade de saber como a educação irá se transformar para se adaptar a estes seres de luz que estão nascendo hoje. O mundo com certeza será muito diferente em breve por conta destas crianças que estão nascendo e fico fissurada em descobrir como vamos adaptar nossas velhas carcaças para o novo mundo.