Nana Lima é co-fundadora da Think Eva e diretora de Projetos da Think Olga.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu normalmente acordo no mesmo horário. Café da manhã é a minha refeição preferida, então faço questão de dedicar tempo a ela. Não sou uma pessoa muito da manhã, então prefiro fazer exercício físico à noite ou no fim de tarde. Depois do café, começo a checar e-mails, redes sociais e whatsapp e daí entro na rotina.
Vou a pé pro meu trabalho, o que considero um dos maiores luxos que se pode ter em uma cidade como São Paulo. Poderia ir de carro ou de bicicleta, mas esses vinte minutos caminhando fazem toda a diferença.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu adoro o tema produtividade. Entendo que ultimamente ele tem sido levado para um lado meio opressor gerando uma epidemia de ansiedade nas pessoas (multitasking, 20 tabs abertas no computador, otimizar qualquer minuto do seu tempo), mas acho que tudo se resume a autoconhecimento. Eu adoro ler sobre novas técnicas e testar o que funciona para mim, mas isso é um processo constante de olhar pra dentro. Eu vejo métodos de organização como uma receita que você entende os ingredientes e os adapta de acordo com a sua realidade.
Na Eva e na Olga temos que lidar com muitos assuntos ao mesmo tempo. Seja um vídeo que vamos colocar no ar, um workshop que deve acontecer em breve, uma reunião de briefing, uma decisão estratégica ou um job que requer uma viagem. No começo eu sofria muito com essa alternância de atividades. Sempre trabalhei em multinacionais onde ficava meses no mesmo projeto, implementando-o e aprimorando-o, e esse bombardeio no início foi bem estressante, mas agora já me acostumei e até gosto dessas surpresas do dia a dia. Nenhum dia é igual ao outro. O que eu fiz foi compensar, na minha vida pessoal, essa falta de rotina no profissional e fazer ela mais regrada. Tenho atividades que sempre faço para que algo pareça estar sob controle – só pareça (risos). Cuidar dar minhas plantas, ler antes de dormir, meditar, almoços de domingo com família e correr na rua.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
A tecnologia e eu nos damos muito bem. Às vezes eu perco um pouco o controle dessa relação, mas sempre tento me lembrar que a tecnologia é um ótimo servo, mas um péssimo senhor. Uso apps para muitas coisas desde planejar viagens a cuidar das finanças, entre outras coisas que facilitam muito minha vida, mas tento impor um limite. Se a gente deixar, a tecnologia domina e no final você acaba nem escolhendo mais o que vai comer ou que filme quer ver. Esse excesso de automação me gera angústia porque preciso de coisas sensoriais e tangíveis na minha vida. Sentir o cheiro do alimento na feira, morrer de tédio em alguma fila. Isso também é vida.
Já faz um bom tempo que eu tirei toda e qualquer notificação do celular e computador. E também separo e-mails de trabalho de e-mails pessoais. Eu adoro o método GTD para me organizar. Para aplicá-lo, eu uso o app Todoist, acho ele ótimo para separar as tarefas por projetos ou prioridade.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Nós temos um escritório para Think Olga e Think Eva com, atualmente, nove pessoas. Como todas somos muito apaixonadas pelos assuntos que rodeiam a Eva e a Olga, a coisa pode ficar meio barulhenta (risos). Então quando tenho que fazer uma apresentação ou criar um workshop eu fico em casa e me foco só naquilo. Gosto dessa liberdade que o empreendedorismo te dá de poder trabalhar em diversos locais. O desafio está em conseguir desligar e relaxar, já que não existe apenas um local de trabalho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
É difícil falar sobre de onde vem a criatividade ou as ideias. Eu ouço muitos podcasts, o que é um hábito que adoro e faz qualquer tarefa monótona ser uma ótimo oportunidade pra escutar sobre tal assunto ou ouvir uma entrevista com alguém interessante. Livros e filmes também sempre ajudam a resolver problemas ou pensar em soluções inovadoras.
Eu acho que muitas vezes nós não nos damos o tempo necessário para que as ideias surjam. Estamos sempre hiperconectadas, sendo demandadas de tantas maneiras que nosso cérebro não desliga. Então, tento impor esses momentos de desconexão (aquela história de que no banho ou caminhando é que as ideias surgem). Subestimamos o poder do “single-tasking”, que é fazer apenas uma coisa por vez. Pode ser uma coisa tão boba, mas são poucas vezes no dia que estamos concentrados apenas em uma atividade. E isso faz toda a diferença.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A famosa “síndrome de impostora” (ou impostor) é real. Acho que para mulheres ela é ainda mais forte, pois fomos educadas que certos lugares não devem ser ocupados por mulheres. E temos que, de maneira constante, nos lembrar que podemos e devemos ocupar todos os espaços e não existe uma tarefa que um homem execute melhor que uma mulher (e vice-versa). Isso vale desde tomar decisões financeiras, lidar com números ou apresentar uma palestra para 300 pessoas. Para ser bem sincera, eu não tenho uma resposta ou uma fórmula para lidar com isso. É aquele clichê de frase motivacional do Instagram “vai com medo mesmo”.
Quando algo tá me empacando eu sempre tento enxergar a coisa por outro ângulo e colocá-la no devido lugar. E a maioria desses medos, anseios e expectativas não terão a mínima importância daqui um ano.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Ultimamente as redes sociais, principalmente o Facebook, têm me incomodado bastante. Pensei em sair e analisei várias maneiras porque não aguentava mais a perda de tempo e a demanda que ele cria, mas entendi que essa rede é necessária pro meu trabalho. Decidi que só vou usá-la com intenção e com foco. Bloqueei o feed com o News Feed Erradicator, e criei listas de trabalho, contatos pessoais, notícias. Agora só leio algo se eu realmente estiver buscando aquela informação. Ao “hackear” um pouco a plataforma, passo muito menos tempo procrastinando nela. Aquele loop eterno de de posts aleatórios acabou.
A Gretchen Rubin (autora estadunidense de livros sobre hábitos) separou as pessoas em duas categorias: os Maratonistas, que fazem um pouquinho da atividade a cada dia (mesmo que estejam longe do prazo) e o Sprinters, que deixam para começar bem perto da linha de chegada e daí fazem toda a atividade no limite do prazo. Não existe certo ou errado, o importante é entender como você prefere trabalhar e fazer o melhor com isso. E, sim, eu sou uma Sprinter, mas nada muito radical.
Eu também adoro o método Pomodoro, que uso muito até em tarefas pessoais.
E, com certeza, o que não funciona pra mim são aquelas coisas de anotar tudo, escrever todo dia, anotar todas as finanças. Acho que a metodologia tem que se adaptar à sua rotina e não criar mais demandas.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Sem dúvida foi 1984 do George Orwell. Me fascina a ideia do livro ter sido escrito em 1948 e ainda criar um paralelo tão real com o que vivemos hoje. Principalmente com todo esse cenário polarizado, de notícias falsas e pós-verdades. Não lembro quem me indicou ou porquê peguei esse livro pra ler, mas com certeza existe um antes e depois dele na minha vida. Já tinha lido Admirável Mundo Novo (deu pra ver que eu curto um cenário meio apocalíptico, né?) que me fez repensar muitas coisas. Na época pesquisei tudo sobre o Eric Arthur Blair (o verdadeiro nome de George Orwell) o que me fez amar ainda mais o livro por entender a luta dele contra os regimes autoritários da época.
Eu vario muito meu tipo de leitura. Sou bastante de fases. Começo a ler um livro de uma autora ou autor e quero ler tudo dela/dele. Foi assim com Saramago, Roxane Gay, Gabriel Garcia Marquez. Agora estou no momento Elena Ferrante. Eu tento dividir minha leitura em livros para lazer e livros “técnicos”. Essa segunda categoria pode ser desde livros sobre plantas, feminismo, empreendedorismo ou produtividade. Tento não ler esse tipo de livro antes de dormir porque fico pensando naquilo, pensando na maneira de implementar o que acabei de aprender e, no final, o que deveria ser um hábito para desconectar acaba perdendo seu propósito. Mas tenho que assumir que sou bem apaixonada por livros sobre produtividade, lifehacking. Desde como fazer melhores escolhas, como criar ou desfazer um hábito, métodos para não acumular coisas em casa.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Um conselho que viria bem aos vinte anos seria: vai com calma. Existe uma corrida contra o tempo que nós mesmos nos impomos. Eu me impus e absorvi muitas expectativas externas e hoje penso que poderia ter ido com mais calma. Aproveitar mais o caminho e estar mais aberta para o acaso. A maioria dos meus amigos não trabalha com o que se formou na faculdade e tudo bem. E, para muitos, isso faz deles profissionais e pessoas mais completas, melhores.
Eu estudei publicidade, fiz pós em marketing de Moda e depois MBA. E junto com minhas duas melhores amigas (e hoje também sócias) temos dois projetos que empoderam mulheres. Quando que eu ia prever isso aos vinte anos? E o que surgiu de toda essa jornada é muito mais interessante (e de acordo com os meus valores) do que se eu tivesse seguido um plano de carreira.
E apesar de tudo, eu não faria nada diferente. Acredito muito que tudo que você passou te trouxe exatamente onde você deveria estar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho muita vontade de fazer um Podcast. São tantos temas que gostaria de falar e tantas pessoas que gostaria de dar espaço e conhecer melhor. Nesse tempo na Olga e na Eva conheci muitas mulheres incríveis, com projetos lindos. E trocar com elas sobre as dores e as delícias de ser dona do seu próprio tempo seria algo muito legal.
O seu projeto também vai muito por esse lado e é muito válido. Humanizar quem está na arena diária do fazer diferente é algo muito necessário.