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Como trabalha João Bonomo

24 de maio de 2017 by José Nunes

João Bonomo é professor de empreendedorismo e inovação do IBMEC/MG.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Acordo bem cedo. Antes das seis da matina estou de pé. Já me acostumei. Sempre fazendo o meu café da manhã, que tem de quase tudo… exceto o café! Gosto de preparar meu café da manhã. As atividades me deixam mais desperto e enquanto vou tomando o café da manhã, repasso o que eu tenho que fazer naquele dia. Há uns vinte anos que dou aulas pela manhã e, por isso, tenho uma rotina muito orientada pelo meu plano de aula, que eu elaboro sempre antes do início do semestre. Além disso, vejo minhas reuniões, meus compromissos externos e até mesmo minhas aulas da noite. Troco minha roupa e saio de casa. Às vezes levo filhos na escola, às vezes não. Mas sempre chego na faculdade uns vinte minutos antes para ajustar pequenos detalhes das aulas que irei dar dali a uns minutos. E é lá na faculdade, antes da aula começar, que eu tomo o café propriamente dito. Dali para a hora do almoço é um pulo, porque eu adoro dar aulas e adoro me divertir com os alunos, então o tempo passa rapidinho e estas têm sido minhas manhãs há uns vinte anos.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Sempre o dia é curto. Já não aguento muito ficar às noites trabalhando, mesmo que seja em sala de aula. Faço isso ainda, mas normalmente minhas noites são reservadas para leituras e cuidar da minha vida familiar. Por isso parece que o dia precisava ser mais estendido. Mas mesmo assim consigo administrar meu tempo. Consigo marcar compromissos com mais de uma semana de antecedência e, assim sendo, consigo fazer tudo que pretendo. Trabalho com uma parte do meu dia comprometida com as atividades acadêmicas e, portanto, bastante planejada e rotineira, e na outra me lanço de maneira pouco rotineira. Para contrabalançar, a marcação com antecedência é vital para que eu consiga desenvolver todas as minhas atividades. Adoro trabalhar por projetos e sempre que posso me envolvo em algum que me faça sentir vivo novamente.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Tenho descoberto aos poucos os aparatos tecnológicos que podem me auxiliar no meu dia a dia e nos meus projetos. Confesso que alguns me causam bastante desconforto, pois são mais complicados do que uma folha de papel em que eu escreva um compromisso. Porém, também já percebi que somente lembretes escritos nos papéis não são suficientes para que eu acompanhe meus projetos. Mas com o passar do tempo tenho baixado a guarda com relação a estes aparatos e tenho me forçado a aprender a manejá-los melhor. Destas ferramentas, aquela que uso há mais tempo é o e-mail. Indispensável e imprescindível na minha vida. Tenho diversas caixas postais, cada uma com uma finalidade distinta. Organizar assim me faz melhor. Uma das primeiras coisas que faço quando chego à faculdade ou em casa é checar meus e-mails. Mas não acho que isso me atrapalha não. Muito antes pelo contrário. Além dos e-mails, utilizo redes sociais, mas só para entrar em contato atualmente, blocos de notas, dashboards para acompanhar status de projetos, editor de texto e de planilhas. Não baixo e nem uso jogos e muito menos vídeos.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Trabalho em qualquer lugar. Escolher um local para trabalhar depende mais da finalidade do que do meu estado de espírito. Se quero escrever ou ler ou corrigir trabalhos, preciso de um ambiente mais calmo, que me permita maior concentração. Se preciso me reunir sobre algum aspecto inicial ou trivial de algum projeto, posso ficar em pé no centro da cidade tomando café com muitos carros e toda a loucura de um centro de cidade ou mesmo em um mosteiro zen budista que não fará diferença. Mas uma coisa sempre precisa estar próximo a mim, que é a música. Sempre que estou concentrado ouço música clássica em especial. Tamanho é este costume que estou me tornando um expert em música clássica. Hoje em da escolho as peças, as interpretações e os solistas.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Confesso que poucas vezes tive bloqueios criativos. Às vezes demoro a ter uma sacada, mas quando isso acontece, basta eu me desligar um pouco, ir fazer alguma outra atividade, mesmo que cotidiana, como tomar banho, preparar refeição ou ler um livro que já aparece um insight sobre o que eu devo fazer. Tenho a impressão que funciono melhor quando minha mente se desliga do fato que preciso resolver. Mas, por outro lado, quando estou chateado não comigo me desenvolver. Quando alguma coisa no meu dia me irrita, não consigo produzir muito. Aí não adianta respirar fundo e continuar. Tenho que parar, elaborar melhor os fatos que me irritaram na minha cabeça e depois retorno às minhas atividades normais.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Não tenho técnica alguma para lidar com a procrastinação. Para mim prazo é prazo e deve ser seguido. Alguns poucos eu não sigo, pois não são tão importantes. Outros são muito significativos e precisam ser cumpridos. Por isso que não me preocupo com o meu índice de procrastinação. Às vezes é melhor demorar um pouco e ter uma opção melhor, do que cumprir prazos só por cumprir e não produzir um resultado tão esperado. Já perdi prazos na minha vida que me arrependo demais. Justamente por isso hoje fico dosando o quanto eu posso ou dou conta de fazer antes mesmo de assumir alguma responsabilidade com o resultado. Tendo a pensar que o processo é mais importante que o resultado e, por isso, prefiro somente abraçar o que eu dou conta.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Tenho uma vasta bibliografia que me fez mudar. Não consigo eleger somente alguns. Vai desde Machado de Assis até Tim Maia, escrito por Nelson Mota, que me ensinam alguma coisa. Tenho certa birra em ler livros que tenham frases de ordem ou que pretenda me ensinar alguma coisa rapidamente através de técnicas. Não confio muito nisso. Prefiro mesmo é a literatura e sempre que possível, peço indicações ou procuro por algumas que sejam balizadas por pessoas que confio e gosto. Não leio só por ler.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Se aos vinte anos alguém tivesse me dito, de forma assertiva, que se eu tivesse mais paciência as coisas se resolveriam de melhor forma, com certeza isso mudaria muito a minha vida. Cheguei aonde cheguei muito por urgência, necessidade e obstinação. E sinto que poderia ter feito de maneira mais serena, calma e tranquila, que assim eu estaria da mesma forma. Corri muito e cheguei muito cansado. Talvez indo a uma velocidade menor eu conseguisse obter melhores frutos. Hoje eu sou amigo do tempo e acredito que ele é um remédio e tanto. Fazer as coisas mais no slow mode é minha prioridade, pois cada dia que passa tenho tido mais paciência e percebido que o menor senso de urgência tem me feito mais bem do que mal.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Tenho pensado no projeto educação sem escola. Isso tem sido rascunhado há algum tempo e sinto que em breve terei condições de lançar essa perspectiva. Trabalhando há tanto tempo em ambientes acadêmicos de toda sorte tenho visto, percebido e aprendido que a instituição escola está fadada ao fracasso. O que existe hoje é uma sociedade fraca e temerosa que não encara outras perspectivas de aprendizagem que façam mais sentido e que estejam mais adequadas ao que realmente tem ocorrido no mundo inteiro. O modelo do século XVIII que ainda perdura no seio de nossas vidas é cruel e descompassado com o que a gente vive atualmente. Por isso tenho lido muito sobre educação e novas perspectivas. Gostaria que tivesse livros de história que pudessem mostrar para meus alunos que existem outras formas de aprendizado e que educação não é uma confirmação em si mesma. Precisa ser adequada ao que cada um gostaria de aprender.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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