Como eu trabalho

  • Sobre
  • Arquivo

Como trabalha Henrique Versteeg-Vedana

27 de junho de 2017 by José Nunes

Henrique Versteeg-Vedana é sócio-fundador da Manifesto 55.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Moro em Floripa com minha esposa e filha de 3 anos. Como trabalhamos juntos (somos sócios), e nossa filha vai para a creche a partir das 10h30, concordamos que nessas primeiras horas da manhã, sempre que possível, nos ocupamos de atividades da casa e do estar com nossa filha, portanto posso dizer que começo meus dias “devagar” (inclusive porque tenho mais energia no final do dia). Preparar um chá, às vezes um café-da-manhã completo, às vezes sair para uma corrida matinal, às vezes levar a pequena para dar uma volta. O tempo passa voando e o dia de trabalho começa mesmo só às 10h30. Quando estamos juntos, sempre fazemos um “check-in” do que está acontecendo, e qual é a prioridade daquele dia. Na segunda ou na sexta fazemos um momento mais longo para averiguar o que está no radar, planejando um pouco melhor os próximos dias e semanas.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Gostaria de poder administrar melhor. Gosto de ter diversos projetos acontecendo, mas isso só dificulta a priorização do tempo, e nem sempre é fácil lidar com essa pressão externa. Procuro dividir as tarefas (mesmo de projetos diferentes) entre aquelas que exigem concentração e criatividade, e quando foco nelas deixo pelo menos 1-2h bloqueadas (chego até a desligar o celular), onde me foco em apenas essa tarefa. As demais tarefas, mais “superficiais”, encaixo nos espaços de tempo entre reuniões, calls, em momentos onde a energia não está alta, ou quando trabalho de cafés ou espaços de coworking. Procuro, sempre que possível, escolher/planejar 1 tarefa “criativa” por dia.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Já me envolvi demais com tecnologias e mídias sociais, e hoje sou muito menos ativo. Em 2017 passei a adotar medidas ainda mais radicais, como não ter aplicativos no celular (Facebook, Twitter), bloquear a timeline do Facebook no laptop e desabilitar notificações de e-mails no smartphone. Dessa forma consigo me manter “mais ou menos” concentrado e evito um pouco as interrupções. Tento reservar um momento no dia para checar Facebook, e-mails e outras mensagens. Uso um programa de lista de tarefas (Todoist) compartilhado com minha sócia, usamos Trello e Streak para termos noção melhor dos projetos e oportunidades que estão no ar, e um quadro branco em casa onde registramos as demandas e prioridades.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Depende. Muitas vezes um ambiente barulhento me ajuda a focar no trabalho no computador, evitando que eu devaneie. Em geral busco lugares tranquilos e silenciosos para ler. Por exemplo, reflito e respondo essa pergunta no aeroporto, aguardando um voo, em meio a dezenas de pessoas, sem me preocupar com isso.

Embora uma rotina seja adequada, percebo que minha produtividade cai ao longo da semana se eu fico no mesmo local (por exemplo, home office). Daí preciso variar, ir para um café, coworking (ou estar em trânsito em viagens a trabalho) para aumentar o foco e a produtividade.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Leio muito e estou sempre tentando aplicar o que leio às minhas conversas, workshops e atividades onde estou envolvido. Gosto muito de relacionar diferentes conceitos, autores e conversas para formar novas ideias e conceitos. Cultivo conversas interessantes com pessoas diferentes (principalmente nos cursos e workshops que facilitamos), faço anotações em um caderninho e depois procuro revisar essas anotações, pelo menos uma vez ao ano.

Outra forma de oxigenar a mente criativa é algum tipo de esporte ou atividade ao ar livre. Morando em Floripa, tenho essa vantagem, de sair para uma corrida “pra arejar” e dar um mergulho na Praia da Joaquina, e voltar para casa com novas ideias fresquinhas. Gosto de fazer stand-up paddle na Lagoa da Conceição, e uso esse tempo (corpo físico ativo e mente relaxada, sozinho no meio d’água) para pensar em projetos, ideias ou mesmo imaginar conversas ou discursos mirabolantes.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Boa pergunta! Uma forma de desbloquear a mente é forçar (de verdade ou artificialmente) com prazos muito curtos. Quando a data de uma entrega importante se aproxima, o corpo fica tenso, e a mente é forçada a deixar o perfeccionismo de lado, e na maioria das vezes o resultado criativo é muito satisfatório.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Acredito que cada pessoa tem um estilo mais favorável, e se você consegue encontrar o seu você consegue adaptar conselhos e técnicas para a sua realidade. Por exemplo, comigo nunca funcionou a ideia de acordar cedo (5h) e realizar antes das 8h as tarefas mais importantes do dia. Faz muito sentido, adoraria ser capaz de fazer isso, mas não rola!

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Citarei dois! Walden, ou a Vida nos Bosques é a história de Henry David Thoreau e o ano que passou “fora da sociedade”, vivendo apenas do próprio trabalho em meio à natureza. As reflexões dele sobre a realidade humana, sonhos e ética me inspiram muito. E o segundo livro é Na Natureza Selvagem, escrito pelo jornalista Jon Krakauer, onde ele descreve a jornada de Chris Mackendless ao fugir da casa dos pais, e sem dinheiro viajar por quase dois anos até ser encontrado morto no Alaska. Ele errou (fatalmente, no final da aventura), mas no fundo estava buscando se desafiar, encontrar seus limites, viver a vida plenamente, como num ritual de passagem moderno, antes de se tornar um homem adulto responsável (o que acredito que teria acontecido com ele caso tivesse sobrevivido). Lições de vida, biografias e boas histórias (bem escritas) me fascinam!

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

“Aprenda a lidar melhor com o dinheiro. Questione suas premissas sobre o significado de dinheiro na tua vida, e com isso você será capaz de criar condições para a abundância financeira desde cedo”. Muitas pessoas como eu foram criadas em famílias onde a relação com o dinheiro é tabu, não é assunto conversado ou refletido. Se voltasse atrás, investiria mais tempo e energia nisso.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Tenho um projeto pronto, hoje na gaveta, chamado “Magic Kombi”, uma viagem pela América do Sul a bordo de uma Kombi (ou veículo semelhante) estudando e aprendendo com diferentes culturas e realidades, conscientizando sobre questões ligadas à sustentabilidade, mudanças climáticas e nosso papel (de seres humanos) no planeta. Ainda farei essa viagem, dessa vez com toda a família, daqui a alguns anos.

Sobre livros, eu gosto muito de História, e como ela nos ensina sobre nossa realidade atual. Gostaria de ler mais sobre eventos recentes no nosso país, sem vieses tão limitados como o que encontramos nas livrarias. Gostaria de ler sobre as mudanças sociais e políticas que estamos passando e que isso possa ajudar na minha reflexão, aprendizagem e crescimento (e não apenas como o reforço de uma verdade já pré-concebida).

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

Meu trabalho

  • como eu escrevo
  • observatório da democracia

Como eu Trabalho

O como eu trabalho revela os bastidores do processo criativo de artistas e empreendedores.