Gustavo Tamborlim Simões é fundador da empresa de consultoria digital NovaHub.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Por algum tempo eu tive uma rotina matinal muito interessante: acordar entre 4h45 e 5h30; tomar água; meditar 15 minutos; fazer exercícios usando o próprio peso do corpo (sem peso extra); estudar ou escrever por 1 hora; fazer o item mais importante da minha lista de to-do; tomar um mega-blaster café da manhã.
Isso era um método chamado “empilhamento de hábitos” (habit stacking), que eu conheci por aí. A ideia é vc repetir hábitos um atrás do outro, todos os dias até entrar no automático.
A parte boa dessa rotina é que antes das 8h da manhã eu já tinha feito muita coisa. A parte ruim, é que eu fazia muito disso em estado automático…
Com a chegada do meu segundo filho, eu parei com essa rotina a substituí por mais horas de sono!
Eu também consegui olhar com mais consciência para algumas coisas: eu me cobrava muito pela rotina. Então se algum hábito não acontecesse, eu ficava frustrado e irritado. E essa não é uma boa forma de se iniciar o dia…
Eu estava em um estado automático. Hábitos são excelentes quando estamos presentes e conscientes do que estamos fazendo. Hoje em dia vejo uma cultura de criar hábitos repetitivos, que favorecem a falta de presença. Eu disse que a rotina era interessante, pois realmente funciona: podemos condicionar nosso cérebro a comandar as mesmas atividades de forma automática. Mas somos seres humanos e não computadores respondendo a códigos, não é?
Hoje a minha rotina é mais solta e mais leve. Sim eu gostaria de fazer aqueles itens todos antes das 8h, mas às vezes um filho não dormiu bem, ou eu não dormi bem, ou _____________ (complete). Então se eu não fiz de manhã, eu tento fazer à tarde, ou à noite. E se não deu, fica pro outro dia, sem crise.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu não acredito na multitarefa. Não é assim que funcionamos… eu vejo como sou ineficiente quando estou fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo.
Sobre isso que estou falando:
Apesar de não achar saudável, como muitas outras coisas, por muitas vezes eu me pego nessa situação. A cada vez que saio de uma atividade, vou pra outra e volto para uma, eu vejo que tem uma inércia pra retomar o que estava fazendo inicialmente. Tem sempre um momento de “recapitulação” que varia de 30 segundos a 10 minutos.
Eu tenho sim muitos projetos acontecendo na minha vida. Mas eu posso gerenciá-los para conseguir executá-los um de cada vez, sejam inteiros ou em partes.
Estou experimentando com sucesso uma técnica para também trazer mais presença para que eu não entre na multitarefa. Eu coloco um timer de 50 minutos, desligo todas as notificações (celular, redes sociais, etc) e foco no que tenho que fazer.
Ao final do tempo, eu saio da mesa por 10 minutos e faço o que quiser: whatsapp, twitter, youtube, xixi, chá, etc). Depois, antes de recomeçar um novo ciclo de 50 minutos, eu olho para a minha tela e vejo se abri muitas abas no navegador, se tem muitos programas abertos… enfim eu faço uma análise de 2 minutos para saber se entrei, e o porquê de ter entrado no multitarefa. E levo isso para o próximo ciclo de 50 minutos.
Essa experiência tem sido ótima para aumentar minha produtividade, minha sanidade e felicidade com o trabalho!
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?
Cara… tecnologia é uma ferramenta, e eu amo ferramentas. Sou engenheiro e gosto da frase que não sei quem disse: “não existe trabalho difícil. Se está difícil, estou usando a ferramenta errada”.
Eu não olho e-mail de manhã. Deixo sempre para depois do almoço. Só entro no e-mail antes disso quando tiver algum item da minha lista de to-do que precise responder algum e-mail.
Para me organizar eu uso duas ferramentas valiosíssimas: Todoist e Trello.
O Todoist é a minha ferramenta de execução: eu coloco todos os meus to-dos e lembretes. Eu uso a versão paga, que me permite usar etiquetas e lembretes por notificações. Inclusive eu processo toda a minha caixa de e-mail e jogo como to-dos no Todoist, tem até uma integração para o Gmail show de bola.
O Trello é a minha ferramenta de estratégia. Onde eu consigo ter uma visão mais macro dos meus projetos. A visão do kanban é imbatível para sair da execução e olhar para a estratégia.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Eu trabalho em um coworking em Jundiaí/SP. Eu uso música e fones de ouvido para me manter focado nos 50 minutos. O ambiente do coworking é legal para trocar ideias e conhecer pessoas. Sempre aparece alguma coisa interessante!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Putz, acho que quanto mais tento controlar esse processo, menos criativo eu sou. Insight é insight, cara… vem de um lugar que não tem fórmula, acho que é a única coisa esotérica que está embutida em toda a sociedade. Todo mundo tem insight e intuição… (risos)
Mas o que eu faço ultimamente é isso aí… tentar não controlar. Ouvir o outro ativamente, com paciência e de repente alguma coisa acontece. Ou não. Por isso a paciência também é uma chave.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Já fui muito perfeccionista e nunca valeu a pena. Estou caminhando para sair desse estado de controle, pois o perfeccionismo é isso… tentar controlar todos os resultados possíveis do meu trabalho. E saindo disso eu me permito errar mais, aprender mais e ter uma vida mais leve.
Pareto é o cara.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Todo mundo procrastina! Acredito nisso pois procrastinação é igual a medo. E todo mundo tem medo. Eu sempre dizia que eu estava “despriorizando um projeto” mas na verdade eu estava morrendo de medo de fazê-lo e por isso deixava pra depois.
Acredito também que preciso atravessar seja lá o que for, sentindo esse medo. E não atravessar correndo e gritando, de olhos fechados. O medo é uma ferramenta também… enquanto eu não sentir aquilo, as situações vão se repetir até que eu consiga ver o que preciso ver.
Estou falando de medo relacionado a projetos pessoais e profissionais, do tipo “nossa, mas o que os outros vão pensar” ou “e se eu não conseguir”. E não os medos de perigo de morte. Mas acaba que qualquer medo acaba parecendo uma situação de morte e me paralisa para não fazer um projeto, o que simplesmente não é verdade.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Elon Musk: Tesla, Space X, and the Quest for a Fantastic Future. Eu sempre fui bastante julgador da vida desse cara, sem conhecer nada. Então ouvi sobre o livro em um podcast e resolvi tentar. Foi em inglês mesmo, porque eu também testei ao invés de ler, ouvir o audiolivro no Audible (que só está disponível em inglês) e a experiência foi sensacional.
O livro é inspirador pois traz uma perspectiva de que tudo pode ser reinventado. O Elon Musk foi um cara muito ridicularizado, pois quis reinventar duas indústrias muito complexas e muito estabelecidas: a automotiva e a aeroespacial. Mas apesar de tudo que estava contra, as equipes dele entregaram. O que o cara fez é tão, mas tão “impossível” que eu ficava ouvindo o livro e torcendo a cada página!
Mais uma coisa sobre o livro em inglês. Vale a pena ler na língua original, pois além de aprender mais o idioma e ativar pontinhos escondidos do seu cérebro, você também capta a mensagem original que o autor escreveu.
Acho inspirador ler biografias. Somos todos seres humanos, no mesmo barco tentando viver essa vida aqui na Terra. Muitos já caminharam e estão caminhando por aqui e ler biografias dá a chance de ver o que os outros fazem/fizeram e com isso posso aprender muito.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
(risos) Ótima pergunta. Com exatamente vinte anos, eu gostaria de ter ouvido que a faculdade é uma opção. E que eu posso “hackear” o conhecimento para montar a formação que eu quiser… que não preciso seguir os cursos prontos e enlatados que existem por aí.
Queria ouvir também que o diploma não iria me servir muito… que o trabalho e a entrega contam muito mais que o diploma. Claro que no começo me abriu várias portas, mas também me colocou numa posição cômoda de jogar meu destino na mão do diploma.
Acredito que a formação é sim muito importante. Eu amo estudar. Mas do meu jeito, sem ter que seguir um currículo feito pra mim, pois só eu posso fazer o meu currículo de estudo. Hoje o conhecimento está mais disponível do que nunca. Você pode se conectar à internet e aprender literalmente o que quiser. Basta querer e se esforçar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Você quer dizer qual projeto tenho medo de começar? Ensaiei começar meu blog de tecnologia algumas vezes, até coloquei no ar por um tempo mas não vingou. Agora estou retomando, logo logo está no ar de novo com bastante foco. Esse é um projeto de muitos que tenho por aqui…
Gostaria de ler um livro sobre o dia a dia do Buda Gautama, ou sobre o dia a dia do Osho. Não da forma como existem hoje, mas contando sobre como eles enfrentavam situações rotineiras, como lidavam com problemas, bem de bastidores mesmo. Acho difícil, mas quem sabe?