Gustavo Mini é Head de Planejamento da agência digital DZ Estúdio e guitarrista e vocalista da banda Walverdes.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina de trabalho de manhã cedo. Eu acordo, tomo café da manhã, às vezes faço o café do meu filho e dou uma olhada nas notícias. Depois confirmo a agenda de trabalho do dia e a minha “to do list” particular.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Para os projetos particulares e as questões domésticas, eu costumo, nos domingos à noite, redigir uma lista do que preciso fazer ao longo da semana e determinar em quais dias isso será feito. No trabalho, eu costumo na sexta feira à tarde ou segunda de manhã alocar as horas da maior parte dos projetos no Google Calendar. Não quer dizer que esse planejamento todo vá se cumprir, mas isso me dá uma boa ideia do que eu tenho de tempo livre e do que preciso fazer na semana. Ter vários projetos acontecendo é uma constante na minha vida, não tem sido uma opção. É também da natureza do meu trabalho.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?
Eu tenho uma relação de semi-disciplina com a tecnologia. O e-mail não me atrapalha. O Facebook sim. Eu costumo entrar com uma certa frequência pra ver o que está rolando e preciso estar muito atento pra não entrar no modo zumbi, de ficar lá scrolando a timeline sem objetivos. Agora, em geral depois de uma determinada hora, uma ou duas horas antes de dormir, eu costumo desligar os eletrônicos. E não levo celular e tablet para o quarto à noite. E também não ligo o celular logo que acordo, sempre pego ele depois de uma meia hora já acordado. Em termos de ferramentas, o Google Calendar e o Google Keep são meus principais instrumentos de organização. E eu sou super fã do Instapaper, um aplicativo de armazenamento de links que uso para guardar e ler depois tudo que encontro ou recebo. Isso me impede de ficar com muitas abas abertas no computador ou interromper uma atividade pra ler algo por medo de perder o link.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Para determinadas tarefas sim. Quando eu estou absorvendo conteúdo ou então construindo alguma linha de raciocínio, eu preciso de tranquilidade durante um tempo contínuo sem interrupção. Trabalho em um lugar aberto, com muitas pessoas. Então, se eu preciso me concentrar, vou para uma sala de reuniões ou para o café da agência – quando está menos movimentado. Todo mundo faz isso na agência.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu tenho três modos para resolver problemas criativos e estratégicos. Um é fazer uma imersão no assunto, nas referências, nas fontes. O segundo é buscar diretamente uma solução. E o terceiro é fazer outra coisa mantendo aquele problema em stand-by. Eu funciono alternando esses modos. Eu funciono melhor em sessões curtas de criação na maior parte do tempo. Gosto muito de trabalhar sozinho também, mas sempre chega num ponto em que é preciso o olhar e a contribuição de outras pessoas. Não sou muito fã de brainstorms longos em grupo. Prefiro sessões curtas e estruturadas. Eu adoro metodologias de criação, ferramentas de visualização de processos, essas coisas. Na agência, inclusive criamos um processo chamado Jam, que usamos com frequência. Temos diversos frameworks proprietários que nos salvam em momentos de pressão.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Os métodos que eu citei acima são caminhos pra lidar com os bloqueios. Quanto à ansiedade ligada a projetos longos, eu resolvo com um planejamento minucioso do passo a passo do projeto e constantemente monitorando o progresso. Eu faço isso de maneira bem rudimentar, não uso ferramentas de projeto. O planejamento pra mim serve como calmante, não como a garantia de que vai dar certo. Tendo planejado, eu tenho uma visão do todo e uma tarefa para as próximas horas. Isso me acalma e desbloqueia a energia do trabalho. Depois, se for necessário, mudo o planejado. Quanto a perfeccionismo e expectativa, acho que aí é o trabalho interno da terapia e da meditação.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Acho que existe muito preconceito com a procrastinação. Às vezes, a procrastinação pode ser uma oportunidade de respirar, de abrir espaço para outra perspectiva, de se libertar de alguma agenda inutilmente rigorosa. Claro, tem aquela procrastinação que atrasa a vida da pessoa, mas acho que cabe aí uma avaliação individual. Talvez há pessoas que precisam aprender a não procrastinar tanto e pessoas cuja saúde passe por aprender a procrastinar. Eu mesmo sinto que tenho períodos pendendo mais para um lado e períodos pendendo mais para o outro. Então, nenhum conselho definitivo ou universal sobre produtividade funciona pra mim. Não acho que a produtividade seja um valor em si. O Eichmann, nazista responsável pela logística do transporte de judeus aos campos de concentração, considerava-se uma pessoa muito produtiva e eficiente. Há pessoas altamente produtivas que são arrogantes e prepotentes, que desmobilizam o grupo ao redor delas.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Muitos livros mexeram comigo. Na área criativa, eu citaria Perverse Optimist, que compila o trabalho do Tibor Kalman, designer que foi um dos criadores da revista Colors, da Benetton. Ele tinha uma abordagem de criatividade corporativa muito interessante, no limite de vários campos. Ele acreditava em olhar as coisas do avesso. Eu acho que a coisa mais inspiradora que existe são práticas contemplativas, práticas que nos ensinam a descobrir e explorar nosso mundo interno. Não existe perda de tempo quando se investe nisso tendo orientação adequada.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Eu gostaria de ter tido acesso mais cedo a processos formais de criação e estratégia. Eu tive alguns colegas e chefes que me ensinaram práticas criativas incríveis, mas aprendi a formalizar isso mais tarde do que gostaria.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho pelo menos um disco solo que gostaria de gravar e tocar ao vivo; também tenho algumas aspirações a respeito de formalizar processos de comunicação para ONGs e entidades sociais; tenho planos de retomar algum tipo de blog; entre muitas outras coisas. Livros nem se fala. A lista é grande.