Geovana Madeira Narcizo gere o Banco de Tempo de Florianópolis e faz maravilhosos doces sem açúcar.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina varia ao longo do mês, pois acompanha meu ciclo menstrual. A depender do momento do ciclo, posso estar focada e acordar cedo durante uma semana, seguindo uma rotina estrita. O que pode mudar logo na próxima. Minha rotina matinal geralmente começa com o check up desse ciclo, anotações referentes a como me sinto, o que sonhei, conferência das atividades do dia e organização da casa, junto com o cuidado do bebê.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Vários projetos acontecem sempre ao mesmo tempo, não por escolha mas por natureza. É muito louco administrar o tempo trabalhando e sendo mãe. Em momentos de foco é possível dedicar atenção intensa à bebê no período em que ela está acordada, e alio as atividades domésticas com esse cuidado envolvendo-a nessas atividades, assim vira brincadeira. O “tempo livre” para trabalhar dá-se nas horas de sono. De manhã, quando levanto antes dela, depois do almoço e madrugada adentro. A soma total de tempo disponível é pouca, mas é incrível quanta produtividade uma mãe atinge com o que tem. Além disso, a bebê acompanha a todos os lugares exigidos pelos diversos projetos, e se adapta muito bem.
Em momentos de não-foco, projetos, trabalho, maternidade e casa se misturam, nenhum deles fica bem feito e o estresse acontece.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
A tecnologia basicamente permite que todos os meus trabalhos aconteçam. Minha produtividade está relacionada a como divido meu tempo, especificando previamente (uso a ferramenta virtual Trello) quais são as prioridades e ao sentar no computador faço o mais importante primeiro. Só respondo as mensagens, mesmo pessoais, por último, e às vezes elas ficam não lidas por dias. Ao trabalhar de madrugada (“meu momento”), que é quando mais tenho horas para isso, sei exatamente a ordem de tudo o que vou fazer, preparo um chá, ligo um incenso, dou play em algum som binaural ou pnl e começo!
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Idealmente sim, mas no contexto familiar, que é meu ambiente de trabalho, é praticamente impossível. Meu ambiente de trabalho é minha casa, com barulho, interrupções, e a bagunça sendo constantemente arrumada, pois trabalha-se melhor quando as coisas estão minimamente em ordem.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Criatividade é natural para mim. As ideias vem naturalmente como pop-ups, geralmente relacionados a algum problema que me incomoda (a criatividade vem para solucionar) e também da relação com as pessoas. O problema aqui seria conseguir dar vazão e materializar o grande fluxo de ideias.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A relação com as pessoas no ambiente de realização de projetos me vem mostrado que o ideal é poder focar em uma coisa de cada vez, dar o seu melhor e “soltar”, esperando o resultado livre de expectativas. No entanto, tem sido um processo aderir a essa nova forma de trabalhar enquanto abandono a fantasia do multitask gerador de ansiedade.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Atualmente funciona pra mim bloquear a autosabotagem definindo prioridades de longo, médio e curto prazo, inclusive diárias. Primeiro as primeiras coisas.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Difícil dizer. Minha vida é muito regida pelos autores que li e leio. Absorvo e aproveito um tanto de cada, agregando-os à minha caminhada. Mas um dos autores mais importantes foi Bill Mollison, que com seus conceitos de permacultura introduziu uma visão de “rede” na qual me baseio muito para “surfar no fluxo do universo”, mas que aprendi muito mais na prática.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Bom, ainda estou nessa faixa etária então acredito que ainda aprenderei muito. Provavelmente se ouvisse os conselhos no futuro não os seguiria, aprenderia mesmo na prática.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero dar início/continuidade ao movimento anti-desperdício e lixo-zero em Florianópolis, formando uma rede de projetos práticos e legais que atuem na conscientização e reaproveitamento de alimentos e materiais que são diariamente desperdiçados na cidade, encaminhando-os para projetos sociais. Também estou aguardando o momento certo para lançar um projeto social de autoconhecimento e autocuidado para meninas.
A lista de ideias e livros na fila de espera é longuíssima… mas os próximos da lista estão relacionados à desescolarização e ao feminismo.