Fátima Teixeira é pianista profissional e criadora da Master of Simplicity Magazine, revista internacional sobre minimalismo e vida saudável.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia sempre começa observando a minha bebé que tem sido a minha inspiração e força interior. Cada madrugada ou manhã são diferentes. Como ela ainda acorda de noite e sou eu que cuido dela a tempo inteiro, aproveito momentos singelos em que ela dorme para meditar, rezar, organizar o meu trabalho, traçar prioridades, escrever ou outras tarefas associadas. Não consigo ter uma hora específica nem uma rotina marcada pois a prioridade é a bebé. É diferente do que estou habituada, mas aceito e vivo este momento com muita gratidão.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu prefiro ter o mínimo de projetos ao mesmo tempo para concentrar-me neles com toda a intensidade. Ao longo do dia vou apontando aquilo que é importante fazer na minha agenda e no primeiro momento possível tento realizar. Geralmente, nos dias em que a bebé está mais agitada ou dormindo pouco, eu prefiro trabalhar à noite depois que ela adormece e que consigo um tempo para mim.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
Tenho uma excelente relação com a tecnologia. Sou muito desenrascada e sinceramente gosto muito da praticidade e da proximidade que a tecnologia permite, especialmente porque sou emigrante. Utilizo muito o e-mail sobretudo na minha revista para comunicar com leitores e autores. Considero que o telemóvel (celular) interrompe mais a produtividade, mas não o tenho desde Fevereiro de 2016. Para me manter organizada utilizo agenda, Evernote e Airtable.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
O que eu preciso mesmo é de paz e de um ambiente saudável. Como diretora da revista, pianista profissional, professora e regente, eu já trabalhei em muitos lugares diferentes. Se puder escolher, prefiro locais limpos, sem distrações, com o mínimo de coisas e uma música de fundo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A maior parte das minhas ideias surgem nos momentos em que estou comigo mesma. As situações mais comuns são meditando, rezando, tomando banho, admirando o mar, ouvindo música ou deitada na cama. É verdade! O único hábito indispensável é o de apontar ou gravar logo a ideia para não esquecer.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu tenho tendência natural para ficar preocupada se surge um bloqueio e algo não “soa” no meu agrado. Antes de ficar grávida, eu simplesmente fincava no trabalho até conseguir o resultado que queria, mas agora com a bebé tenho aprendido a parar e a dar tempo até encontrar o momento mais oportuno. Já aconteceu ir no carro e, sem pensar no problema, surgir a solução em minha mente. Então, tudo se resolve, mesmo sem ser quando ou do jeito que queremos.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Nos anos de 2012 e 2013 experimentei todas as técnicas que encontrei de organização e produtividade. A verdade é que muitas delas fizeram-me perder mais tempo na técnica do que na organização propriamente dita. Descobri que a solução para mim era o minimalismo enquanto estilo de vida, resumidamente trata-se da seleção e foco naquilo que é importante e a remoção de tudo o que está sendo distração. Deste modo, a minha vida mudou, pois preenchi-a apenas com coisas que me fazem bem e que adoro (como procrastinar fazendo o que você gosta?). Eliminei também o que me desviava do propósito e, além de ser algo dispensável, me fazia perder tempo, como por exemplo a televisão. Ao eliminar “tralhas” em casa, consegui ganhar tempo para mim e gastar menos tempo em limpezas ou arrumações. Consequentemente a procrastinação diminui e a produtividade aumenta. O segredo está essencialmente na sua mente. Se ficou se questionando sobre a televisão, eu não sinto falta dela, nem do microondas, nem do telemóvel… em casa vivemos essencialmente da música e optamos unanimemente por um estilo de vida saudável.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Não tenho um livro preferido, mas sim diversos que mudaram ou melhoraram algo em mim. O Caderno Diário (no Brasil conhecido por O Diário da Nossa Paixão) de Nicholas Sparks foi um dos primeiros livros que li na adolescência e que me tocou profundamente devido à abordagem feita ao amor e à doença (Alzheimer). Leo Babauta e Joshua Becker são os meus autores favoritos pois foi com eles que conheci o minimalismo. Recentemente tenho lido o livro Ecologia Emocional: a arte de cultivar sentimentos positivos, que aborda o modo como os nossos sentimentos também necessitam de cuidado e de “reciclagem”.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Ahah! Não sei se teria dado ouvidos pois geralmente o que não faltam são sinais e conselhos se estivermos mesmo atentos e receptivos. Por vezes, precisamos também da maturidade e do momento certos.
Eu tenho consciência que tanto vivi intensamente os momentos que quis, como fui demasiado ingénua ao acreditar em muita coisa que ouvia e, ainda, confiar demais. Acho que teria sido interessante alertarem-me logo nesse momento que devia confiar mais na minha intuição, mas também reconheço que algumas coisas desenvolvemos com o tempo e com a vivência. Hoje sem dúvida sigo a minha intuição e tenho uma análise bem definida sobre a minha pessoa para saber o que quero.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Para já, há um projeto que eu já comecei mas que ainda está muito verde: é o livro que estou escrevendo. Comecei quando estava grávida, mas com o nascimento da minha filha e a inauguração da revista, tive de selecionar prioridades. Pretendo retomar o livro assim que possível, uma vez que é algo que me dá imenso prazer e que quero partilhar com todos. Assim, posso afirmar que, apesar de ainda não existir, gostaria de ler o meu próprio livro, sim!