Daniel Sollero é publicitário, Head da Socialyse no Brasil.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu geralmente acordo bem cedo, dou uma corrida três ou quatro vezes por semana, tomo café da manhã com calma enquanto assisto o jornal na TV. Procuro não olhar as redes sociais e e-mail até estar pronto para sair para a agência. Mas às vezes não tem jeito e acabo recebendo mensagens em que tenho que me envolver.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Acho que acabo administrando meu tempo da única maneira que sei: anotando na agenda. O que está lá acaba sendo o meu dia. Pelo menos em relação ao trabalho. Quando tenho projetos paralelos acabo usando horários fora da agência para isso, de preferência à noite e nos finais de semana.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?
Tecnologia ajuda bastante e na agência temos algumas ferramentas internas para evitar isso, mas os e-mails ainda predominam. O que tenho notado é que os apps de messaging são os piores quando falamos de interrupção. Grupos de Whatsapp do trabalho ou Slack, etc interrompem bastante durante o dia.
Eu uso os apps Fantastical e Wunderlist para organizar a minha agenda e tarefas, Expensify para controlar os reembolsos, 1Password como gerenciador de senhas e Dropbox para ter tudo à mão. Gosto do muito do Spark como cliente de email também.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Meu lugar de trabalho geralmente é só uma mesa, cadeira e o laptop. Gosto de usar mouse ou Trackpad quando fico muito tempo trabalhando.
Sobre silêncio, com filhos pequenos ter silêncio não é bem uma opção. Então, não preciso de silêncio mas quando preciso realmente focar, eu coloco um fone antirruído e ouço música. Acabo fazendo o mesmo no trabalho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acredito que as ideias vem das associações que fazemos das coisas que vivemos e que somos expostos. Eu leio, vejo filmes e séries e me aprofundo bastante em assuntos que tenho interesse. Acho que esse é o mínimo para abrir espaço para que essas associações aconteçam.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que todo mundo tem esse medo de não corresponder às expectativas e, pelo menos na publicidade no Brasil, vejo que não estamos preparados para projetos longos. E eles são os mais difíceis mesmo. Outra coisa que ninguém fala a respeito é o que acontece logo após o lançamento de um projeto. Há um marasmo que não é muito abordado. Por que antes do lançamento ficamos muito focados em fazer o negócio acontecer e quando ele vai para a rua dá uma sensação de dever cumprido e, muitas vezes, não há tantos estímulos para continuar trabalhando, o deadline já passou e você cumpriu essa etapa. Dá um vazio super estranho de “o que eu tenho que fazer agora?” Acho que o lance é não desanimar e sempre procurar ter um roadmap claro para o seu projeto, para que você sempre tenha algo para melhorar nele. E, na minha experiência, posso dizer que sempre tem.
Já sobre o bloqueio criativo, eu fiz um app para iOS chamado Brainstormr que era exatamente para quebrar bloqueios criativos em estratégias digitais. Eu me baseei na mecânica do Oblique Strategies, do Brian Eno (que usou isso quando estava no estúdio com o David Bowie) e adaptei para o mercado que eu conhecia. Foi ótimo e agora estou considerando a V2, já que a primeira está totalmente desatualizada. Mas uma maneira de sair do bloqueio criativo acho que é ser desafiado a sair da maneira de pensar que você está seguindo, é tentar outras abordagens e continuar tentando. Muitas vezes, uma decisão errada pode levar à solução que pode te tirar do bloqueio criativo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Eu definitivamente não sei lidar com procrastinação. Como quase todo mundo, eu adio muitas coisas. Não tenho dicas para melhorar isso. Acho que depende de cada um e dos prazos que cada um tem que cumprir. Acho que toda aquela história de GTD não funciona para mim. Nunca tive essa disciplina toda, mas acho que a história de quebrar tarefas grandes em pequenas e fazer um checklist realmente ajudam. Não resolvem, mas ajudam. Tudo depende de quem vai ser a pessoa que vai fazer isso.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Vou roubar no jogo e falar de dois livros. O primeiro foi o “Get Back in the Box”do Douglas Rushkoff. Eu adoro os livros dele e nesse ele fala de uma coisa super legal que é: “não sai da caixa”. Faça bem o que você se dispôs a fazer. É uma pegada para empresas, mas que faz muito sentido e é super importante lembrar toda hora. E o outro é o Rework, dos caras da 37Signals/Basecamp, em que eles vão mostrando que é possível ter seu projeto paralelo/pessoal e colocar ele de pé. Quando criei o moovee.me, uma rede social de reviews de filmes em 140 caracteres, esse livro era uma bíblia para mim. Várias dicas dele eu usei na época e mesmo hoje vejo gente se surpreendendo com o que o livro ensina.
Eu acho que ler e aprender sem que peçam são coisas complementares. Você aprende por você e não por conta dos outros, acho que isso que vai fazer com que você cresça. A gente tem que se manter curioso. Sempre.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Aceite que você não sabe tudo e ouça mais as experiências dos outros. Acho que os jovens, ontem, hoje e sempre são ansiosos e impacientes e arriscam mais, mas algumas experiências não são tão necessárias. Então, ouvir quem tem um pouco mais de experiência poderia ter sido legal. Mas tem toda aquela história de batalha entre as gerações e tudo mais. É ridículo o que vou falar, mas aquele filme em que o Robert DeNiro é o estagiário da Anne Hathaway mostra muito que esse embate muitas vezes é uma besteira. Todo mundo tem alguma coisa a acrescentar. Só temos que estar abertos a isso e saber filtrar. Porque às vezes não vem a resposta, mas vem a pergunta que te faz resolver o que precisa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Queria fazer uma ferramenta para atualização de conteúdo em Redes Sociais que fosse efetivamente preparada para tal e para clientes com formatos diferentes. De todas as ferramentas que usei até hoje, quem tem que se adaptar somos nós e não o software.
Queria ler algo que fosse como um diário de bordo das turnês mundiais das grandes bandas. Entender o mundo desses caras e tentar matar um pouco de todo o glamour dessa história. Acho que tem uma hora que mesmo isso vira um job e aí a diversão meio que morre junto. Tem um filme do Radiohead que é bem por aí. Acho que o nome é Meeting People is Easy. Mas queria ler esse diário de bordo para entender os dois lados. O do exagero e o lado chato.