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Como trabalha Camila Renaux

28 de janeiro de 2019 by José Nunes

Camila Renaux é especialista em Marketing Estratégico e Marketing Digital e pós graduada em Inteligência Artificial para Negócios pelo MIT.

Como você começa o seu dia? Você tem algum ritual de preparação para o trabalho?

Tenho sim! Costumo seguir um modelo que é exposto no excelente livro O Milagre da Manhã, do autor Hal Elrod. Costumo acordar muito cedo, entre 05:00 e 05:30. Com a casa em silêncio, mentalizo aquilo que quero realizar no dia para então sair para minha corrida diária. Depois do exercício físico me sinto mais disposta para começar o dia e tomar café da manhã com minha filha de 4 anos. Seguir esse ritual faz com que eu inicie meu dia de trabalho muito mais focada e sem nenhuma preguiça matinal!

Como você organiza sua semana de trabalho? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

Faço programações semanais para minha rotina, a partir de cronogramas e escopo de trabalho que são fechados com meus clientes de consultoria e com a agenda de cursos e eventos que realizo em todo o país. No final do dia reservo alguns minutos para revisitar essa agenda, me preparando para o próximo dia e já ajustando algum detalhe caso tenha surgido um imprevisto. Essa organização é indispensável para manter meus prazos em dia. A ferramenta que mais utilizo é a agenda do Google, que está integrada com meu celular e meu e-mail. Um ponto que também gosto de manter em dia é minha caixa de entrada, gosto de encerrar o dia com todos os e-mails respondidos ou pelo menos, planejados para resposta no dia seguinte.

Como costuma ser o seu local de trabalho? E o que muda na sua rotina quando você viaja?

Trabalho em meu escritório e também em home office, quando é possível. Prezo muito por um ambiente calmo e silencioso. Me ajuda a manter o foco e a energia em alta. Como visito clientes e faço reuniões e treinamentos com frequência, um ambiente mais silencioso também ajuda a recarregar a energia, apesar do dia a dia cheio de atividades. Quando viajo a rotina muda, mas sempre tento encaixar a atividade física no início do dia e fazer pausas em algum local mais isolado para responder demandas ou ligações urgentes. O trabalho em algum projeto não acontece, programo isso na agenda semanal para evitar que precise ser criativa ou fazer análises aprofundadas em algum ambiente pouco propício para isso, como aeroportos. Confesso que fico impressionada com pessoas que conseguem trabalhar normalmente em um avião, meu limite é a leitura ou respostas rápidas pelo WhatsApp, Redes Sociais e E-mail.

Como você se organiza ao dar início a um novo projeto? Você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?

Planejo tudo antes! Meu trabalho exige isso, minha principal atividade profissional em Consultoria é o Planejamento e Cronograma de Ações de Marketing. Claro que aprendemos a respeitar os momentos em que imprevistos acontecem ou que simplesmente não estamos conseguindo prosseguir com determinada tarefa. Como tenho toda a semana planejada, faço encaixes. Assim meu cérebro descansa alternando a tarefa, mas não há gargalos por deixar atividades acumularem. É uma forma de “deixar fluir” mais controlada. Esse modelo funciona muito bem para mim e me dá mais tranquilidade para trabalhar de forma focada.

Quais são seus maiores ladrões de tempo e como você lida com eles?

A procrastinação e o celular. O primeiro é aquela coisa de “primeiro um café, aí inicio tal tarefa”, isso acaba roubando 15 minutos aqui, outros ali e quando você se dá conta, não cumpriu a agenda. O celular também distrai, especialmente WhatsApp e Redes Sociais. Para evitar esses gargalos de tempo, planejo na agenda os momentos de conferir o celular. São blocos de 30 minutos, quando respondo demandas e também me distraio acompanhando as redes sociais, como o Instagram e o Linkedin. Apesar de trabalhar com isso e precisar rotineiramente acompanhar as redes, não faço isso sem planejamento. O motivo é a distorção do tempo que faz com que pareça que foram 5 minutinhos, mas na verdade se passaram 20. A procrastinação é uma questão comportamental, por isso tento pensar assim: “quando terminar a tarefa x, terei 30 minutos de pausa na agenda, então vou começar logo e tentar ter 35”. É um modelo mental que funciona para mim, uma espécie de competição com o meu próprio foco e também um sistema de recompensa, já que tento primeiro fazer o que precisa ser feito e então usufruir do meu tempo de pausa planejado.

Como você lida com bloqueios criativos como o perfeccionismo, a ansiedade e o medo de não corresponder às expectativas?

Eterno aprendizado. A organização e o planejamento deixam a ansiedade sob controle. O perfeccionismo é disciplina, estou sempre pensando “melhor feito do que perfeito!” Em Marketing Digital e Gestão de Projetos, nos quais temos uma grande quantidade de tarefas e detalhes a serem realizados o perfeccionismo é um tiro no pé, vale mais a agilidade e a qualidade das informações. Com o passar do tempo, vamos interiorizando isso, aprendendo a não ficar horas tentando fazer um relatório ficar impecável e sim, com informações relevantes, o mais rápido possível. Para isso existe a versão 2, as melhorias, etc. Mas é um aprendizado diário, um desafio para todos. Para o medo das expectativas, é necessário seguir a Fórmula da Satisfação, um vídeo que tenho em meu canal no YouTube. Satisfação é o resultado entre o que esperamos (expectativas) e o que realizamos (entregas). Para estarmos satisfeitos e sem medo, há duas escolhas simples: fazer e entregar mais ou diminuir as expectativas. Quando me defronto com isso tento fazer meu melhor e entregar mais ou pegar mais leve comigo e diminuir a expectativa sobre a atividade. Funciona super bem!

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Sou mais criativa quando compartilho com outras pessoas, o brainstorming, a conversa, me traz muitas ideias! Essa troca é sempre rica. Gosto muito de discutir ideias e conversar com outras pessoas. Outra forma de me manter criativa é acompanhar o mercado, ler bastante, assistir séries e documentários. Sempre saio cheia de ideias e insights! Não precisa ser sobre trabalho, um filme de aventura pode ser tão inspirador quanto um livro sobre negócios, a cultura geral é uma forma muito interessante de se manter inspirado.

Que livro você mais tem recomendado para outras pessoas? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

O Milagre da Manhã, O Poder do Hábito e Trabalho Focado, do Cal Newport, estão em minha lista constante de indicações. São livros contestadores e transformadores, mas que não tentam empurrar verdades absolutas, e sim, apresentam possibilidades. Adoro ler biografias! Histórias reais, que apresentam pessoas que admiro como seres humanos, com falhas, problemas e imprevistos – e a forma como os superaram – sempre me encantam.

Que conselho você queria ter ouvido no início de sua carreira? Com o que sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria diferente?

Tenho para mim que fiz o melhor que podia com os recursos que possuía. Inclusive, evito pensar assim “deveria ter feito x, y ou z”. O aprendizado é isso, é posterior aos fatos. Não podemos saber antes de aprender, não é mesmo? Sobre conselhos, sou muito grata a todos que recebi. Tive o privilégio de ter professores, mentores, familiares e amigos que sempre me incentivaram e apoiaram, apontaram coisas a melhorar quando era necessário. Um conselho que gosto em particular foi um que recebi dos meus pais, que disseram que nada era para sempre, nem o sucesso nem o fracasso. Isso ajuda a nos manter em evolução. Também lembro com carinho de um professor que me disse “sorte é a sua preparação para a oportunidade, ela virá, em algum momento; esteja preparada para agarrá-la quando surgir”. Essa frase me marcou muito, deixou claro que sorte é fazer acontecer também, as oportunidades surgem, mas se não estivermos prontos/preparados, elas não podem ser aproveitadas.

O que você talvez faria se não tivesse seguido sua carreira atual? Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?

Amo tanto o que faço, Marketing e Digital são minhas paixões! Se não atuasse com essas áreas, gostaria de seguir algo ligado à tecnologia, outra área que amo. Entre os projetos que vou iniciar está a construção de cursos online, para pode ensinar Marketing Digital àqueles que não podem estar presencialmente comigo. Esse é um super desafio para esse ano que se inicia.

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Como trabalha Jader Pires

28 de janeiro de 2019 by José Nunes

Jader Pires é escritor, autor de Ela Prefere as Uvas Verdes, Do Amor e Deserto Negro.

Como você começa o seu dia? Você tem algum ritual de preparação para o trabalho?

Não. Na verdade eu sou um escritor bem organizado, mas não acho interessante manter rotinas. Tenho etapas (gosto de matar uns e-mails primeiro, tirar da frente o que é tirável da frente, divulgar meu trabalho nas redes, conversar com pessoas sobre meu curso ou meu projeto de escrever a história das pessoas, o Cartas de Amor, e depois ter um período maior de tempo pra poder escrever com mais atenção, com mais calma. Mas não necessariamente acontece assim.

Uma coisa que gosto de respeitar é escrever de dia. De preferência à tarde (como disse, gosto mais de tirar coisas da frente e a manhã costuma ajudar bem nisso), pra noite ser só dos pensamentos ou de poder, enfim, absorver outras leituras, ver filmes, ter ideias e discutir ideias.

Pode parecer muito um ritual, hahaha, mas é algo bem solto.

Como você organiza sua semana de trabalho? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Depende das demandas. Tenho minhas aulas do curso marcadas, as entrevistas do Cartas de Amor também, e partes dos meus projetos, escrever meus contos pra internet, desenvolver meus projetos de livros etc.

Não tenho ferramentas de organização, tenho uma cabeça boa pra saber o que trabalhar primeiro ou com mais tempo, com mais atenção, com mais afinco, o que passar na frente e tudo o mais. Sempre fui muito organizado e produtivo nesse sentido.

Como costuma ser o seu local de trabalho? E o que muda na sua rotina quando você viaja?

Tenho uma mesa com três ou quatro cadernos de anotações, umas coisas dos meus livros (pôsteres, um coração em resina que foi junto com alguns exemplares do meu livro Do Amor), e mais nada. Não gosto de deixar papeis soltos ou acumular coisas. Livros na biblioteca, tranqueiras nos lugares de tranqueiras.

Viajar não muda a rotina não. Preciso de um computador e meus cadernos. Se tudo isso estiver na mochila, me viro bem.

Como você se organiza ao dar início a um novo projeto? Você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?

Planejo tudo. Com flexibilidade de tudo mudar de eixo, mas sempre planejado. Escrever um livro é sentar e organizar a história, planejar e daí escrever, com horários colocados, com um ritmo ditado. Não acho que deadline ajude muito, mas há que se botar na cabeça que tem que ter um ritmo, pra coisa toda andar. Daí podemos atrasar, refazer, modificar, ir pra outra direção. Mas ir. Não ficar parado pensando o que seria ou o que será.

Idem para os outros trabalhos. Entrevistas do Cartas de Amor tem hora e tempo determinado, deixo uns dois ou três dias as anotações descansando mas daí sento pra rascunhar, pensar, desenvolver e escrever, com tempo, mas uma data aproximada de quando quero entregar.

Não dá pra ser escritor se a gente espera as ideias caírem quando elas querem e não quando a gente pede gentilmente.

Quais são seus maiores ladrões de tempo e como você lida com eles?

Eu sou meu maior ladrão de tempo. É uma coisa interna. Encontrar a real atenção de algo.

Se a gente se distrai, é porque ainda não achou o real propósito, a real disposição pra fazer o que está fazendo. Daí é entender o que te move, o que te faz sentar e escrever. Encontrando a motivação real, você só senta e escreve.

Redes sociais, celular, pessoas, game, televisão, sexo. No final, as causas são internas e não essas citadas. Elas são só o escape pra sua atenção que não quer se voltar pra escrita.

Como você lida com bloqueios criativos como o perfeccionismo, a ansiedade e o medo de não corresponder às expectativas?

Escrevo e publico. hahaha.

Quando você tem uma coluna quinzenal, o texto vai sair a cada quinze dias. Não tem discussão.

Não há criatividade passiva, perfeccionismo, ansiedade ou medo que faça uma coluna durar quatro anos ou uma carreira independente perdurar por doze se você se prende pra escrever. O lance é desenvolver técnicas pra que as ideias venham, e entender como você escreve, como suas histórias são contadas, que intenção você tem ao contar essas histórias. Se você sabe o que quer e pra onde quer ir com isso, não tem trava. Pode haver, de novo, contratempos, atrasos, mudança de rumos. Mas isso faz parte. Agora travar, parar, ficar esperando, passivo. Isso não dá.

Não é sustentável.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Ah sim, o olhar. É ele que faz com que eu encontre histórias boas em todos os lugares e coloque minhas impressões, como elas funcionariam em um texto. Trabalhar com histórias do cotidiano é justamente isso. Um cara, jogando o cigarro fumado na calçada, na frente da banca de jornal. Como essa história vira um conto bonito?

A gente entende os “como” e os “porquês” e, com a nossa intenção, vamos achando os recortes certos pro nosso texto.

Que livro você mais tem recomendado para outras pessoas? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Cara, boto sempre o Pergunte ao Pó, do John Fante, e o Lavoura Arcaica do Raduan Nassar. Tem muito nesses dois livros. Muito demais.

Não sei se entendi a segunda pergunta, mas inspirador pra mim é saber estar no lugar quando se está em algum lugar. Disponível, atento, de fato lá. É isso. Quando estamos com atenção, as coisas são naturalmente inspiradoras. Uma garota falando contigo ou com outro cara num bar, o jeito com que um cachorro passeia na rua ou uma tiazinha faz compras no mercado. Tudo fica interessante, porque você tem interesse nas coisas.

Aprendam isso. A perder a distração, não estarem em outros lugares ou em outros pensamentos quando estão em algum lugar ou com pessoas. Estejam disponíveis. Atentas. É isso.

Que conselho você queria ter ouvido no início de sua carreira? Com o que sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria diferente?

O conselho que eu queria ter ouvido era pra confiar mais no meu taco.

Não tem como cogitar o que faria diferente. Se o fizesse eu seria outro. Melhor? Vai saber. Pior? Não sei. Pela segurança das coisas, fico como estou. hahaha.

O que você talvez faria se não tivesse seguido sua carreira atual? Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?

Sempre fui uma pessoa artística. Pixação, grafite, música, bandas, poesia. Eu sempre fui caminhando com essas coisas do lado. Eu acabaria virando algum tipo de artistazinho metido a besta (espera aí…) ou uma pessoa muito frustrada de terno e gravata.

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Como trabalha André Tamura

28 de janeiro de 2019 by José Nunes

André Tamura é co-fundador e diretor da WeGov.

Como você começa o seu dia? Você tem algum ritual de preparação para o trabalho?

Eu e a minha esposa somos sócios e temos uma filha de 2 anos, portanto ter uma rotina organizada é fundamental. Moramos em Florianópolis e conseguimos nos preparar juntos para começar o dia na empresa. Acordo entre 6h30 e 7h, leio durante 15min, respiro um pouco e eventualmente faço uma corrida / caminhada, enquanto “as meninas” estão acordando. Tomamos café da manhã juntos. Eu normalmente como um ovo cozido, bebo suco e café puro. Deixamos nossa filha na creche e dirigimos até a empresa, o trajeto é longo (vamos mudar para perto, em março), mas agradável. Aproveitamos para conversar sobre a WeGov e definir algumas coisas que estão acontecendo. Sento para trabalhar perto das 9h30. É um ritual incorporado, e quando essas etapas acontecem calmamente, o dia fica muito melhor. Em 2019, a creche da minha filha ainda não retomou as atividades, então não é exatamente assim que tenho iniciado os dias…

Como você organiza sua semana de trabalho? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Uso alguns aplicativos para ajudar, pois minha mente é muito digressiva. São eles: Things, para tarefas e links de úteis; Ulysses, para escrita; DayOne, para diário e; RescueTime, para monitorar atividades. Além disso, acabo cuidando também de parte da organização da semana de trabalho da equipe. Para isso, usamos o Basecamp.

Aos domingos, costumo reservar um tempo para deixar os e-mails zerados. Olho para a agenda da semana para ter a percepção geral. Tenho um Moleskine para anotações manuais rápidas que escrevo um parágrafo sobre algum item ou expectativa para os próximos dias. É raro eu trabalhar em coisas mais densas, “deep work” durante os fins de semana ou viagens. Quando a semana tem viagens agendadas, eu consulto as rotas e tempos dos deslocamentos.

Como costuma ser o seu local de trabalho? E o que muda na sua rotina quando você viaja?

Amo minha mesa. Notebook, mousepad e fones. Sempre tenho algum livro na mesa, que estou transcrevendo ou usando como referência para algum trabalho atual. A sala da WeGov é muito agradável, o clima da empresa e as pessoas são inspirações para o trabalho. Nos últimos anos tenho viajado bastante e sinto falta da empresa, da mesa. A rotina aeroporto, Uber, hotel não me agrada tanto quanto estar “em casa”. Pensando bem, o fato de acordar e não ter o ritual matinal com a esposa e filha, é o que muda quando estou viajando. E isso definitivamente tornam os dias menos agradáveis.

Como você se organiza ao dar início a um novo projeto? Você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?

Todos os meus projetos nos últimos quatro anos foram na WeGov. no começo apenas eu e minha esposa tínhamos que nos planejar para executar. Com a equipe aumentando, e as mudanças muito rápidas, os planejamentos acabaram ficando muito caros. Hoje, na WeGov, temos muitas ideias e temos trocado “planejamento” por “experimento”, deixamos fluir muito mais do que planejamos tudo antes. Da ideia à execução conseguimos usar pouco tempo. Para você ter uma noção, em 2019 nós não fizemos planejamento estratégico anual e seguimos alinhados executando os projetos. A minha rotina tem bastante autonomia e flexibilidade, também gosto de experimentar e estar aberto às possibilidades e impossibilidades.

Quais são seus maiores ladrões de tempo e como você lida com eles?

Redes sociais. Tenho que ficar atento. Uso um aplicativo chamado RescueTime, que monitora as atividades. Durante 2018, tive uma “produtividade total” de 76%, então de cada hora no computador, passo aproximadamente 15 minutos em distrações. Twitter, Instagram e WhatsApp são as que mais uso. O Facebook eu já desinstalei do celular. Não deixo as notificações habilitadas para nenhum aplicativo.

Como você lida com bloqueios criativos como o perfeccionismo, a ansiedade e o medo de não corresponder às expectativas?

Eu busco mais disciplina do que motivação. Corresponder às expectativas não ocupa muito espaço nos meus pensamentos. Por incrível que pareça eu trabalho melhor com prazos mais curtos, já tentei até criar “prazos falsos” (não funcionou). Até hoje, tive a sorte de entregar todos os projetos na data, mas já deixei muitos para última hora e consegui alcançar uma certa “inspiração da véspera”. Ao longo dos anos, consegui desenvolver bastante minha criatividade e outras competências que me tornaram um profissional melhor. Parte da minha rotina de trabalho serve para isso mesmo. Para que esses bloqueios apareçam menos vezes.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Leio muito. Faço fichamento e transcrição das leituras e com isso as ideias não param. Estou sempre produzindo novos conteúdos para os serviços da WeGov. Não cultivo “dois departamentos”, tipo vida pessoal x vida profissional. Essa integridade contribui muito para me manter criativo, a chave não vira. Qualquer brincadeira com minha filha ou um jantar preparado com minha esposa (e sócia) são pratos cheios para alimentar as ideias e produzir mais e melhor.

Que livro você mais tem recomendado para outras pessoas? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Atualmente o livro que mais recomendo são, os três livros do Yuval Noah Harari (Sapiens, Homo Deus e 21 lições para o século 21), especialmente Sapiens. Eu acho fascinante ler sobre a nossa humanidade, nossas histórias e nossos comportamentos. Como disse na pergunta anterior, eu leio bastante, nos últimos 3 anos, li 79 livros.

Que conselho você queria ter ouvido no início de sua carreira? Com o que sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria diferente?

Você só vai encontrar o trabalho que gosta, trabalhando. Portanto, no começo, trabalhe em tudo que for possível. Experimente rotinas, ambientes e pessoas. Teria trabalhado em outras coisas.

Eu tive sorte de encontrar um trabalho que não preciso separar vida profissional de pessoal, e acho que essa integridade é muito conectada com a satisfação na vida.

O que você talvez faria se não tivesse seguido sua carreira atual? Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?

Eu provavelmente seguiria uma carreira na área de entretenimento. Música, esportes ou arte. Não necessariamente como cantor, jogador ou pintor, mas em algo relacionado às atividades desses segmentos. Quem sabe não consigo encontrar um ponto de encontro entre meu trabalho atual e esses universos.

E, claro, escrever um livro. Quero começar ainda esse ano.

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Como trabalha Carloz Torres

28 de janeiro de 2019 by José Nunes

Carloz Torres é publisher na Editora Essencial.

Como você começa o seu dia? Você tem algum ritual de preparação para o trabalho?

Não tenho ritual. Acordo às 6h da manhã pensando em livros e escritores. Gosto de um café fresquinho enquanto fico por dentro das notícias pela internet ou tv. Tenho um painel grande aonde fica a agenda e metas da semana e começo imediatamente a trabalhar. Como tenho uma fila de trabalhos no dia procuro bater a meta. Edito livros e fotos. Mas preciso editar com disciplina minhas metas.

Como você organiza sua semana de trabalho? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Eu persigo a disciplina todos os dias. Não é fácil porque atendo zaps, edito vídeos, frequento saraus e lançamentos de livros e fotografo.

Como costuma ser o seu local de trabalho? E o que muda na sua rotina quando você viaja?

Tenho uma bancada em um pequeno escritório (dentro da residência) com muitos livros, agenda, tablet, painel de lousa com demanda de trabalhos e metas escritas e uma garrafa de água.

Quando viajo procuro desconectar da internet. Mas se estou com trabalho para estourar o prazo uso meu notebook em qualquer lugar que estiver viajando.

Como você se organiza ao dar início a um novo projeto? Você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?

Planejo tudo. Como editor que faz tudo, capa, diagramação, distribuição, vendas, entrevista e ebook, tenho uma sequencia a seguir desde quando o original entra. Para cada demanda de trabalho informo o escritor vendendo o cronograma programado.

Quais são seus maiores ladrões de tempo e como você lida com eles?

Redes sociais. Eu lido fechando janelas, senão não trabalho.

Como você lida com bloqueios criativos como o perfeccionismo, a ansiedade e o medo de não corresponder às expectativas?

Eu lido com humildade em situações extremas. Dialogo com o cliente, me estimulo com inspirações em fotografias, filmes… busco o lúdico em todas as situações para relaxar a mente.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Tenho um repertório cultural bem extenso, de cinema a fotografia, de artes visuais e visita a museus, de estudos da história da arte a atualização constante do design gráfico. Por isto gosto de beber de fontes alternativas da arte contemporânea, para diagramar e criar capas. Mas para cada trabalho há uma solução criativa.

Que livro você mais tem recomendado para outras pessoas? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Gosto de recomendar livros que possam resgatar valores humanos. Poesias de poetas politizados, preocupados com o coletivo.

Que conselho você queria ter ouvido no início de sua carreira? Com o que sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria diferente?

“Trabalhar com livros no Brasil é pedreira, é difícil, é uma luta de paixão e sangue”. Este seria o melhor conselho.

Depois de perceber todas as dificuldades de trabalhar com livro no Brasil eu tomei as decisões abaixo:

O que fiz de diferente foi trabalhar na contramão: da falta de leituras, do mercado fraco e vendas, dos escritores sem dinheiro e assessoria editorial e marketing. Quem publica comigo têm várias vantagens e assessoria editorial enquanto durar a vigência do contrato. Mantenho oficinas de photopoesia voluntárias em centros culturais e escolas públicas. Agendo lançamentos estratégicos. Participo de feiras.

O que você talvez faria se não tivesse seguido sua carreira atual? Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?

Me aprofundaria mais na fotografia. Iniciei oficina de photopoesia, com finalização de livros e fotos.

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Como trabalha Clarissa Donda

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Clarissa Donda é Country Manager para o Brasil na Doist, empresa que desenvolve o Todoist. Também escreve sobre viagens em seu blog Dondeando por Aí.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Sim, eu procuro ter uma rotina matinal para começar o meu dia – eu já percebi na prática que sempre que começo o meu dia de uma determinada forma, minha produtividade e minha satisfação com o meu trabalho é impactada de forma muito visível.

Eu procuro sempre acordar no mesmo horário todos os dias, entre 6:30 e 7:30. Eu levanto e vou imediatamente preparar meu café da manhã e tomar um chá. Isso é engraçado, aliás: como moro em Londres, o ritual de tomar chá meio que foi tomando conta da minha vida, e virou uma espécie de gatilho para eu começar o dia!!! Claro que de vez em quando pinta uma manhã super corrida, mas eu já percebi que eu funciono melhor se a minha manhã for mais calma – é quando eu consigo fazer meu trabalho mais significativo. Algo que tenho tentado fazer é meditar por 10 minutos toda manhã – ainda não sou muito disciplinada, mas também reparei o quanto me faz bem. Mas o processo despertar + café da manhã + chá e meditação me deixam pronta para o dia, e me sinto “fora do eixo”, digamos, quando não faço isso.

Ah, os fins de semana não são muito diferentes, embora nesses dias eu me permita curtir o dia de forma mais devagar.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Acho que nem é uma questão de preferir ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, eles simplesmente acontecem! Então, a forma com que eu administro o meu tempo muda muito porque estou constantemente descobrindo e testando novas formas de conseguir gerenciar o andamento de várias frentes de trabalho ao mesmo tempo sem enlouquecer.

Uma das minhas últimas experiências tem sido estabelecer blocos de tempo na medida do possível para executar minhas atividades, com separações visíveis. Por exemplo, eu dedico uma hora para começar as minhas manhãs, como expliquei acima. Já as primeiras horas do dia são sempre dedicadas a fazer as tarefas mais importantes ou criativas no dia, em que eu preciso da cabeça mais fresca – e essas atividades ou tarefas podem estar relacionadas a um projeto só ou a vários, porque o que eu levo em consideração é a minha energia criativa para realizá-las. Costumo deixar reuniões sempre para a parte da tarde, e se possível entre quartas e quintas, que também são dias em que eu estou mais cansada. Respondo e-mails à tarde, também. Procuro organizar o meu tempo de acordo com a minha energia, e vou alocando meus compromissos de diferentes projetos de acordo com isso.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

Minha relação com a tecnologia já foi terrível, e acho que hoje é positiva – mas isso tem mais a ver com a disciplina e um pouco de autoconhecimento do que com a tecnologia em si. Por exemplo, eu acho que uma das melhores dádivas da tencnologia é permitir que todas as informações e pessoas estejam a seu alcance em qualquer lugar, e como eu trabalho muito remotamente (seja viajando, seja de um escritório móvel ou de um café), eu preciso ter tudo à disposição para ser produtiva. A “nuvem”, aqui, é excelente para mim. Porém, ao mesmo tempo, acho que o lado sombrio disso é o fato de que a tecnologia se torna muito invasiva (leia-se: mil notificações de mensagem no WhatsApp a todo momento), sobrecarregada e gerando uma terrível ansiedade. O melhor retrato disso é o feed do Twitter, que por mais que você leia, ele está sempre dizendo que há novas mensagens a serem lidas, que você não está atualizado, etc…

Esse feeling é desesperadoramente distrativo para mim. Por isso, entram aí o autoconhecimento (eu sei que eu me distraio fácil) e a disciplina (eu preciso encontrar formas de vetar essa onda de informações e notificações, aprender a conviver com ela para usá-la de uma forma produtiva e respeitar esses limites de exposição – para o meu próprio bem!).

Por isso, acho que tenho muito o que responder aqui! Vamos lá, vou tentar responder separadamente!

Sobre e-mails: Acho que trabalhar na Doist (empresa por trás do app de lista de tarefas Todoist) tem me ajudado muito a ter um fluxo de trabalho focado e produtivo. Para começar, nós quase não usamos e-mail. Doist está lançando uma nova plataforma de comunicação chamada Twist, cuja principal proposta é a “mindful communication” (veja bem, não estou fazendo jabá, mas não consigo explicar como trabalho se eu não falar dessa ferramenta!). Basicamente, como nossa equipe interna é totalmente remota (temos gente espalhada das Filipinas e Taiwan até a Califórnia – ou seja, pegando quase todos os fusos horários que existem), nossa maior necessidade é se comunicar dentro de uma velocidade necessária para a realização de projetos e entrega de deadlines, mas ao mesmo tempo que não seja estressante nem dependente de respostas imediatas (até porque elas não vão vir se o dia do seu colega ainda nem começou). Nossa comunicação é assíncrona pela própria natureza da equipe, e a plataforma de comunicação acompanha isso. Isso é fantástico, porque nos permite organizar nosso horário de trabalho de acordo com nossas metas e horários em que rendemos melhor, mas também planejar com antecedência. Logo, quase não mando e-mails no trabalho, e não tenho nenhuma saudade daquela sensação de tensão de esperar por um e-mail importante ou o senso de urgência em ter que respondê-lo imediatamente. Eu consigo hoje administrar meus e-mails e comunicações com equilíbrio e de modo que eu só precise abri-los na hora em que eu preciso mesmo lidar com eles. Olha, e é de uma enorme paz estar em uma equipe coesa que pensa e funciona da mesma forma.

Dito isto, quem costuma interromper minha vida produtiva mesmo são apps de comunicação como o WhatsApp. Acho que o que faz com que a relação das pessoas com a tecnologia não seja saudável é a forma com que alguns apps de comunicação são invasivos – um aviso de que a sua mensagem foi visualizada exerce uma pressão em responder e ser respondido, e a verdade é que nem sempre temos os recursos e informações à mão para responder tudo na hora. Eu mesma nunca fui boa em responder meus amigos na hora, e volta e meia tenho que ficar pedindo desculpas por não ter respondido dentro de 10 minutos. E para facilitar minha organização, eu procuro usar uma determinada ferramenta para uma finalidade específica. Por exemplo, eu tenho WhatsApp e Skype, mas procuro usá-los apenas para questões pessoais (e só em última instância como trabalho), deixando Hangout, e-mails, Twist e os comentários de Todoist para questões de trabalho. Isso me permite definir qual a prioridade de resposta de uma determinada mensagem só em ver o canal por onde ela chegou, não preciso nem olhar a mensagem em si. Isso também me facilita na hora de reunir as informações para responder essas demandas. Para quem trabalha com vários projetos ao mesmo tempo isso é ótimo. Claro que para isso funcionar é preciso que os seus amigos e colegas de trabalho respeitem isso – e levar eles a entenderem que isso te ajuda é um processo que leva tempo, mas na maioria das vezes tem funcionado.

Ferramentas que eu gosto para ficar produtiva:

Mobilidade: Como disse, preciso ter tudo à mão para poder trabalhar/criar/escrever de onde eu estiver. Por isso tenho uma tendência a usar muitos apps multiplataforma e com sincronização automática. Uso muito Todoist (óbvio!) para gestão de tarefas e projetos e como um banco de ideias; Twist para comunicação com a equipe; Pocket para salvar artigos para ler depois ou guardar para pesquisas e referências (gosto do fato de poder usá-lo offline, no metrô, por exemplo). Estou experimentando o OneNote para brainstorming e detalhamento mais elaborado de projetos e gostando muito (usava Evernote antes, mas não funcionou muito comigo). Uso muito Dropbox e Google Drive para ter sempre documentos e fotos à mão e colaborar em projetos com minha equipe remota.

Foco: Tenho uma assinatura do Focus@Will, um app de músicas para aumentar a concentração (você pode colocá-lo para tocar por uma hora e meia, colocar o headphone e pronto – uma hora e meia de produtividade pura). Funciona bem comigo para momentos em que eu preciso de concentração, como para escrever um post ou terminar um relatório importante. Uso o NewsFeed Erradicator no navegador para bloquear o wall do Facebook – e tem me ajudado a ter uma disciplina em não cair no buraco negro de procrastinação nas redes sociais enquanto estou trabalhando, especialmente porque parte do meu trabalho envolve redes sociais. E parece muito geek dizer que uso um app para meditar, mas eu confesso que tem me ajudado, sabia? Eu uso o Calm.

PS: achei que valia incluir aqui uma dica. Eu comprei o Lumie, um despertador que simula a luz do nascer do sol para acordar, e isso promove um despertar e um adormecer mais calmo e progressivo – e certamente menos traumático para o corpo do que um alarme disparando do seu lado. Também foi uma das pequenas coisas que eu incorporei no meu dia a dia e que senti fazer uma diferença positiva na qualidade do meu sono.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Trabalhar remotamente envolve aquela boa teoria de que é possível trabalhar de qualquer lugar do mundo, mas na prática uma rotina e um lugar fixo ajudam muito na produtividade. Eu preciso de um ambiente que seja claro (trabalhar perto de janelas é algo que me ajuda muito), com boa iluminação, e que sobretudo eu não seja interrompida (como trabalho com vários projetos ao mesmo tempo, qualquer interrupção me faz perder o fio da meada).

A verdade é que eu trabalhava de casa, e recentemente montei um escritório para isso. Isso resolveu o problema da produtividade, mas por outro lado trabalhar de casa é também algo muito solitário e monótono – e fica pior ainda no inverno inglês, que é chuvoso e frio e a gente já não tem muita vontade de sair de casa. Então há 4 meses eu passei a trabalhar num espaço de coworking perto da minha casa. Tem sido uma ótima experiência: o ritual de me arrumar, sair de casa e ver gente tem me ajudado a trazer limites temporais e físicos para o trabalho (chega de trabalhar pela madrugada adentro!) e me forçado a deixar a preguiça de lado. Nesse espaço, eu tenho minha mesa de trabalho, uma boa internet, café, pessoas para conversar e fazer networking (quando e se eu quiser, veja bem!), música ambiente… passei a render muito mais nas tarefas.

E com isso, eu deixo para trabalhar nos meus projetos pessoais e no meu blog do escritório de casa. Essa separação física também é um gatilho útil para deixar a mente no modo produtivo que eu preciso.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Eu gosto de ler muito. Livros e artigos interessantes fazem parte do dia a dia (e também procuro guardá-los para reler quando necessário ou para usar como referência). Posso dizer que sou a louca das listas: tenho listas de livros para ler, para comprar, artigos na fila… adoro! E recentemente fui fisgada pelo mundo dos podcasts, de modo que eu quase sempre estou ouvindo algum episódio interessante, especialmente no meu deslocamento.

Curto muito museus e exposições, quase sempre vou em uma, e procuro ir com calma porque gosto de ficar absorvendo as idéias. E sou muito fã do “people watching”, que é simplesmente ficar numa praça ou num café interessante observando as pessoas, especialmente em lugares novos. Acho que as melhores histórias e causos que eu tenho para contar são de momentos assim, e tenho muitos momentos de inspiração dessa forma.

Uma coisa que costuma ativar meu lado criativo é sair ao ar livre, de dia. Quando eu morava no Rio de Janeiro, costumava muito ir à praia sozinha, e especialmente em dias e locais mais vazios, como a Praia da Reserva, Grumari, etc. Aqui em Londres eu vou muito a parques, seja para correr, seja para caminhar ou sentar num banco com um caderno. Aliás, eu estou sempre com um caderno a tiracolo.

Mas acho que as melhores inspirações que eu tenho são pessoas. Tenho procurado cultivar um círculo de amigos queridos e inspiradores, e procuro sempre reservar tempo para uma conversa com eles, bem como descobrir pessoas interessantes que postam e discutem idéias diferentes. Para mim é um enorme privilégio ter uma boa troca de idéias com pessoas assim.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Então (risos), eu confesso que este ainda é um problema com o qual tenho procurado trabalhar mais. Eu sou muito perfeccionista por natureza, e eu sei que isso é uma forma de procrastinação, de certa forma.

Em relação à ansiedade de trabalhar em projetos longos, uma coisa que tenho procurado fazer e que funciona bem para mim é ter alguns “milestones”, ou metas intermediárias que eu preciso bater. Eu funciono bem com prazos e avaliações, e se estabeleço uma meta e um prazo para cumprir, eu consigo me focar bem nele. Sou do tipo que funciona bem quando tenho prazos e objetivos, e no caso de projetos longos eu preciso criar objetivos mais “próximos”. Além disso, eu sinto uma necessidade constante de troca de idéias com outras pessoas, de ler sobre formas criativas de atingir essas metas – isso me ajuda a não perder o tesão pelo projeto, nem cair no marasmo.

Já os bloqueios criativos ainda são um problema para sim, porque sou extremamente crítica com o meu trabalho – e eu tenho este problema apenas nas minhas atividades criativas (sobretudo escrever, algo que faço muito por ser blogueira e jornalista) do que nas outras atividades mais analíticas e estratégicas. Quando isso acontece, eu tento trabalhar não com a inspiração, mas com o processo. Eu saio de casa para dar uma volta e trabalhar num café, por exemplo. A mudança de ambiente, a caminhada até o local, o senso de limite de tempo (não dá para ficar uma tarde inteira no café, não é?) costumam ajudar a “entrar no ritmo”. Ah, se mesmo assim me dá um “branco”, eu tento criar uma estrutura e partir dali. Por exemplo, se tenho um post para escrever, eu sento na cadeira com o meu chá a postos (lembra dele? É meu gatilho mental de “bora trabalhar”!), escrevo uma lista de tópicos que pretendo abordar, “recheio” essa estrutura com as fotos daquele post, e vou indo.

Mas, como disse, essa parte de extravasar a criatividade ainda me causa certa dificuldade às vezes, de modo que ainda estou numa fase de aprendizado nesse quesito.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Acho que escrevi várias coisas sobre isso acima… Eu preciso de uma rotina para trabalhar, ou ao menos criar um ambiente e um momento para colocar as mãos na massa (o gatilho mental do chá, a mudança de ambiente, a mesa com uma boa iluminação, o app de músicas de concentração…).

Sobre conselhos que não funcionam (pelo menos para mim): ser multitasking… é um mito, especialmente se as suas atividades exigem atenção para serem bem feitas. Notificações também são coisas que eu não uso, elas eliminam a minha concentração. E o conselho de “acorde cedo se quiser ser produtivo” é uma verdade, mas a premissa mais importante é “tenha uma boa noite de sono” – ou seja, se você está cansado ou dormiu pouco e se o seu corpo precisa de mais descanso (ou se você não é uma pessoa matutina), não adianta acordar cedo e ficar cansado o resto do dia. Procure ter uma noite de sono energizante.

Ah, e uma coisa que eu só aprendi recentemente, e parece meio paradoxal: trabalhar é importante e a manhã pode ser necessária para resolver muita coisa, mas se a manhã é o único momento do dia que você tem para ficar com a sua família ou com as pessoas que significam muito para você, vale a pena repensar uma rotina que permita priorizar esses momentos sem culpa – ou se planejar para compensar esses momentos depois. Acho que produtividade não adianta muito se a gente não termina o dia feliz por ter vivido os momentos que realmente fazem a diferença para a gente.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Eu acabei de ler “Start with Why”, do Simon Sinek (acho que o título em português é “Por quê? Como grandes líderes inspiram ação” e ele foi profundamente inspirador não só para o trabalho, mas me fez pensar várias coisas que eu faço no dia a dia e em que acredito. Não sei se ele vai mudar minha vida (acabei de ler agora há pouco, é muito cedo para dizer, né?) mas certamente me impactou de uma forma que poucos livros já fizeram.

Em geral eu sou uma boa leitora, estou sempre lendo algo, muitas vezes dois ou três livros simultaneamente. Então ler é algo que ninguém precisa pedir ou esperar de mim – pelo contrário, estou sempre atrás de boa recomendações!

No momento estou numa fase de ler livros sobre negócios, produtividade, minimalismo e assuntos desse universo. Foi uma faísca que despertou com o meu trabalho com Todoist, mas me descobri apaixonada por esse assunto. Meu próximo livro para ler será o Deep Work, do Cal Newport – já estava na minha lista há tempos e acabei de comprar!

Mas o meu livro preferido de todos os tempos, até hoje, é indiscutivelmente literatura: “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Acho que seriam dois conselhos: “não acredite no seu dom” e “não existe inspiração, existe disciplina”.

Um exemplo: eu sempre tive certa facilidade para escrever, desde pequena. Eu tinha as melhores notas na redação da escola, eu gostava de escrever poemas, contar historinhas – sempre foi um “dom”, se é que podemos usar essa palavra aqui. E hoje eu penso que o fato de que eu sempre recebi elogios porque eu escrevia bem, seja de professores ou de colegas, me colocou de certa forma em uma zona de conforto que hoje eu vejo como algo extremamente perigoso. Porque me criou a crença, ou o costume, de que eu não precisava me esforçar ou estudar muito técnicas de escrita, ou fazer muitos exercícios, ou praticar mais – afinal, eu já era boa, eu já tinha o dom, né? E com isso, eu acho que perdi enormes oportunidades, desde cedo, de praticar mais, de aprender novas formas de escrever, de me comunicar, de desenvolver habilidades… E isso leva a outro ponto: eu passei a acreditar que, como eu já era boa em escrever, tudo o que eu precisava era inspiração e pluft – as palavras vinham. Não nego que isso funcionou lindamente algumas vezes, mas com o passar do tempo isso se tornou mais a exceção do que a regra, e a boa escrita, como qualquer outra habilidade, tem que ser exercitada todos os dias – taí a disciplina, a sabedoria que diz que “a prática leva à perfeição”.

E eu ilustro essa resposta com este exemplo sobre a escrita, mas o conselho valeria para qualquer habilidade. E às vezes me pego imaginando onde eu estaria hoje se o meu “eu” de 15 anos atrás já tivesse tido esse “clique” na cabeça. Menos dom e mais “hard work”. Sem desculpas.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Há alguns anos eu participei como voluntária na ONG Cruzada do Menor dando aulas de técnicas de vendas a adolescentes de 15 e 16 anos que estavam estudando em escolas públicas e que moravam nas imediações do Shopping Nova América, no Rio de Janeiro. Foi uma experiência fantástica – a idéia era capacitá-los para conseguir seu primeiro emprego em lojas, e com isso promover uma mudança positiva nas suas vidas e nas suas carreiras. Eu adorei ter feito parte daquilo, e tenho um sonho antigo de voltar a participar ou a promover algo semelhante, mas com um enfoque mais amplo, envolvendo trabalho, vida, saúde, autoestima. Particularmente, eu gostaria muito de participar de algum projeto educativo e empoderador como esse, mas que fosse voltado para meninas (adolescentes ou jovens adultas), colocando-as desde cedo em contato com outras mulheres especialistas em empreendedorismo, organização, produtividade, questões de saúde, coaching pessoal e profissional, psicologia… Sobretudo, promover um ambiente de troca de idéias, aprendizados e discussões inspiradoras e construtivas. Talvez numa plataforma digital, para permitir um alcance maior. Hoje eu participo de uma série de discussões tão enriquecedoras e construtivas com tantas pessoas diferentes, e sinto a necessidade de poder dar isso de volta de uma forma transformadora para outras meninas também.

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Como trabalha Andréa Tolaini

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Andréa Tolaini é artista plástica, criadora do Mandala de Nós.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Tenho uma rotina matinal bem lerda. Não costumo criar durante a manhã. Faço mais coisas práticas. Eu acordo, fico pelo menos mais 30 minutos na cama olhando redes sociais. Levanto. Brinco com meus cachorros. E tomo café enquanto respondo e-mails, mensagens, e tudo mais. Aí, terminando, eu levo a cachorrada para a praça e fico ali por um tempo, olhando a natureza e a mudança dela de um dia para o outro. Quando volto pra casa, aí começo a criar.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu procuro ser o máximo proativa que eu posso ser. Minha vida não tem espaço para muita preguiça. Eu que cuido de tudo que se refere ao meu trabalho. Moro sozinha, ou seja, cuido de tudo sobre minha casa também. E ainda tenho três cachorros e um gato. Sempre é bem corrido, mas eu gosto assim. Eu gosto de ter muita coisa para fazer, sempre. Raramente estou parada. Gosto de criar durante a madrugada, caso as burocracias e atividades práticas tenham consumido muito tempo do meu dia.

Para mim trabalho não é trabalho. Eu não me importo em ter muito trabalho. Se está acontecendo mais de um projeto por vez, o que é bem comum, eu gosto. Gosto que meu trabalho me puxe da inércia, porque para mim ele é um propósito de vida.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

Tecnologia me ajuda muito. E me atrapalha no mesmo tanto. Eu dependo demais de redes sociais para meu trabalho chegar às pessoas. Eu faço a maior parte dos contatos e vendas na internet, então procuro estar boa parte do meu dia conectada. O problema é que, junto de meu trabalho, a minha vida pessoal também acontece na internet. Quando as coisas se misturam muito, normalmente me atrapalha. Quando estou online, publicando meus trabalhos, me relacionando com o público e chegam demandas pessoais, eu acabo me atrapalhando e, muitas vezes, perdendo o foco. A internet é uma fonte incrível de informações e eu sou uma pessoa muito curiosa. Então muitas vezes perco mais tempo do que acho que deveria com tecnologias. Mas eu sou uma super fã. Há algum tempo tenho misturado meu trabalho como ilustradora às tecnologias dos softwares de edição de imagem, o que me dá possibilidades infinitas de cores, e tantas outras coisas.

No fundo, se não fossem as tecnologias, provavelmente meu trabalho não estaria chegando às pessoas como agora, e nem teria se desenvolvido no nível que se desenvolveu até hoje. Mas estou aprendendo a regular isso na minha vida para aproveitar mais o meu tempo.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Eu tenho meu ateliê e costumo também trabalhar na minha casa se não estou usando coisas tóxicas (como tinta, resina…) ou trabalhando quadros muito grandes.

Eu preciso muito ser seletiva com o que vou escutar enquanto trabalho. Gosto do silêncio para trabalhar, mas junto de música. Preciso normalmente estar sozinha. Apenas com meus bichos. Dificilmente trabalho com pessoas perto.

Eu sou muito bagunceira. Então tem lápis e tinta espalhados não só no ateliê mas na minha casa também. Este é meu jeito. Não sei ser de outra forma então não sei se poderia ser de outro jeito caso eu fosse mais organizada.

Preciso de ambientes calmos para trabalhar. Mas não me limito ao meu ateliê ou à minha casa. Gosto de viajar e criar enquanto viajo. Em qualquer viagem que eu faça eu levo papel, estojo, guache. Viajar é um estímulo criativo que levo bastante a sério. E não me importo do ambiente de trabalho ser uma praia, um hostel em outro país, ou até no avião. Inclusive quando viajo, normalmente estes três lugares são ambientes em que costumo criar muito.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Minhas ideias costumam vir das coisas que eu vivo. Sentimentos represados, ou que nem sempre consigo falar com palavras. Eu encontro maneiras de expressar que não precisam de linguagem. Observo a vida, a morte, e a vida que vem depois das mortes com atenção. Na minha percepção tudo segue este fluxo. As coisas nascem, crescem, morrem, para se transformar em algo novo, que seria uma nova vida. O fluxo da vida me inspira.

Sou muito atenta aos detalhes que passam no meu dia a dia. E nunca deixei de me excitar com coisas que parecem pequenas. Como a cor da ferrugem de um portão. Ou as folhas caindo de uma árvore e suas cores se transformando conforme os dias passam. A forma com que os cães se relacionam. A espontaneidade da paixão. A construção de relações.

Busco no cotidiano, na rua, na minha casa, nos meus bichos, nas coisas que vivo, entre meus amigos, família, pequenos detalhes inspiradores.

Busco sempre me conectar com minhas emoções. Levo elas muito a sério. São minha maior matéria prima. Meu deslumbramento com a vida, minha melancolia em despedidas, a paixão que surge, o êxtase entre amigos, o amor pelos cachorros. Eu me observo tanto quanto observo o mundo. Em busca sempre de um detalhe que traga uma criação nova na cabeça.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Os bloqueios criativos costumam vir quando estou em crise de baixa autoestima. Quando estou neste estado não acredito muito nas minhas capacidades. O que dificulta muito um trabalho que é totalmente autoral. No momento tenho buscado lidar com a baixa autoestima logo quando vem. Converso com minha cabeça e lembro que somos todos errantes. Que somos todos ridículos. E eu sou só mais uma. Ultimamente tenho achado lindo as pessoas que erram publicamente e riem ou transformam seus erros em algo interessante. Acho que quando a gente coloca nosso erro, dor, lados obscuros para fora a gente liberta as pessoas de assumirem seus lados também. Então ultimamente tenho assumido meu lado ridícula, até para colaborar com meu trabalho que é extremamente vinculado a tudo que acontece comigo.

Mas quando o caso é de extrema baixa autoestima, daqueles que eu nem consigo descer no ateliê e abrir a porta, aí eu costumo recorrer à natureza. Estar mais perto dela. Me reconectar com o que originalmente acredito ser. Faço viagens, conheço lugares novos, pessoas novas, tenho conversas profundas com pessoas que eu confio, tomo chás com amigos, falo de amores frustrados, de esperança, de sociedade, e normalmente, dando estes estímulos, em pouco tempo eu volto a criar.

Eu não sou uma pessoa muito perfeccionista com meu trabalho. Sou mais ansiosa do que perfeccionista. Então muitas vezes eu mostro meu trabalho antes mesmo de sentir que está finalizado.

Eu tenho que lidar com este medo de não corresponder às expectativas externas quase diariamente. Eu simplesmente lido. Não tenho ferramentas. Muitas vezes a resposta não é o que eu gostaria que fosse mas acho que isso serve de estímulo para no dia seguinte eu acordar e fazer algo ainda melhor. Não é fácil quando meus trabalhos não têm aceitação, mas todo artista criador corre este risco. Se tudo fosse certo de que daria certo sempre, talvez nem tivesse graça mostrar. A expectativa sobre a visão das pessoas sobre o que está fazendo é o espaço entre sua obra e o público. E aprender a apreciar este espaço também faz parte de ser artista. A coisa é lembrar sempre do porque eu faço o que faço. E lembrando disso eu percebo que tanto faz se o mundo dirá sim ou não. Eu faço porque é meu propósito de vida. Não faço para agradar e sim porque eu preciso fazer. Criar imagens é inevitável para mim. Crio para me salvar. E acho que me salvando eu acabo salvando mais pessoas. Quando não acontece, pelo menos a mim eu salvei. Tenho que sempre lembrar disso.

Meu grande problema é a ansiedade. A maioria dos meus projetos são curtos. Mas os que exigem mais tempo, normalmente, para mim, são mais sofridos. Estes, eu busco me acalmar com meus chás, meu altar, meus bichos, e colocar prazos. Se preciso de cinco dias, então não posso passar disso.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Nossa. Como é terrível procrastinar trabalhos. Minha técnica é movimentar meu corpo quando vejo que vou jogar pra frente coisas que não deveria. Então eu saio com meu cachorro, vou correr, fazer coisas práticas a pé. Eu tento estimular meu corpo para responder às minhas necessidades. Se permito que meu corpo se mantenha preguiçoso, ele leva minha cabeça junto.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

O livro que mais transformou minha vida foi o “Mulheres que correm com os lobos”. Comecei a ler este livro em 2009 e nunca mais deixei de ler. Eu digo que é um livro mágico. Que salva a gente de situações padrão. São contos de fadas analisados por uma psicóloga que traduz os contos analisando padrões que as mulheres em sua maioria seguem. Eu releio este livro constantemente. Sempre que me sinto numa situação duvidosa eu recorro ao Mulheres.

E considero muito inspirador estudar sobre Comunicação Não Violenta. É um estudo em constante mutação que busca conectar as pessoas através da empatia e o uso mais profundo da comunicação. Já me ajudou muito a me expressar quando precisei e a compreender e ouvir quando outras pessoas precisaram. É uma ferramenta muito útil para conflitos.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Eu diria: Andréa busque uma psicóloga que estude padrões comportamentais e se dedique a se livrar desde já daqueles que você herdou sem nem saber por quê. Seja o que você acredita que deve ser e dê menos ouvidos a sua família porque, por fim, você vai acabar contrariando todo mundo mesmo. Então não adia. Coragem.

Eu gosto da vida que tive, apesar das mazelas. Talvez as dores foram as grandes responsáveis por eu ter esta necessidade de criar. Então agradeço inclusive aos meus tropeços.

Mas tem uma coisinha que seria bem legal, eu gostaria de ter tido mais conversas profundas com minha mãe. Gostaria de ter pegado ela em momentos de calma e perguntar mil coisas sobre como ela se sentia em relação à vida. E queria ter levado ela para passear mais ao meu lado. Ir em mais exposições. Parques. Teatro.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Eu gostaria de escrever um livro ilustrado para adultos. Onde a maior parte do livro seriam desenhos e imagens. Textos curtos mas que complementassem as imagens. O tema poderia ser vida-morte-vida.

Gostaria de ler um livro que ensinasse a voar sem riscos de morte. Em cinco passos. E as asas, caso houvesse, fossem feitas com coisas que eu tenho em casa e pulando do meu muro.

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Como trabalha Cadu Cassau

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Cadu Cassau é nômade digital freelancer e videomaker, explorador do mundo e de si mesmo.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Meu dia começa entre as 7 e 8 horas da manhã, tenho planos de começar mais cedo quando retornar ao Brasil, mas, no momento, viajando pela Nova Zelândia e sem residência fixa, não é algo que me preocupa muito.

A primeira coisa que faço é tomar o copo de água que deixei ao meu lado antes de dormir. Em seguida tomo um banho e inicio a minha rotina de Meditação (20 a 30 min), Afirmações (frases que venho escrevendo e reunindo ao longo dos anos e que repito a mim mesmo todos os dias), Escrever (visito o meu bloco de anotações, vejo quais são as tarefas que tenho naquele dia e adiciono algumas outras tarefas ou insights que possam ter surgido durante a meditação) e, se o dia não estiver muito atarefado, leio um pouco pela manhã também, no máximo 30 minutos.

Como estive morando em um retiro de Yoga pelos últimos 6 meses, exercícios faziam parte das minhas manhãs também, pelo menos 3 vezes por semana, mas com o inverno da Nova Zelândia chegando e agora viajando pelo país, confesso que esse pique matutino está ficando difícil de manter.

Só começo a responder as minhas notificações no meu telefone após completar todas essas atividades.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu levei muito tempo até aprender que, para mim, ser multitarefa é uma ilusão. Isso foi implantado e exigido de mim nos meus antigos empregos no ambiente corporativo no Brasil e, hoje, eu vejo como não funciona.

Eu costumo ter mais de um projeto para dar conta ao mesmo tempo, mas organizo minhas tarefas todas escrevendo no dia anterior o que será possível de fazer no dia seguinte e tentando avançar um pouco em cada projeto, mas nunca ao mesmo tempo.

Completo uma atividade por vez, sempre. Nunca inicio mais de uma atividade ao mesmo tempo. Foco e disciplina são fundamentais para levar uma vida trabalhando como freelancer, blogger e viajando ao mesmo tempo. Apanhei bastante até aprender isso.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

No passado já fui escravo das notificações, hoje em dia aprendi a ignorá-las. Viver em um estado de reatividade a todo estímulo que surge em nosso dia é se tornar um refém das ferramentas que deveriam apenas nos auxiliar.

Já testei utilizar softwares de gestão de tarefas e projetos como Trello ou Asana, mas acabavam se tornando apenas mais trabalho e mais uma tarefa a fazer, no lugar de simplificar a minha rotina. Acho que estes são mais úteis para projetos colaborativos, onde é preciso delegar atividades.

Hoje, utilizo apenas o meu bloco de anotações e o Google Keep, que é simples, rápido, eficiente e ainda possui um widget para Android que deixa todas as suas anotações a muito fácil acesso. Sou muito fã do Google Keep, uso bastante mesmo.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Já testei trabalhar em coworkings ou cafés, mas não funcionam bem para mim, sempre acabo conhecendo ou reconhecendo alguém, cumprimentando, batendo papo e dispersando das minhas responsabilidades. Acho que sou sociável além da conta. (risos)

Prefiro trabalhar em casa e em silêncio, sem música de qualquer tipo. Também gosto muito de alternar o trabalho entre standing desks e mesas e cadeiras normais, quando disponível.

Também utilizo um app no meu computador chamado Awareness que emite o som de um sino tibetano a cada hora para me lembrar de me levantar, dar uma volta, tomar uma água ou me mexer de alguma forma.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Meditação. Até hoje não descobri forma melhor de acessar minha fonte criativa do que através da meditação. Se houver algum problema que eu precise solucionar ou algum projeto que precise inovar, me recolho e medito por um tempo até a clareza surgir.

Fora isso, sou consumidor ávido de vídeos e documentários. Estou sempre assistindo algo novo e utilizo o Youtube diariamente para acompanhar canais de cinematografia, tecnologia, viagens, ciência, autodesenvolvimento, espiritualidade, entre outros.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Meditação também. Em minha jornada aprendi que no silêncio habitam as respostas para todas as nossas perguntas.

Reservar o tempo para meditar e observar que estou tendo alguns padrões de comportamento e pensamento que não contribuem para o meu bem estar, me ajudou muito a desenvolver a capacidade de captar esses pensamentos na hora que eles ocorrem diante as situações de trabalho ou pessoais.

Quando noto que estou tendo pensamentos de ansiedade, bloqueios ou perfeccionismo, dou uma pausa e vou meditar, espairecer e por a cabeça no lugar.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

A minha procrastinação é bem sorrateira, ela se disfarça de estudo e pesquisa. Em algumas ocasiões eu preciso encontrar uma música especial para editar um vídeo ou aprender alguma coisa nova, como fazer um dado efeito para editar um vídeo, e algumas vezes me vejo navegando a esmo na internet consumindo outras coisas que, apesar de estarem relacionadas com a minha profissão e desenvolvimento, não são relevantes para aquela tarefa naquele momento.

Quando me pego fazendo isso, observo que estava procrastinando dessa maneira e retorno à minha tarefa inicial. A meditação contribuiu muito para que eu desenvolvesse uma melhor capacidade de auto-observação e de me pegar no flagra.

Acho que o conselho de produtividade que nunca funcionou bem para mim é a sugestão do uso de técnicas similares ao Pomodoro, onde você reserva um tempo específico para finalizar uma dada atividade e depois segue adiante para a próxima. Nunca consegui aplicar isso ao meu tipo de trabalho.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

O que mais mudou a minha vida não foi um livro, mas foi a experiência de cair no mundo e mudar de uma carreira estável de biólogo numa grande empresa para uma instável de freelancer filmmaker/blogger/marketing consultant.

Essa jornada me ensinou lições que não aprendi em livro algum de negócios, empreendedorismo ou autodesenvolvimento. Lições sobre mim mesmo que eu nem sabia que precisava aprender.

Neste sentido, o livro que eu mais recomendo a todos que me perguntam por uma indicação é o “Conversando com Deus / Conversations with God” do autor Neale Donald Walsch.

Apesar do título, de religioso o livro não possui nada. O livro é um diálogo entre o autor e o que ele compreende ser o todo, o divino, a existência em si. É muito interessante e levanta questões que dificilmente paramos para refletir a respeito.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Queria ter aprendido antes a frase que aprendi recentemente, “Disciplina é liberdade”.

Nunca fui disciplinado e isso nunca foi algo que precisei cultivar muito na minha juventude. Hoje percebo a extrema importância que existe em cultivar a autodisciplina para desenvolver seus projetos, ideias e ambições.

Não diria que faria algo diferente porque tudo que me aconteceu foi o que me trouxe até o momento atual e fez eu me tornar quem sou hoje, mas se eu pudesse dar um toque no Cadu do passado explicando a ele o valor de ter rotina e disciplina, talvez muitas coisas seriam diferentes hoje.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

O próximo projeto que pretendo iniciar ao retornar ao Brasil é unir minhas viagens à produção de conteúdo e minidocumentários sobre turismo sustentável e viagens com propósitos socioambientais. Visitar e me hospedar com povos ribeirinhos, indígenas, caiçaras, quilombolas e outros, e documentar a beleza que existe em seus estilos de vida além do conhecimento local ali existente e como preservam sua cultura.

Nosso país possui uma diversidade cultural enorme e há espaço para muitas pessoas criarem materiais belíssimos sobre assuntos que tangem o “Povo Brasileiro”.

O livro que eu gostaria de ler, mas que não estou certo se existe ainda, talvez se chamasse “A cura do mundo – O dia em que a humanidade descobriu que a verdadeira crise era e sempre foi interna, e não externa.”.

Como disse Gandhi, seja você a mudança que quer ver no mundo. Acredito que, em um futuro próximo, perceberemos que, de fato, todas as mudanças que queremos ver no mundo, devem vir primeiramente de dentro de nós.

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Como trabalha Amanda Areias

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Amanda Areias é designer gráfica por profissão, viajante por paixão e feminista por necessidade. Mantém um blog em que escreve sobre suas viagens sozinhas pelo mundo.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Acordo todos os dias às 5h, tomo um café da manhã reforçado e vou fazer minha sessão de Hot Yoga diária, que é uma modalidade do esporte praticada em uma sala climatizada a 40ºC. A Yoga me ajuda muito tanto no âmbito físico, quanto no mental. Meu dia fica mais leve e eu fico muito mais concentrada e equilibrada, faz toda a diferença. Depois da yoga eu vou ao escritório trabalhar.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu sempre tenho vários projetos acontecendo simultaneamente (risos). Tanto pessoais, quanto profissionais. Amo o meu trabalho, mas me encontro muito mais nos meus projetos pessoais do que no meu emprego (acho que qualquer pessoa, né?). Por isso, sempre que estou fora do escritório, estou trabalhando neles.

Não gosto de ficar parada, sinto como se a vida estivesse passando por mim sem eu fazer o que deveria estar fazendo, sinto que estou perdendo tempo. Então, além de trabalhar, eu tenho um blog de viagem, eu escrevo, administro um curso de inglês gratuito na Paraisópolis, participo de um coletivo feminista, leio, vou a palestras, entre várias outras coisas.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

Não uso muito o e-mail fora do trabalho, e não me atrapalha não, muito pelo contrário. Profissionalmente, eu sou designer gráfica, então também uso vários programas da Adobe, não tem como ficar longe da tecnologia nessa profissão. Uso muito o calendário do celular pra me organizar, e o app “Evernote” pra escrever quando me vem alguma ideia de texto em lugares inusitados. Eu vivo no celular, a tecnologia me ajuda muito a ter mais praticidade no dia-a-dia; mas às vezes acho que não deveria depender tanto dela.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Eu trabalho em um escritório pequeno, contando comigo somos em 8 pessoas. Não preciso necessariamente de silêncio, não tenho problemas de concentração (talvez devido à yoga). Acho que só preciso de um computador e um bom Wi-Fi pra fazer as minhas coisas.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Eu leio muito, muito mesmo. Acho que isso me ajuda bastante a tentar ser mais criativa. Acho muito importante – pra qualquer área – ter referências; sejam referências artísticas, musicais, de negócios, o que for. É importante você conhecer outras pessoas e outros trabalhos na sua área (ou até fora dela). Minhas ideias vêm basicamente daí, de coisas que eu vi, ouvi, senti e vivenciei pelo mundo.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Eu sou uma pessoa muito calma e isso me ajuda muito com bloqueios criativos, perfeccionismo, expectativas, ansiedade, etc. É muito difícil eu me desesperar, sou uma pessoa muito realista e pé no chão. Se não deu certo, paciência, às vezes não dá mesmo e esse não é o fim do mundo, na próxima a gente tenta de novo. Mas isso não quer dizer que eu não dê o meu máximo.

Acho que quanto mais calmo você é, melhor você é em tudo, e melhor você lida com esse tipo de problema. Todo mundo tem frustrações, mas não é todo mundo que sabe lidar com elas. As pessoas se desesperam, e isso acaba só piorando a situação.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Eu não costumo ter muito tempo livre durante a semana. Se eu não estou na Yoga, eu estou trabalhando, se eu não estou trabalhando, eu estou com amigos, se eu não estou com amigos, eu estou em alguma palestra, ou na terapia, ou em um jantar de família e por aí vai. Então, pra ser bem sincera, eu dou valor quando eu tenho um tempinho para simplesmente deitar no sofá e ficar sem fazer nada.

Eu também não costumo deixar as coisas pra fazer depois, sempre fui assim; então, quando estou em casa sem fazer nada, é porque eu realmente não tenho nada importante pra fazer.

Um conselho sobre produtividade que nunca deu certo comigo? Acho que o clássico “senta a bunda na cadeira e faz isso”; isso me bloqueia; preciso estar à vontade pra conseguir produzir material interessante, e sentando na cadeira e esperando a inspiração vir não é o melhor jeito de se fazer isso.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

O livro que mais mudou a minha vida se chama “As Montanhas de Buda”, do Javier Moro. Ele conta a história do Tibete e dos refugiados tibetanos que hoje vivem na Índia.

Não foi o melhor livro que já li, mas foi o livro que me fez conhecer a história desse país e que me fez querer ir pra Índia conhecer essa história mais de perto. Passei um mês na Índia conhecendo esses refugiados e essa conexão me mudou completamente, me fez ser quem eu sou hoje e me fez crescer de uma forma que eu nunca imaginaria, em tão pouco tempo.

Eu gosto muito de ler sobre histórias reais de lugares não tão explorados. Entre os meus livros preferidos, têm histórias do Oriente Médio, da Índia, da China, da África, e por aí vai. Gosto muito de ler sobre problemas sociais também, sobre presídios, sobre o lugar da mulher no mundo, sobre o tráfico e por aí vai. Tudo que me tire da minha zona de conforto e que me faça pensar eu aceito ler!

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

“Não tenha tanta pressa”. As pessoas querem fazer tudo muito rápido: já querem ser bem sucedidos, morarem sozinhas, terem carro próprio e estabilidade financeira aos vinte anos; acho que essa competição que a gente vive de “quem tem mais poder” ou mais sucesso profissional faz muito mal para todos.

Vinte anos é a idade de se descobrir, de aprender coisas novas, de se achar no mundo. Se a gente está muito focado em ficar rico logo, a gente acaba deixando esse descobrimento pra trás, e eu acho que esse é o pior erro que alguém pode cometer.

Descobriu que está na faculdade errada no quinto semestre? Tranca e começa outra. Não está gostando do seu trabalho por mais que o salário seja bom? Se demite e vai fazer qualquer outra coisa pra se encontrar. Parou de gostar do(a) namorado(a) com quem você estava há 5 anos e achava que ia casar? Termina e fica um tempo sozinha(o).

A gente não precisa fazer tudo pensando no futuro e correndo pra chegar “lá” logo, a gente nunca vai chegar lá. Por isso, a gente precisa aprender a parar e observar o caminho.

Eu sinto que as pessoas da minha idade (tenho 23) têm muita pressa pra conseguir essa estabilidade financeira logo e acabam deixando a vida pra trás, o que faz com que elas percam cada vez mais sua própria identidade.

Hoje, se eu tivesse que começar novamente, eu faria mais cursos e aprenderia novas habilidades. Mas também não é nada que eu não possa começar agora (coisa que eu já tento fazer).

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Meu maior sonho é conseguir viajar o mundo e ao mesmo tempo ter algum tipo de renda; não é especificamente um projeto, mas é algo que eu gostaria de fazer mas ainda nem comecei. Preciso pensar em como conseguir fazer isso e dar um jeito de viabilizar a idéia.

Um livro que eu gostaria de ler e ainda não existe? Acho que seria algo do tipo “Como despertar a empatia nos outros”. Sinto que quase todo mundo que eu conheço é muito autocentrado e focado somente em si mesmo, ninguém liga pra ninguém, ninguém faz questão de ajudar ninguém e é por isso que o mundo anda desse jeito. É por isso que existem guerras, corrupção, genocídios, etc. Porque as pessoas só se importam consigo mesmas e com seus amigos e parentes próximos. Seria legal encontrar um modo de despertar essa preocupação genuína com o próximo nas pessoas.

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Como trabalha Clara Vanali

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Clara Vanali é jornalista, trabalha com realização de vídeos  há 10 anos e é diretora da produtora de vídeos Às Claras Filmes.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Eu trabalho com produção de vídeos. Nos dias de gravação que começam bem cedinho, desperto por volta das 5h da manhã. Já naqueles em que não tenho gravação, desperto entre 7h30 e 8h. Gosto de preparar o café. E café fraco, diga-se de passagem, para poder tomar várias xícaras. Procuro não olhar no celular neste momento, pois sei que ficarei online o dia todo, então aproveito o único momento do dia em que não estou conectada para ter um momento mais tranquilo. De segunda a sexta, esse acordar é um pouco mais corrido, como rapidinho e vou para o escritório. Mas aos finais de semana, aproveito mais as manhãs com um café da manhã demorado na mesa, e com tempo para ler o jornal que assino aos sábados e domingos. Adoro jornal impresso, ainda (!). Sempre gostei. O de domingo é o meu favorito porque reúne discussões profundas e me informa sobre os acontecimentos que nortearam a semana. Sou das antigas, não consigo ficar sem. E embora hoje todas as notícias estejam disponíveis nas versões online, o jornal no papel me deixa mais feliz.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Administrar o tempo é um aprendizado diário. Desde que montei a empresa há cinco anos, este é o ano em que encontrei uma dinâmica que tem funcionado melhor. Eu não sou uma pessoa noturna, por exemplo. Sei que rendo melhor de manhã e à tarde. E percebi também que preciso encaixar uma pausa neste tempo para não ficar o dia todo em frente ao computador, nos dias em que não tenho gravação. Portanto, costumo trabalhar das 8h40 às 11h30, faço uma pausa para ir na academia, almoçar, volto às 14h e sigo até às 20h. Nos dias em que saio para gravar em ambientes externos, não tenho muito controle, sigo de acordo com o cronograma do dia.

Atendemos clientes de segmentos diversos e, dessa forma, são vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, trazendo um dinamismo muito interessante e que precisa ser organizado para fluir bem. Cada projeto tem uma característica e um prazo distinto de entrega. É importante dar prioridade para o que precisa ser resolvido com emergência e ir caminhando com um pouco mais de calma quando a entrega não precisa ser imediata. Falando assim parece fácil 😉 mas a luta com a ansiedade é diária. Ainda assim, prefiro o ritmo mais agitado do que o mais lento.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

A tecnologia, sabendo usá-la, só vem para ajudar. Utilizo diariamente o Calendário da Apple, que está sincronizado com o computador e celular, para organizar as tarefas de curto e longo prazo. Gosto do aplicativo Evernote para anotações de ideias, controle de pagamentos, recebimentos e status de projetos em andamento. O Dropbox é fundamental na nossa empresa para subirmos arquivos de fotos e vídeos. E o Google Drive é indispensável pois ele organiza em um único local, pastas com os orçamentos, trabalhos e documentos mais importantes.

As redes sociais também funcionam para o bem, embora me dispersem um pouco. Eu gosto de divulgar os vídeos que realizamos na nossa fanpage do facebook e publicar inspirações dos bastidores das nossas gravações no meu perfil pessoal do instagram. A repercussão sempre causa um barulho saudável que nos ajuda a saber o que as pessoas estão achando das nossas produções.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Eu gosto de trabalhar com música. Se estou respondendo e-mail ou fazendo roteiro, sempre tem música tocando. Normalmente um jazz ou bossa nova, que me ajudam a concentrar. Quando estou editando vídeos, são as trilhas dos vídeos que ficam tocando, então normalmente meu escritório não é muito silencioso, mas é um barulho que ajuda a inspirar meu raciocínio. Não consigo trabalhar no silêncio absoluto, preciso dessa movimentação sonora para me concentrar. O espaço em si é bem iluminado com objetos, fotos e cores que me inspiram. Vivo mais no escritório do que na minha casa, então decorei de um jeito que eu me sinto confortável e feliz em ficar tanto tempo ali.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

As referências são sempre muito bem vindas. Como trabalho com audiovisual, minhas inspirações vêm, na maioria das vezes, de vídeos que eu assisto via YouTube, Vimeo, documentários Netflix e TV a cabo. Eles sempre me instigam a pensar em formatos diferentes e a não me acomodar no que fazemos normalmente. Livros me ajudam bastante também. São meu refúgio quando canso a mente de tanto olhar para as telas digitais. Gosto de grifar as páginas, dobrar as orelhas e usar os livros como um todo. Não me apego em deixá-los como se fossem objetos intocáveis. São meus. Feitos para serem lidos e terem suas divagações mais marcantes sinalizadas para que sejam consultadas sempre.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Procuro me precaver dos erros ao máximo. Lembro de uma noite em que eu estava muito tensa com uma gravação que iria acontecer na manhã seguinte, liguei para minha mãe, comentei sobre isso e ela me disse: “certifique-se de que está fazendo tudo para que nada de errado aconteça com este projeto, mas se mesmo assim um imprevisto ocorrer, foi porque estava fora do seu controle”. Levo este lema para a vida. Insisto no óbvio. Aviso a equipe sobre os horários das gravações várias vezes, checo o equipamento que levaremos para as gravações mais de uma vez, não gosto de dúvidas no ar. E mesmo assim, quando algo dá errado, tento me perdoar e aprender com aquele erro para que não aconteça de novo. Os bloqueios criativos também acontecem. Não é todo dia que acordo inspirada para editar. E se você não se entrega para a edição, todo o trabalho de captação não valeu. Então, se tenho tempo, e não estou confortável para editar naquele momento, procuro fazer pausas e me dar a chance de voltar mais tarde para terminar aquele projeto. Não é fácil lidar com a ansiedade, a gente se cobra muito. A vida é passageira, não precisamos levar tudo à ferro e fogo. As coisas se resolvem, só é preciso ter um pouco de calma e concentração.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Sempre que me vejo procrastinando, tento voltar ao que estava fazendo. Gosto de fazer algumas pausas para ver vídeos ou notícias não relacionadas ao que estou produzindo, mas preciso tomar cuidado pois as redes sociais ainda me distraem muito. Às vezes entro no YouTube, Vimeo ou Facebook para checar alguma referência e me vejo mergulhada na imensidão de vídeos  e notícias que se destacam por lá. Não funciona para mim ficar longe das redes sociais por completo, elas fazem parte do meu trabalho e da minha rotina, mas estou aprendendo a usá-las com moderação e não ficar checando a todo momento as atualizações.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

“A máquina de fazer espanhóis” do Valter Hugo Mãe. Li este livro uns dois anos atrás e até hoje não encontrei nenhum outro que me tocasse como este. Gosto de emoções à flor da pele, de pensar sobre a condição humana, sobre o tempo, sobre as sensações diárias do acordar, sentir, pensar e sofrer. Quando o li, eu nem imaginava que era possível colocar no papel todos esses sentimentos da forma que ele fez. Grifei várias partes do livro, dobrei as pontinhas da página e tenho ele comigo como meu favorito para a vida. Embora eu trabalhe com vídeos, a escrita tem um significado muito importante no meu processo de criação. Os meus vídeos têm que refletir as emoções das histórias que estão sendo contadas e, portanto, tudo o que eu leio que me traz essa sensação, eu levo comigo.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

O meu conselho seria: Siga a sua intuição. Mil vezes e todas as vezes. Sempre que tiver dúvidas e mesmo quando não tiver.

A intuição é minha religião. É o que me fala de dentro e me protege do que não será bom. Hoje faço muito mais coisas que tenho vontade, sem pensar no que estão pensando. A nossa intuição é livre e nos leva para onde a gente mais acredita. Dos vinte anos até agora, consigo ver que os erros também fizeram parte de tudo de bom que aconteceu. Não mudaria nada. Gosto muito daquela frase que diz: “as coisas erradas sempre trazem boas histórias”. E eu adoro histórias.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Um projeto extremamente emotivo, em que as pessoas irão assistir/ler/acompanhar e mergulhar profundamente naquelas sensações. O piloto disso foi o Vidas em Transição, lançado em 2016, que produzi com minha irmã, que trabalha comigo. É uma websérie que fala das angústias e dos aprendizados de pessoas que passaram por transições de carreira. Aprendi muito com esse projeto porque foi uma forma de abordar o conteúdo de carreira de uma maneira extremamente sensível. No entanto, o próximo projeto pessoal que pretendo me envolver, será mais relacionado com a vida como um todo, com as perdas, saudades, sonhos, medos e pessoas que chegam e saem dos nossos dias. Gosto de falar da profundidade dos sentimentos. Vivo rascunhando no meu blog pessoal algumas coisas e no meu instagram pessoal, mas ainda não sei se isso tudo viraria um livro, ou um grande filme. A gente se vê em breve para ver no que isso vai dar.

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Como trabalha Michelle Prazeres

12 de janeiro de 2019 by José Nunes

Michelle Prazeres é jornalista, mãe e idealizadora do Desacelera SP.

Foto: Solano Diniz.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Por conta dos dois meninos, eu acordo com eles, que são o meu despertador. Quando eles acordam, eu acordo também, a não ser nos dias em que eu dou aula pela manhã, quando eu acordo muito cedo, por volta das 6h da manhã e eles ficam em casa dormindo. Eu tenho uma rotina matinal. Se eu não tiver uma rotina eu não consigo me organizar pra sair de casa com os meninos. Então eu acordo, tomo café, arrumo as camas. Arrumo a casa, que sempre fica uma bagunça do dia anterior. Preparo o café da manhã deles, meu e do meu marido. A gente toma café junto, nos dias em que está todo mundo junto em casa. E eles vão pro berçário e pra escola só à tarde. Então essa rotina matinal me ajuda a ter mais organização e conseguir sair de casa com dois. Eventualmente a gente muda essa rotina em função de algum compromisso de manhã. Então se tiver que ir ao pediatra ou se eu tiver uma reunião e tiver que deixá-los na escola excepcionalmente de manhã. Mas normalmente a rotina da manhã é uma rotina calma e tranquila, com eles em casa por escolha minha. É um período que eu gosto de estar com eles dois, tirando, é claro, os dois dias em que eu dou aula pela manhã, que são quinta e sexta.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu diria que não é uma questão de preferência, eu só sei funcionar assim. Eu sou uma pessoa que circulo muito. Sempre durante a minha trajetória eu fiz mais de uma coisa, nunca trabalhei num projeto só, numa empresa só. Eu passei por redações, como jornalista, depois passei muito tempo em organizações não governamentais, coletivos e organizações da sociedade civil fazendo assessoria de comunicação e sempre aliando isso aos estudos, ao mestrado, ao doutorado, e outros tipos de estudo e a outras atividades, como consultora, moderadora de grupos, mesmo a militância, que sempre foi uma atividade presente na minha vida. Então eu nunca fiz uma coisa só. Eu brinco que sempre fui uma equilibrista de pratinhos. E depois da maternidade essa relação com a administração do tempo mudou muito, porque os filhos gritam pra gente sobre quais são as prioridades, sobre o que é importante na vida. Depois que eu engravidei do Miguel eu revi muitas coisas nessa minha organização do tempo. Eu tinha o tempo muito organizadinho na agenda, com horários, dividindo meu dia, tentando equilibrar coisas que são pessoais, coisas que são de militância, coisas que eram de trabalho, enfim. Eu tinha uma agenda bem organizadinha, daí o Miguel veio me mostrar a primeira lição que os filhos nos trazem, que é: você não tem controle de nada, desapega, não adianta você se planejar, porque com filho planejamento só existe pra você refazer tudo. Isso a cada dia. Todo dia o filho traz uma nova questão e você precisa se reprogramar em relação ao que você tinha pensado no dia anterior. Eu inclusive mudei a forma de trabalhar, deixei de trabalhar em lugar fixo, terminei meu doutorado fazendo um monte de freelas pra flexibilizar meu tempo e poder passar mais tempo com ele. Eu amamentei o Miguel até dois anos e meio, eles são dois filhos de partos naturais, então são processos de autoconhecimento que me trouxeram muitas questões, especialmente na gestão do tempo. Eu criei um projeto chamado empreendedorismo materno, que era um blog onde eu contava histórias de mães que flexibilizaram a jornada de trabalho para ficar mais tempo com os filhos. E contando essas histórias eu também me inspirei e transformei a minha, flexibilizando a minha jornada para estar mais tempo com ele. E em seguida comecei a gestar esse projeto do Desacelera SP, que ficou mais evidente pra mim com a chegada do Francisco, cinco anos depois. Então as duas gestações me fizeram gestar esses projetos e todos eles têm a ver com essa coisa da gestão do tempo e como eu administro a minha rotina pra priorizar o que de fato é importante pra mim, que é ficar com eles. É claro que sendo uma feminista e sendo uma mulher da contemporaneidade eu estou inserida nesse contexto, são muitos dilemas, muitas questões e eu não tirei o foco da minha carreira. Eu gosto do que eu faço. Eu só tento equilibrar de uma forma que não fique tão pesada. E eu costumo questionar muito aquele discurso da mulher multitarefa que dá conta de tudo. Não, a gente não tem que dar conta de tudo. A gente precisa ter um dia mais equilibrado. O direito e as políticas públicas que a gente tem hoje não dão conta de amparar a maternidade em relação ao trabalho. A gente ainda sofre muito assédio, muitas ameaças quando engravida e volta da maternidade para um trabalho formal. A gente ainda é vista como trabalhadoras que têm limites, porque têm filhos. Então tudo isso faz com que a gente tenha que administrar isso de forma muito privada, muito isolada, muito individual, muito sozinha. Que a gente encontre outros amparos. Outros amparos que eu encontrei, além da minha família, foi nessa rede de mulheres que se articulam em torno da maternidade para repensar a maternidade nesse contexto atual, moderno, em que as mulheres que trabalham passam por essas questões. Então a minha organização, de todos os projetos em que eu estou envolvida passa por aí também.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?

Eu sou uma estudiosa da tecnologia. Não me considero uma deslumbrada, mas sou usuária heavy user de tecnologia e eu preciso usar para trabalhar, acompanhar as coisas, mas nesses momentos, por exemplo, em que eu estou com os meninos, em casa, eu procuro sempre ficar mais isolada das tecnologias para conseguir de fato garantir uma plenitude, uma presença naquele momento. Essa é um pouco da reflexão que a gente traz no Desacelera SP, se você quer estar plena, quer estar presente, você não pode estar com sua atenção dividida pro que é prioridade. Então tente estabelecer uma relação com a tecnologia em que você esteja no controle. Em momentos que você quer estar presente, evite atender aos apelos do celular, especialmente. Porque o celular é essa tecnologia em que a gente está always on, sempre disponível. O celular é uma tecnologia que entrou na nossa vida e acabou indexando nossa existência de uma maneira que a gente fica muito refém. Se você quer desacelerar, estar presente, você não pode deixar o celular interromper esses momentos de plenitude em que você quer estar inteiro. Em relação ao e-mail, eu também tenho no celular, porque facilita muito a vida, mas tecnologia é o uso que você faz dela. E esse uso não pode te deixar refém. Eu também uso e-mail no celular, vejo e-mail o tempo inteiro, fico online quando estou trabalhando no computador, mas, por exemplo, quando estou dando aula ou quando estou com os meninos, ou qualquer outro momento em que eu não posso ficar checando o tempo inteiro, eu não fico olhando e-mail, porque se aparece uma demanda, eu não vou ter nada o que fazer. E a verdade é que o e-mail vem ganhando um outro uso pelas pessoas. O e-mail vem sendo usado para coisas menos urgentes. Então eu tenho momentos do dia em que eu checo meu e-mail. E eu já me convenci de que se eu não consigo responder a uma mensagem em dois ou três dias, eu respondo dizendo “olha, eu vi a sua mensagem e vou responder assim que der” e as pessoas já começaram a entender que é assim que funciona.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Meu local de trabalho é muito variável. Às vezes eu trabalho em casa, planejando aula. Às vezes na faculdade, na pesquisa que eu estou desenvolvendo lá. Às vezes eu estou em sala de aula, na sala dos professores, trabalhando em alguma coisa. Às vezes estou na sala de aula orientando alunos com TCC, então os locais de trabalho variam muito. Normalmente eu trabalho bem com silêncio e um ambiente mais particular, mas esses ambientes são muito coletivos, quando eu estou na faculdade ou na sala de aula. Acho que cada ambiente tem a sua peculiaridade, mas se a questão aqui for sobre as interrupções, eu preciso trabalhar com concentração. Eu não consigo trabalhar muito bem com interrupções.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Na verdade as ideias são sempre muito orgânicas, com o empreendedorismo materno e o Desacelera SP, que são projetos que eu criei, são sempre projetos muito orgânicos, no sentido de tentar conectar a minha experiência de vida em algo que possa ajudar as outras pessoas. Lá atrás quando eu criei o blog eu pensei “bom, se eu vou coletar essas histórias pra me inspirar, por que não contar essas histórias pra que outras mães possam também se inspirar?” E no Desacelera SP também foi isso. Foi um movimento muito orgânico que eu e o meu marido começamos a buscar nas nossas vidas e a gente começou a perceber que essa busca poderia ser a busca de outras pessoas também. Então a gente se conectou ao movimento slow, buscamos informações e começamos a desenvolver esse mapeamento que a gente faz no Desacelera SP. E as consultorias que a gente faz, desenvolvendo cursos e oficinas para pessoas que querem isso também. Então essa criatividade – e eu nem sei se posso me chamar de criativa – mas, talvez essa prática, esse método mesmo que eu tenho na vida, de não me pensar como um ser isolado do mundo. Então provavelmente as coisas que eu estou vivenciando podem também estar sendo vivenciadas por outras pessoas. E fazer sempre no coletivo, sempre com colaboração, sempre na rede. Esse é um pouco o meu fazer, que eu acho que responde à sua pergunta sobre de onde vêm as ideias.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Eu não sou muito perfeccionista. E nem tenho muito medo de não corresponder às expectativas em projetos longos. Na verdade eu tenho um espírito hacker no sentido de que quando eu tenho uma ideia eu coloco ela no mundo e vejo como ela reverbera. E eu vou construindo ela na medida em que ela vai andando. Eu não tenho muito essa coisa de precisar de anos para planejar, de que a ideia precisa estar madura para jogar ela no universo. Então especialmente esses dois grandes projetos pessoais, que eu considero coletivos também, que já são do mundo, eu comecei assim, um pouco do “ah, começa e vamos ver no que dá”. O que é não dar certo, sabe? Pra mim começar já é dar certo. É uma ideia de experimentação para transformar, que eu acho que é um espírito meio hacker que eu tenho, de ir experimentando, ir fazendo, experimentar fazendo e o que der é o certo.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Eu não sou muito procrastinadora. Sou muito do fazer. Tenho coisas pra fazer e me organizo em listas. Depois do Miguel eu passei a me organizar em listas muito curiosas. Algumas listas eu fiz assim: “tarefas para fazer se eu tiver meia hora” ou “tarefas para fazer se eu tiver uma hora” (risos). Mas eu abandonei essas listas, porque estava muito neurótico. Mas eu tenho listas. Listas de tarefas que são prioritárias, de coisas que eu quero fazer, mas que são mais a longo prazo. E essas listas são permanentemente revisadas, inclusive para ver se elas ainda têm sentido na minha vida. Podem ser listas de tarefas que eu tenho para fazer naquele dia, que me ajudam a me organizar, e listas de coisas que eu quero realizar na vida. Eu vou guardando essas coisas. Elas me ajudam, mas eu não tenho especificamente técnicas pra lidar com isso. Eu me coloco metas, prazos, se precisar eu uso os tempos que eu tenho na semana, que não são muitos tempos livres, mas eu faço uso desses tempos de uma forma organizada. E eu vou lidando com isso. Têm tarefas que são semanais. Eu preciso planejar aulas semanalmente, eu não repito as aulas, eu estudo, revejo, trago bibliografia e exemplos novos, então pra isso eu preciso ter um tempo na semana que é fixo. E pra outras coisas eu tenho tempos móveis, que eu vou usando mais pra coisas de longo prazo. E eu funcionam bem me organizando assim.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Escolher um livro é como escolher uma música, eu não consigo! Mas para o Desacelera SP foi muito revelador ler o livro Devagar, do jornalista Carl Honoré, que é a bíblia do movimento slow e foi muito revelador pra mim. Agora eu estou lendo O Bem Viver, do Ruben Acosta, que está mudando muito a minha perspectiva sobre crescimento, desenvolvimento, e essa leitura de que para conquistar o bem viver a gente vai precisar parar de crescer em algum momento. São livros que têm a ver com a minha vida hoje e são transformadores.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

O conselho que eu dou para os meus alunos: respira. Eles às vezes vêm com questões que parecem muito urgentes e eu digo “calma, respira”. As coisas não são tão assim como parecem, a vida é complexa, as relações são muito mais importantes do que qualquer outra coisa. Cultive as suas relações, a sua reputação. Como jornalista a reputação é muito importante. Se preocupe com quem você é, com o ser humano que você é e com as relações que você está construindo. Esse eu acho um bom conselho e que eu costumo dar para os meus alunos, especialmente.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Eu estou sempre gestando coisas e estou querendo fazer um projeto com meu filho, Miguel. Ele é muito criativo, tem muitas ideias, e eu acho que o meu próximo projeto vai ser em parceria com ele, eu espero. Não é exatamente um livro que eu não li, é só um projeto que eu tenho em mente para fazer com ele, vamos ver se vai dar certo.

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Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutorando em direito na Universidade de Brasília.

Meu trabalho

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  • observatório da democracia

Como eu Trabalho

O como eu trabalho revela os bastidores do processo criativo de artistas e empreendedores.