Bruna Castro é redatora & agitadora cultural & mestranda em Estudos Urbanos pela Faculdade de Ciências Humanas de Lisboa.

Como você começa o seu dia? Você tem algum ritual de preparação para o trabalho?
Não tenho rotina, e sempre me questiono se eu quero uma rotina. Acho que como redatora freelancer, o que se perde são coisas básicas: direitos trabalhistas, benefícios e o dinheiro certo todo mês. E qual é a moeda de troca? A liberdade e o próprio gerenciamento de horários. Eu trabalho com a criatividade, então o meu corpo diz quando estou no estado perfeito para fazer os meus trabalhos. Então, tem dias que eu sento e em 4 horas eu consigo terminar todas as minhas tarefas, enquanto tem dias que não sai muita coisa produtiva. Acho que, para mim, o mais importante é estar atenta aos meus estados mentais e corporais.
Como você organiza sua semana de trabalho? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
Sou muito organizada com as minhas entregas. Além de ter absolutamente tudo no Calendar, eu uso o Trello com alguns clientes e uso o Momentum (no Google Chrome), onde anoto as prioridades do dia.
Como costuma ser o seu local de trabalho? E o que muda na sua rotina quando você viaja?
Eu trabalho muito em casa, numa sala que deixei do meu jeitinho, alguns dias também vou para alguma biblioteca ou café, e no verão (moro em Portugal), vou para alguns espaços públicos onde eu posso trabalhar. Quando viajo, eu tento realizar as minhas entregas antes e trabalhar pouco. Já tentei viajar bastante e trabalhar ao mesmo tempo, mas sempre me senti ansiosa, porque às vezes precisava parar tudo e conseguir uma boa internet para enviar algum arquivo, etc. Não gosto dessa sensação. Então eu prefiro preparar tudo antes para viajar com um pouco mais de tranquilidade.
Como você se organiza ao dar início a um novo projeto? Você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?
Eu costumo começar sem internet. Eu penso. Não gosto de ir direto buscar referências. Anoto coisas, faço um esquema mental, escrevo o que eu acho que funciona, e só depois vou organizar a entrega. De forma geral, não planejo muito. E também tenho muitos arquivos no Drive com projetos que sequer existem, anoto nomes que me vêm na cabeça, links, coisas que me podem ser úteis algum dia.
Quais são seus maiores ladrões de tempo e como você lida com eles?
As tarefas da casa, limpeza, fazer almoço, etc. Mas também acho que são coisas boas. Gosto de largar o computador uns momentos para fazer tarefas diferentes.
Mas na verdade o que me tira o foco são as atividades sociais e culturais, eu não consigo dizer não, quero ir em tudo sempre. O que acontece é que às vezes eu preciso trabalhar até 3 da manhã para compensar. 😛
Como você lida com bloqueios criativos como o perfeccionismo, a ansiedade e o medo de não corresponder às expectativas?
Se o bloqueio está muito sério, eu comunico o meu cliente, e digo que não estou satisfeita com o que estou fazendo, e pergunto se há possibilidade de aumentar um pouco o prazo. Não tenho muita ansiedade nos meus trabalhos, trabalho com pessoas que eu gosto muito. O medo também só acontece quando é um cliente novo, às vezes, até encontrarmos uma maneira de trabalhar juntos leva um tempo, e é sempre nesse período que eu fico nervosa.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da minha própria vida, das coisas que eu leio, ouço, vejo, observo. Dos meus amigos e do universo que eles me apresentam. A minha maneira de ser redatora é bastante poética, então eu preciso estar sempre particularmente sensível para que saiam bons textos ou ideias.
Que livro você mais tem recomendado para outras pessoas? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
Não sou muito de fazer esse tipo de recomendação. E até costumo indicar muito mais músicas e filmes do que livros. Normalmente as pessoas me pedem dicas musicais, porque eu gasto muito tempo pesquisando músicas de muitas partes do mundo, e acho que é um papel importante ajudar a divulgar artistas que não estão na grande mídia. Acho que deveríamos ouvir mais músicas em húngaro, espanhol, polonês, nepalês. Abrir a escuta talvez seja mais importante para mim do que qualquer outra coisa. A música é a minha leitura do mundo.
Que conselho você queria ter ouvido no início de sua carreira? Com o que sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria diferente?
Eu tinha muita insegurança no passado por sentir que eu não conseguia ser redatora “publicitária”. Pensei em desistir, até que encontrei a minha maneira de trabalhar, sem abrir mão do “jeitinho dos meus textos”. Persistir foi muito bom, porque aos poucos, os clientes certos foram se aproximando de mim. Não precisei trabalhar com roteiros de televisão para marcas de cerveja para me afirmar como redatora. Gostaria de ter essa calma lá no passado, e entender que tem espaço para todo mundo. Cada um trabalha da sua maneira.
Mas se tem uma coisa que acho que acertei, foi SEMPRE ter mantido os meus outros interesses e os meus projetos pessoais. Eu nunca dei toda a minha criatividade para o trabalho.
O que você talvez faria se não tivesse seguido sua carreira atual? Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?
Acho que eu gostaria de ter sido professora para crianças, como a minha mãe. 🙂 Adoro estar entre os pequenos!
Sobre os projetos, primeiro preciso terminar a dissertação do meu Mestrado e escrever um livro, depois eu penso nos próximos projetos.