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Como trabalha Augusto Campos

8 de abril de 2017 by José Nunes

Augusto Campos é administrador, atua na área de Planejamento Estratégico em Florianópolis e é autor dos sites Efetividade.net e BR-Linux.org.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Após o café em família, normalmente faço uma breve revisão das pendências e agendamentos do dia, e escolho a ordem em que serão resolvidos – que nem sempre atende ao critério da importância, porque é preciso considerar também o aspecto motivacional. Fora eventuais urgências que saem da fila, eu geralmente dedico a manhã a rotinas administrativas que possam ser resolvidas sem interações, e a atividades criativas. Em consequência, deixo para as tardes tudo o que envolver contatos, reuniões, telefonemas, etc.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu prefiro poder priorizar e escalonar de forma a poder tratar poucas coisas de cada vez, mas a realidade mais frequente é ter bastante coisa acontecendo ao mesmo tempo, então eu me certifico de reservar tempo suficiente para o acompanhamento do andamento de tudo, bem como para gerenciar comunicações com todas as partes envolvidas e interessadas, e o tempo restante eu aloco a cada ação ou objetivo de acordo com priorizações tradicionais.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Pelo contrário, o e-mail é um grande aliado! Por mais que ele possa interromper, outras alternativas (como mensageiros instantâneos ou telefonemas) interrompem bem mais. Eu uso várias ferramentas tecnológicas, em especial para agendamento de compromissos e de tarefas pendentes, mas nenhuma delas é avançada ou incomum – todo leitor provavelmente deve ter modelos similares instalados nos seus celulares ou nos favoritos dos seus navegadores. O segredo, na minha opinião, é ser consistente no seu uso.

Mas a ferramenta que eu mais uso para a minha produtividade no dia-a-dia são listas de pendências, que eu prefiro registrar em papel. Para isso, uso fichas 3×5, estilo “ficha de leitura”, e sempre ando com algumas delas no bolso, para capturar novas pendências, registrar seus andamentos, e também para anotações em geral. Após cumprir sua finalidade, elas são descartadas para reciclagem, não sem antes transferir para os softwares o status final das pendências, e eventuais informações anotadas. Assim, posso me manter em atividade sem me expor permanentemente ao potencial de distração que fica ao redor das ferramentas informatizadas!

Quanto ao que eu produzo usando o computador, sempre que possível prefiro usar formatos abertos, para que possa trabalhar neles mesmo se tiver que usar algum ambiente no qual não esteja disponível algum aplicativo específico associado a determinados formatos.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

Eu alterno entre ambientes, e ajusto minha rotina às características disponíveis em cada um deles. Para trabalho criativo, prefiro silêncio e a possibilidade de controlar as interrupções. Para as demais atividades, o contato humano é necessário e não pode nem mesmo ser classificado como interrupção.

O que há em comum entre os ambientes, entretanto, é o acesso ao meu conjunto de informações de referência e de acompanhamento das atividades em andamento. Tendo ferramentas básicas e conectividade, posso dar andamento às minhas rotinas de trabalho em qualquer lugar, mas instrumentos adicionais (uma boa mesa de reuniões, uma escrivaninha ergonômica, etc.) e itens de conforto como iluminação e climatização adequadas, redução do nível de ruído, etc. certamente contribuem para o resultado e a produção.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Eu acredito que a criatividade esteja associada a poder deixar o subconsciente trabalhar, e sempre ouço histórias de pessoas que, quando querem facilitar o surgimento de uma ideia nova, vão tomar um banho, dar uma volta na quadra ou dirigir sem rumo, por exemplo. Para mim o processo é parecido: quando eu quero facilitar o surgimento de uma ideia nova, eu procuro ler sobre algum assunto no qual eu não tenha nenhum interesse direto. Depois de alguns minutos de leitura sem necessidade de muita atenção, parece que o meu cérebro se sente à vontade para interromper com alguma novidade!

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Ansiedades são da natureza humana, e aquelas causadas por projetos longos ou que vão demorar a frutificar são especialmente naturais, a experiência ajuda a desenvolver tolerância para complementar o que a paciência não resolver sozinha. Os outros 3 itens eu acho que estão bastante relacionados entre si: se não forem por questões motivacionais ou de competências técnicas, associo os bloqueios a uma preocupação com a forma como será avaliado o resultado – seja por si mesmo (exacerbado pelo perfeccionismo) ou pelos outros. Também passo por bloqueios, mas não é raro conseguir vencê-los simplesmente me obrigando a escrever um primeiro parágrafo (ou uma primeira folha) ruim. Depois que o ritmo engrena, é só descartar o início e escrever um novo.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Muito do que tradicionalmente se via sobre produtividade funcionou para mim por um bom tempo, foi essencial para que eu alcançasse meu atual estágio de maturidade no assunto, mas eu deixei de praticar ao longo do tempo. Ter só uma caixa de entrada, e estabelecer como meta mantê-la zerada, por exemplo, são ideias que eu abandonei há anos – mas foram importantes para o aprendizado.

Já a procrastinação é mais um exemplo de condição que é inerente à condição humana. Não sei se é possível vencê-la, mas eu pratico a disciplina, tanto quanto consigo!

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Sempre fui um leitor ávido e, conforme mencionei acima, leio até sobre assuntos que não me interessam, como forma de estimular o surgimento de insights. Não saberia, assim, indicar nenhum livro em especial, embora possa afirmar que não daria destaque nesse sentido (o de fazer mudar a vida) a nenhum livro sobre produtividade pessoal, que é meio e não fim.

Quanto ao aprendizado espontâneo, eu acredito no adágio que diz que o pior artesão é aquele que culpa as suas ferramentas. Assim, sou fã de continuar me informando e atualizando sobre ferramentas que uso ou posso vir a usar nas minhas atividades, e nunca me desestimulo por não ver finalidade imediata em algum aprendizado do tipo.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Nunca ache que é errado pedir para registrar por escrito o que foi combinado!

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Eu sinto falta de literatura que trate da produtividade pessoal sob o enfoque da motivação, partindo da percepção de que fazemos melhor (e mais rápido) as coisas quando sabemos o sentido delas, a forma como elas se encaixam em um plano maior. Seria, talvez, um enfoque estratégico da produtividade pessoal.

Mas observo que boa parte dos leitores está mesmo em busca de técnicas e ferramentas para conseguir dar vazão à quantidade de esforço que a sua rotina exige, e que considerações sobre a razão ou os objetivos por trás disso, quando existem, são bem secundárias (do ponto de vista deles). Entendo as razões para isso, e meu caminho também começou assim.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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