Amanda Areias é designer gráfica por profissão, viajante por paixão e feminista por necessidade. Mantém um blog em que escreve sobre suas viagens sozinhas pelo mundo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo todos os dias às 5h, tomo um café da manhã reforçado e vou fazer minha sessão de Hot Yoga diária, que é uma modalidade do esporte praticada em uma sala climatizada a 40ºC. A Yoga me ajuda muito tanto no âmbito físico, quanto no mental. Meu dia fica mais leve e eu fico muito mais concentrada e equilibrada, faz toda a diferença. Depois da yoga eu vou ao escritório trabalhar.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu sempre tenho vários projetos acontecendo simultaneamente (risos). Tanto pessoais, quanto profissionais. Amo o meu trabalho, mas me encontro muito mais nos meus projetos pessoais do que no meu emprego (acho que qualquer pessoa, né?). Por isso, sempre que estou fora do escritório, estou trabalhando neles.
Não gosto de ficar parada, sinto como se a vida estivesse passando por mim sem eu fazer o que deveria estar fazendo, sinto que estou perdendo tempo. Então, além de trabalhar, eu tenho um blog de viagem, eu escrevo, administro um curso de inglês gratuito na Paraisópolis, participo de um coletivo feminista, leio, vou a palestras, entre várias outras coisas.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizada?
Não uso muito o e-mail fora do trabalho, e não me atrapalha não, muito pelo contrário. Profissionalmente, eu sou designer gráfica, então também uso vários programas da Adobe, não tem como ficar longe da tecnologia nessa profissão. Uso muito o calendário do celular pra me organizar, e o app “Evernote” pra escrever quando me vem alguma ideia de texto em lugares inusitados. Eu vivo no celular, a tecnologia me ajuda muito a ter mais praticidade no dia-a-dia; mas às vezes acho que não deveria depender tanto dela.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Eu trabalho em um escritório pequeno, contando comigo somos em 8 pessoas. Não preciso necessariamente de silêncio, não tenho problemas de concentração (talvez devido à yoga). Acho que só preciso de um computador e um bom Wi-Fi pra fazer as minhas coisas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu leio muito, muito mesmo. Acho que isso me ajuda bastante a tentar ser mais criativa. Acho muito importante – pra qualquer área – ter referências; sejam referências artísticas, musicais, de negócios, o que for. É importante você conhecer outras pessoas e outros trabalhos na sua área (ou até fora dela). Minhas ideias vêm basicamente daí, de coisas que eu vi, ouvi, senti e vivenciei pelo mundo.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sou uma pessoa muito calma e isso me ajuda muito com bloqueios criativos, perfeccionismo, expectativas, ansiedade, etc. É muito difícil eu me desesperar, sou uma pessoa muito realista e pé no chão. Se não deu certo, paciência, às vezes não dá mesmo e esse não é o fim do mundo, na próxima a gente tenta de novo. Mas isso não quer dizer que eu não dê o meu máximo.
Acho que quanto mais calmo você é, melhor você é em tudo, e melhor você lida com esse tipo de problema. Todo mundo tem frustrações, mas não é todo mundo que sabe lidar com elas. As pessoas se desesperam, e isso acaba só piorando a situação.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
Eu não costumo ter muito tempo livre durante a semana. Se eu não estou na Yoga, eu estou trabalhando, se eu não estou trabalhando, eu estou com amigos, se eu não estou com amigos, eu estou em alguma palestra, ou na terapia, ou em um jantar de família e por aí vai. Então, pra ser bem sincera, eu dou valor quando eu tenho um tempinho para simplesmente deitar no sofá e ficar sem fazer nada.
Eu também não costumo deixar as coisas pra fazer depois, sempre fui assim; então, quando estou em casa sem fazer nada, é porque eu realmente não tenho nada importante pra fazer.
Um conselho sobre produtividade que nunca deu certo comigo? Acho que o clássico “senta a bunda na cadeira e faz isso”; isso me bloqueia; preciso estar à vontade pra conseguir produzir material interessante, e sentando na cadeira e esperando a inspiração vir não é o melhor jeito de se fazer isso.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
O livro que mais mudou a minha vida se chama “As Montanhas de Buda”, do Javier Moro. Ele conta a história do Tibete e dos refugiados tibetanos que hoje vivem na Índia.
Não foi o melhor livro que já li, mas foi o livro que me fez conhecer a história desse país e que me fez querer ir pra Índia conhecer essa história mais de perto. Passei um mês na Índia conhecendo esses refugiados e essa conexão me mudou completamente, me fez ser quem eu sou hoje e me fez crescer de uma forma que eu nunca imaginaria, em tão pouco tempo.
Eu gosto muito de ler sobre histórias reais de lugares não tão explorados. Entre os meus livros preferidos, têm histórias do Oriente Médio, da Índia, da China, da África, e por aí vai. Gosto muito de ler sobre problemas sociais também, sobre presídios, sobre o lugar da mulher no mundo, sobre o tráfico e por aí vai. Tudo que me tire da minha zona de conforto e que me faça pensar eu aceito ler!
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
“Não tenha tanta pressa”. As pessoas querem fazer tudo muito rápido: já querem ser bem sucedidos, morarem sozinhas, terem carro próprio e estabilidade financeira aos vinte anos; acho que essa competição que a gente vive de “quem tem mais poder” ou mais sucesso profissional faz muito mal para todos.
Vinte anos é a idade de se descobrir, de aprender coisas novas, de se achar no mundo. Se a gente está muito focado em ficar rico logo, a gente acaba deixando esse descobrimento pra trás, e eu acho que esse é o pior erro que alguém pode cometer.
Descobriu que está na faculdade errada no quinto semestre? Tranca e começa outra. Não está gostando do seu trabalho por mais que o salário seja bom? Se demite e vai fazer qualquer outra coisa pra se encontrar. Parou de gostar do(a) namorado(a) com quem você estava há 5 anos e achava que ia casar? Termina e fica um tempo sozinha(o).
A gente não precisa fazer tudo pensando no futuro e correndo pra chegar “lá” logo, a gente nunca vai chegar lá. Por isso, a gente precisa aprender a parar e observar o caminho.
Eu sinto que as pessoas da minha idade (tenho 23) têm muita pressa pra conseguir essa estabilidade financeira logo e acabam deixando a vida pra trás, o que faz com que elas percam cada vez mais sua própria identidade.
Hoje, se eu tivesse que começar novamente, eu faria mais cursos e aprenderia novas habilidades. Mas também não é nada que eu não possa começar agora (coisa que eu já tento fazer).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu maior sonho é conseguir viajar o mundo e ao mesmo tempo ter algum tipo de renda; não é especificamente um projeto, mas é algo que eu gostaria de fazer mas ainda nem comecei. Preciso pensar em como conseguir fazer isso e dar um jeito de viabilizar a idéia.
Um livro que eu gostaria de ler e ainda não existe? Acho que seria algo do tipo “Como despertar a empatia nos outros”. Sinto que quase todo mundo que eu conheço é muito autocentrado e focado somente em si mesmo, ninguém liga pra ninguém, ninguém faz questão de ajudar ninguém e é por isso que o mundo anda desse jeito. É por isso que existem guerras, corrupção, genocídios, etc. Porque as pessoas só se importam consigo mesmas e com seus amigos e parentes próximos. Seria legal encontrar um modo de despertar essa preocupação genuína com o próximo nas pessoas.