Alex Bretas é cofundador da Multiversidade, escritor e pesquisador no campo da aprendizagem autodirigida.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não levanto super cedo como querem alguns manuais de produtividade. Aliás, acho que esse tipo de recomendação arbitrária (“levante às 6h e faça exercício logo de manhã para ser produtivo”) mais atrapalha do que ajuda as pessoas. Geralmente, tomo café por volta das 8h e começo a trabalhar. No final da manhã, vou à academia e, em seguida, almoço. Estou experimentando algumas meditações de manhã também, embora ainda não tenha desenvolvido o hábito.
Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não gosto de ter que administrar várias coisas simultaneamente. Nosso cérebro tem um tempo para se desligar de uma tarefa e se concentrar em outra, e se pulamos de tarefa em tarefa muitas vezes no dia, corremos o risco de não nos concentrarmos de fato em nenhuma. Uma das minhas atividades principais é a escrita, logo, concentração é essencial. No entanto, com a vida de empreendedor, ainda preciso lidar com um pequeno conjunto de projetos. O mais importante, nesse caso, é entender claramente quais são minhas prioridades em um dado momento.
Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?
Há meses venho cumprindo um combinado semanal: responder e-mails e mensagens no Facebook somente às terças e sextas. É claro que existem coisas que não podem esperar – e também frequentemente fico exausto ao ter que responder muitas mensagens em pouco tempo -, mas é algo que tem funcionado. Acho muito importante responder com qualidade a todas as pessoas que me procuram, porque sei o quanto é ruim ficar esperando uma resposta de alguém e ela não vir. Quanto às ferramentas, sou bem econômico: uso Slack, Google Drive e Google Calendar. Ah: e é bastante comum eu enviar e-mails pra mim mesmo quando quero salvar algum conteúdo interessante para ler ou compartilhar depois.
Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?
Trabalho muito de casa e vejo muitas vantagens nisso. Economizo tempo e dinheiro, além de conseguir organizar melhor minha rotina. De vez em quando, vou a algum café ou espaço de coworking para mudar de ares (ou quando a internet de casa não colabora). Quando estou escrevendo, preciso muito de silêncio, mas isso não costuma ocorrer com as outras atividades. Em geral, gosto bastante de ouvir música enquanto trabalho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Geralmente tenho ideias em momentos bem inusitados, como por exemplo, ao lavar a louça ou no metrô. Me preocupo bastante em anotar essas ideias para poder desenvolvê-las depois (seja no computador ou no celular). Acredito que esses momentos pouco glamourosos como limpar a casa, simplesmente caminhar ou usar o transporte público são extremamente valiosos para desocupar nossa mente e possibilitar o rearranjo de conexões. Fora isso, me exercito regularmente, faço yoga e procuro me alimentar bem.
Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando escrevo, geralmente, a primeira metade do texto é sofrida e a última é prazerosa. No início do processo criativo, ainda não sabemos onde aquilo vai dar e a insegurança pode acabar tomando conta. Se isso acontece, insisto um pouco mais, mas logo dou uma pausa se percebo que o fluxo realmente emperrou. Nessas horas, é importante não se culpar, ou pelo menos se dar um tempo para viver o “luto” de não ser a pessoa mais eficiente do mundo naquele momento.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?
A principal técnica para lidar com a procrastinação que desenvolvi foi ter encontrado o que realmente quero fazer. Se alguém procrastina muito, é preciso investigar se de fato é produtividade que se necessita ou então de um redirecionamento de sua atuação. A procrastinação muitas vezes é um alerta que as pessoas ignoram. Além disso, tenho por hábito compartilhar praticamente tudo que produzo, e isso acaba tornando mais fácil meu comprometimento em relação às minhas entregas. É sempre bom ter mais pessoas te acompanhando, não só pelos feedbacks que elas te fornecem, mas pela parceria e pela “fiscalização” que elas operam. No meu blog, por exemplo, fiz um compromisso público de que postaria todas as terças e sextas. Raramente falho.
Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?
“Educação democrática: o começo de uma história”, de Yaacov Hecht, mudou minha vida. A escrita com imagens de Yaacov e seu olhar atento para a aprendizagem me cativaram num momento crucial de transição de carreira, e isso certamente me influenciou a trabalhar com educação. Qualquer coisa que realmente consiga encantar uma pessoa é algo que merece ser saboreado. Precisamos nos doar mais a essas experiências de encantamento: coisas que provocam na gente aquele sentimento de deleite intransferível.
Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?
Aos vinte anos, talvez até antes, gostaria de ter sido encorajado a me aprofundar mais nos meus interesses. Não que eu não tenha feito isso nesse período, mas o fato é que só despertei para o valor da aprendizagem autodirigida anos depois. Isso faz uma diferença tremenda: saber que seus desejos e interesses podem se converter em uma atuação profissional, em um estilo de vida e até mesmo refletir na sua visão de mundo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de começar um projeto de transferência de renda não condicionada para moradores de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade. É uma ideia que está sendo testada em outros países e os resultados são animadores. Também quero muito ler o livro que o Traian Brumă, um dos fundadores da Universidade Alternativa na Romênia, está escrevendo a partir de sua viagem pelo mundo.