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Como trabalha Alberto Brandão

31 de maio de 2017 by José Nunes

Alberto Brandão é escritor e colunista no site Papo de Homem, analista de marketing na Blanq Tecnologia.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Sim, tenho. Gosto de acordar um pouco mais cedo do que a hora de sair de casa. Acordo, faço um café e sento para ler por mais ou menos uma hora antes de me arrumar e sair para treinar. Só depois da academia vou para o trabalho, onde o dia começa de verdade. Faço uma lista no papel das coisas que pretendo realizar no dia e sigo essa lista.

Como você administra o seu tempo? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Meu dia é muito mais corrido do que costumava ser. Treino de manhã, trabalho o dia inteiro e estudo pela noite. Não tenho opção de não manter vários projetos ao mesmo tempo. Além do meu trabalho eu estudo filosofia na Universidade Estadual de Londrina, estou escrevendo um livro e tenho minha coluna no PapodeHomem.

Mesmo assim não tenho uma forma “eletrônica” de gerenciar meu tempo. Deixo meus projetos pessoais para o domingo e durante a semana acabo focando apenas nas questões da empresa. Quando sinto que falta tempo, acabo removendo dos momentos de lazer (videogame, youtube e redes sociais) para cumprir a necessidade, mas nada mecânico.

Como é sua relação com a tecnologia? O e-mail tem interrompido sua vida produtiva? Que ferramentas você usa para se manter organizado?

Sempre fui bem envolvido com tecnologia e normalmente tento aplicar soluções para tudo o que faço. Hoje em dia, no entanto, acabo tentando remover camadas de complicação e indo um pouco mais no sentimento.

E-mail não é bem um problema para mim. Recebo muitos e-mails vindo do PapodeHomem, mas tento respondê-los assim que chegam. Costumo manter a política de zerar a caixa de entrada e não deixar nada pendente.

A ferramenta mais importante que uso para me manter organizado é o Trello. Tudo, desde os projetos da empresa até a lista de supermercado da minha casa e restaurantes que quero conhecer, estão numa lista por lá. Uso também Evernote para catalogar informações, pesquisas e estudos. De resto o Google Docs para escrever e compartilhar meus rascunhos com o editor.

Abandonei os apps de to-do list para controle em papel e voltei a fazer anotações em papel e caneta. Apesar da simplicidade no gerenciamento com a tecnologia, existe algo psicológico em ver a informação “na vida real” que me deixa mais satisfeito.

Como costuma ser o seu local de trabalho? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para trabalhar?

A empresa antigamente tinha um escritório bem silencioso, hoje o ambiente é menor e existe muito ruído. Eu prefiro silêncio e no máximo um barulho de fundo. Adoro trabalhar em cafeterias e aeroportos, existe algo nesses ambientes movimentados que me geram uma boa concentração.

Eu com frequência saio do escritório para trabalhar em outro lugar, apesar de ruído ambiente ser interessante, conversas e gente falando ao telefone me desconcentram bastante.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Eu gosto muito de livros, tento ler o máximo que consigo. Faço questão de comprar as edições em papel, mesmo dos livros que eu já li no digital. Ter os livros na estante e vê-los com frequência ao longo do dia me faz sempre revisitar alguma ideia esquecida. Às vezes passo, vejo a capa, vou folheando e encontro algo que desperta um fluxo interessante de pensamento e que acaba virando um texto.

De resto, gosto de me manter fisicamente ativo, observar o que acontece nas ruas e o comportamento das pessoas. Quase tudo o que escrevo vem desse vínculo entre observação do mundo com um referencial mais teórico extraído dos livros.

Como você lida com bloqueios criativos, como o perfeccionismo, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Eu tenho bem pouco bloqueio criativo e, quando acontece, sinto que apenas não quero escrever sobre aquele tema. Uso essa ideia até como filtro para saber se devo ou não escrever algo. Então, quando acontece, eu costumo mudar o tema, escrever sobre outro assunto ou mudar a ótica em cima da mesma temática. No geral – de forma bem pessoal – acho que bloqueio criativo é falta de interesse no assunto que estou abordando.

Eu comecei escrevendo de bobeira e sem muito conhecimento da gramática, então perfeccionismo nunca foi um problema muito grande pra mim. Conforme fui me profissionalizando, sofri muito com críticas de que não tenho uma gramática perfeita e quase parei de escrever por conta disso. Hoje entendo que meu foco está mais na mensagem do que na qualidade gramatical, mesmo considerando a forma muito importante.

Expectativas são complicadas. Quando um texto faz muito sucesso, o próximo se torna um verdadeiro desafio, viro um pouco mais meticuloso e acabo demorando mais com medo de “perder a qualidade”. No começo era um problema maior, mas hoje eu lido melhor com isso.

Sobre projetos longos, tendo a dividi-los em fases bem pequenas e não pensar no macro, só em cada pequeno passo que deve ser seguido.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? Que conselhos sobre produtividade não funcionaram para você?

Não acho que desenvolvi técnicas para lidar com a procrastinação, mas condensei o que existe para poder manter minha vida funcionando. No geral gosto de estabelecer uma rotina bem engessada e automatizar bastante as coisas. É o suficiente para eu entrar num fluxo e me manter produtivo.

Acho que de tudo, ficar offline é o que menos funciona para mim. Eu costumo citar muitas referências e confirmar com estudos tudo o que digo nos meus textos, então escrever sem internet acaba me bloqueando mais do que me deixando produtivo.

Qual é o livro que mais mudou a sua vida e por quê? O que você considera inspirador ler ou aprender sem que lhe peçam ou esperem isso de você?

Tive muitos livros importantes na vida e é difícil elencar um específico. De cabeça cito o “Antifrágil” de Nassim Nicholas Taleb. Li este livro em 2013 e desde então influenciou a forma como penso sobre o mundo, tomo minhas decisões e faço meus planejamentos. É um livro que eu dificilmente passo um dia sem reler um trecho ou citar alguma ideia para alguém. Já reli incontáveis vezes.

Eu sou um estudante compulsivo, se descubro um traço de conhecimento em algum lugar eu tendo a ir puxando essa linha inteira para ver onde vai dar. Faço isso com basicamente tudo que tenho contato, desde exercícios físicos, ciências e filosofia. Atualmente tem sido gratificante e inspirador estudar psicologia, ler livros importantes e acompanhar experimentos sobre o assunto. Entender como a mente humana funciona, quais são suas falhas e onde estão nossos limites ajuda bastante a ser mais tolerante, compreender erros e cometer menos injustiças.

Que conselho você queria ter ouvido aos vinte anos? Com o que você sabe hoje, se tivesse que começar novamente, o que você faria de diferente?

Eu diria para arriscar um pouco mais e ser menos cabeça dura. Sempre fui meio rígido com ideias e me recusava a aceitar visses novas do mundo, demorei muito até me tornar mais maleável e criar uma sensibilidade para absorver diferenças e mudar comportamentos nocivos.

Para recomeçar eu teria sido um pouco mais teimoso e ouvido menos algumas críticas. Ao longo da vida deixei de fazer muitas coisas por não saber filtrar críticas infundadas de conselhos produtivos, me sabotei muito com tudo isso.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Eu tenho vontade de construir um grande projeto educacional, um modelo de educação que não encontramos hoje, onde as pessoas têm liberdade para serem criativas, experimentar diferentes áreas e quebrar as barreiras que só existem nos papéis de matrícula.

Queria muito um modelo de ensino multidisciplinar baseado em interesses e na oportunidade de experimentar um pouco de tudo, mas sem a pressão de pontuar em testes padronizados e premiar.

Não acho que existe muita coisa nova que não tenha sido escrita. Tudo o que produzimos hoje é uma releitura de ideias que já estão aí faz muito muito tempo. Acredito que o único livro que gostaria de ler e não foi escrito é o livro da minha vida, mas talvez quando ele for escrito eu já não possa mais ler.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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